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Imaturidade perene

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Ainda meio deprimido com o resultado da eleição, abri a internet ontem e dei de cara com esta notícia, dando conta que uma professora de educação física de Nova York, no frescor de seus 24 anos, foi presa e processada por estupro de menor, um jovem de 16 anos, com quem ela teria mantido um relacionamento (sexual) durante quatro meses.

Não sei quanto a você, caro leitor, mas, no meu tempo, e lá se vão quarenta anos, esse garoto seria merecedor de um grande troféu, além da inveja da maioria dos amigos e colegas.  Afinal, pouquíssimos de nós conseguiria “pegar” uma beldade como a da foto acima e, muito menos, ficar com ela por quatro meses.   Definitivamente, é triste constatar que os nossos bravos “heróis” do passado transformaram-se irremediavelmente em vítimas indefesas, incapazes de se defender da volúpia de mulheres atrevidas.  Durma-se com um barulho desses…

Infelizmente, a cultura moderna tem logrado isolar completamente os jovens, criando uma espécie de “mundinho teen” que os torna eternas crianças indefesas, sem liberdade, sem iniciativa e, consequentemente, sem responsabilidades. Colocamos nossos jovens na escola e os deixamos lá, convivendo quase exclusivamente com garotos da mesma idade, até que já se tenham tornado, muitas vezes, senhores de meia idade.  Além disso, os proibimos de trabalhar até que atinjam a famigerada maioridade jurídica – algumas famílias estendem esse prazo até que eles se formem na universidade. Por fim, sempre que eles fazem algo considerado errado ou impróprio (politicamente incorreto?), acha-se um adulto para assumir a culpa, tornando-os, de certa maneira, totalmente incapazes de responder pelos próprios atos – no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a prova cabal disso.

No passado, nem tão distante assim, os jovens eram integrados ao mundo adulto tão logo mostravam-se minimamente capazes, sem que ninguém percebesse neles qualquer sinal de trauma físico ou psicológico.  Salvo melhor juízo, a maioria das culturas antigas não tinha sequer uma palavra para designar a adolescência.  A cultura moderna não apenas criou esta nova fase da vida, como a declarou inevitável, complicada, perigosa e altamente lucrativa (nada contra, por favor!).

Quando eu era jovem, meus filmes favoritos eram 007, Drácula, os que contavam histórias das grandes guerras e, last but not least, os faroestes. Quase todos eram filmes feitos para o público adulto ou, pelo menos, para todas as idades. É difícil lembrar de qualquer produção “teen” de que eu gostasse. A coisa mais próxima que me vem à mente é “A Noviça Rebelde”, embora esse não fosse um dos meus favoritos.  Atualmente, Hollywood produz uma quantidade imensa de películas voltadas exclusivamente para os ditos adolescentes, tipo Harry Porter ET caterva.

Saiamos do cinema e falemos de literatura. Quase todas as grandes livrarias (inclusive as virtuais), têm hoje espaços imensos destinados a essas estrovengas pseudo-literárias consumidas por adolescentes. São corredores inteiros de estantes repletas de obras (?!) escritas e voltadas para o público “teen”. Quando garoto, até por imposição da escola, costumávamos ler, entre outros, Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Lima Barreto, Hemingway, Asimov, Dostoiévski, Shakespeare, George Orwell, Swiftt, Agatha Christie…  Consumir literatura adulta jamais matou ninguém ou causou traumas, muito pelo contrário.  O grande filósofo escocês David Hume, por exemplo, publicou sua primeira obra (o famoso “Tratado Sobre a Natureza Humana”) aos vinte e poucos anos, depois de passar parte da infância e toda a juventude “devorando” tudo que havia sobre filosofia, inclusive os clássicos gregos, romanos e medievais.

A verdade é que a cultura moderna – ou pelo menos a cultura ocidental – vem, paulatinamente, alongando indefinidamente a juventude. Antes que me acusem de paranoico, não acho que exista uma conspiração e não sei o que exatamente estaria por trás disso, embora tenha minhas desconfianças.  Não tenho dúvidas, entretanto, de que estamos negando aos nossos jovens muitas experiências necessárias ao pleno desenvolvimento do ser humano, bem como o exercício tempestivo de algumas virtudes essenciais, vale dizer: independência, responsabilidade, produtividade, integridade e assim por diante.

O resultado disso é que meninos e meninas têm despertado cada vez mais tarde para a maturidade, embora, paradoxalmente, as modernas tecnologias estejam despertando neles o instinto sexual cada vez mais cedo.  Quais serão as conseqüências concretas dessa anomalia cultural? Não sei. Mas pressinto que não serão nada boas.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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