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Voltando ao assunto Bolsa-Atleta

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BERNARDO SANTORO*

Medalha LataHá algum tempo atrás eu escrevi sobre uma modalidade do Bolsa Atleta chamada “Bolsa Pódio“. Hoje volto o assunto porque o governo federal contemplou mais 860 atletas com o Bolsa Atleta.

Um governo é sempre limitado por um elemento da economia chamado escassez. Desejos humanos são infinitos e recursos da natureza não são. Recursos públicos, então, são mais finitos ainda, a ponto de se ter toda uma teoria jurídica sobre o tema (o princípio da reserva do possível).

Por isso, governos devem fazer escolhas a partir de prioridades públicas, já que dinheiro empregado em um setor significa dinheiro não usado em outro setor. O liberalismo clássico defende que o único setor que deve receber dinheiro público é a segurança, pois é o único setor que todas as pessoas possuem interesse em ver funcionando em qualquer época da vida. O neoliberalismo ou social-liberalismo, dentro do mesmo raciocínio, estende as competências estatais a saúde e educação, não mais do que isso, e ainda assim empregando-se instrumentos de mercado para a promoção desses fins (sistema de vales).

ronaldocopahospitalInvestimento em esporte, em especial investimento em esporte profissional, certamente não é uma prioridade de estado. A prática amadora de esportes é muito boa para os cidadãos e deve sempre ser encorajada, de forma que pessoas vivam de maneira mais saudável, e saúde é uma prioridade, mas investimento estatal em esportes importa em não investimento na área hospitalar propriamente dita. Quando Ronaldo soltou a clássica frase ao lado, mostrou que possui plena percepção da escassez de recursos públicos. Para ele, estádios são mais importantes que hospitais. Para a população, já não sei dizer. Certo é que fazer estádio não é, em nenhuma hipótese, função de estado.

Nadadora Rebeca Gusmão passando mal após prova
Nadadora Rebeca Gusmão passando mal após prova

E não custa lembrar que o esporte profissional, que é a destinação final do Bolsa Atleta, tem muito pouco a ver com saúde e muito a ver com resultados. Em esportes de contato mais firme, como o Futebol Americano, os atletas tem grande incidência de problemas cerebrais. A maioria dos atletas sempre jogam com alguma dor, e dor é um sinal de que o corpo não está bem, o que significa que atletas estão doentes 100% do tempo.

Lance Armstrong era um herói internacional da luta contra o câncer, até admitir ter se drogado para vencer.
Lance Armstrong era um herói internacional da luta contra o câncer, até admitir ter se drogado para vencer.

Pior ainda é a questão das drogas. Atletas estão sempre drogados, sejam elas drogas legais (como analgésicos para aliviar a supracitada dor), sejam elas, em muitos casos, ilegais, para aumentar a performance. Casos brasileiros como o do treinador Pedro Balikian (que dopou vários atletas antes de um mundial de atletismo) ou internacionais, como o de Ben Johnson e Lance Armstrong, apenas corroboram a visão de que o esporte profissional é um ambiente que cultiva uma cultura de drogas. Portanto, o governo federal ao apoiar o esporte profissional, está apoiando uma atividade comprometida, em larga escala, com o abuso de substâncias químicas e com a deterioração da saúde do cidadão envolvido.

Por isso, o esporte profissional, que tem totais condições de se auto-sustentar através de patrocínios, televisionamento e venda de ingressos, ou seja, através do livre-mercado, não deve receber verbas públicas. Se um determinado esporte não consegue se sustentar pelo mercado, é porque a sociedade está dando um recado, na prática, de que não gosta do referido esporte, preferindo usar seus recursos em outras práticas esportivas e de lazer. O uso do dinheiro governamental para determinados esportes que não conseguem se auto-sustentar é consequência de lobby dessas entidades organizadas e não são do interesse do brasileiro comum, servindo, ao final, como mais um caso de favorecimento pessoal e compra de votos de um segmento social.

Apenas para corroborar com essa ideia, vale a pena listar alguns esportes sem nenhum apelo no Brasil e subsidiados pelo Bolsa Atleta: esgrima (que é esporte de ricos), vela (idem), cross country (idem), hipismo (idem), tiro, nado sincronizado, canoagem, ciclismo, taekwondo,  ginástica artística, levantamento de peso, snowboard (surf na neve em país tropical?), ski alpino (outro esporte de inverno), golbol, maratona aquática, badminton e tiro com arco.

E se esses esportes pelo menos estão no circuito olímpico (de verão ou de inverno) e paraolímpico, o que ainda (mal) se justificaria como propaganda governamental, o que dizer desses esportes que também tem atletas agraciados com bolsas: bicicross, mountain bike, squash, bodyboarding, jiu jitsu, karatê, kung fu, queda-de-braço(!), power bíceps, supino, skate, muay thai, padel, levantamento de terra, musculação, bocha, handebol de praia, futevôlei, punhobol (esporte praticado apenas na Alemanha, Áustria e Brasil – por descendentes germânicos), xadrez e paraquedismo?

Crianças estão tendo piores aulas e idosos estão tendo menos hospitais pra isso? Enquanto o governo usa o esporte nacional como meio de propaganda, a verdadeira propaganda governamental, que deveria ser a boa performance em rankings de saúde e educação, não é promovida, e o país afunda nessas categorias de maneira retumbante.

E fechando esse comentário com chave-de-ouro, lembro que os resultados olímpicos do Brasil são constantemente ridículos, especialmente dado esse volume incrível de investimentos, onde mais de 7.000 atletas estão hoje mamando nas tetas do governo. Na verdade, ao invés de fechar com chave-de-ouro, queria fazê-lo com medalha-de-ouro, mas essa está em falta.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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