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Tempos Densos

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Um balanço de 2014 e as perspectivas para a sociedade brasileira, segundo Ricardo Vélez Rodriguez.*

PoliciaFederal_EchoperacionOs mais significativos desses fatos na sua desconjuntada sequência foram: a prisão dos condenados na Ação 470; a Copa do Mundo (com a derrota acachapante da seleção brasileira); as multitudinárias manifestações de repúdio à presidenta Dilma nos estádios, quando das suas raras aparições em público; a CPI da Petrobrás (esvaziada pelo Governo e que não deu em nada); a Operação “Lava Jato”, deslanchada pela Polícia Federal sob o amparo legal da Justiça; a campanha eleitoral com a onda de baixarias praticadas pelo PT, em que prevaleceu o “assassinato de reputações” dos candidatos oposicionistas; a trágica morte de Eduardo Campos e a súbita ascensão da candidata Marina Silva nas pesquisas de opinião após esse triste evento; a progressiva ocupação dos espaços ocupados por Marina, pelo candidato Aécio Neves, no final da campanha; as eleições presidenciais renhidas como nunca na história deste país (com a Justiça eleitoral fazendo corpo mole perante as denúncias contra a candidata oficial) e o clima de desconfiança que se instalou entre os eleitores em decorrência dessa ineficiência, no julgamento das ações impetradas por vários setores da sociedade contra o partido do governo.

A impressão que se tem é que o Brasil está à beira de um grande movimento de renovação social, em face do desgaste dos procedimentos e das instituições do que se convencionou em chamar de “velha política”. A rápida ascensão de Aécio no final da campanha presidencial e os 51 milhões de votos que quase o guindam ao poder, com estreitíssima margem em face da candidata vencedora, provam que a sociedade brasileira propende, hoje, pela mudança. Isso em que pese a teimosia petista em se aferrar ao poder, num esquema de governança já gasto e desacreditado.

Dizia Alexis de Tocqueville (1805-1859), em face dos acontecimentos que antecederam a revolta francesa de 1848 (que contrapôs socialistas ensandecidos, liberais e conservadores):

“As revoluções nascem espontaneamente de uma doença geral dos espíritos, induzida de repente ao estado de crise por uma circunstância fortuita que ninguém previu; quanto aos pretensos inventores ou condutores dessas revoluções, nada inventam ou conduzem; seu único mérito é o dos aventureiros que descobriram a maior parte das terras desconhecidas: atrever-se a ir sempre em linha reta, para a frente, com o vento a favor” (Lembranças de 1848, S. Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 73).

Ora, poderíamos traçar uma semelhança entre a situação francesa de meados do século XIX e a nossa: os revolucionários de plantão, no caso do Brasil, os petistas, assumiram o comando do navio sem mudar o rumo traçado inicialmente, a fim de tomar conta de todos os espaços, tendo como norte unicamente garantir a hegemonia partidária. Os bravos petralhas caminham direto, em linha reta, para o desastre.

Recente artigo deu conta dos contornos dessa tragédia anunciada no plano econômico:

“Quanto mais fundo se mergulha na Operação Lava Jato, mais cresce o risco de que ondas de choque se propaguem para além das empresas diretamente envolvidas no escândalo e atinjam outros setores da economia brasileira. Com isso, talvez não leve muito tempo até que a investigação se reflita no bolso de cada brasileiro por meio da redução da oferta de crédito” (Ana Clara Costa e Luís Lima, “O Petrolão é uma bola de neve e você está no caminho”, Veja, edição de 14/12/2014).

Diante dessa situação de crise generalizada, o que fazer? Dizia Tocqueville em 1848:

“Sempre tive por máxima que, em momentos de crise, não só é necessário estar presente na assembleia da qual se faz parte como também é preciso manter-se no lugar onde habitualmente se é visto”.

No nosso caso, em face da complexidade que nos depara este Governo que começou parecendo já estar terminando, nós, cidadãos, permaneçamos no nosso lugar, cumprindo com as responsabilidades que assumimos. Os massivos protestos que encheram as ruas das cidades brasileiras em junho de 2013 contra a corrupção e a “velha política” têm continuidade hoje na corajosa ação da Justiça contra empreiteiras e políticos da operação Lava Jato. Tempos novos virão!

*Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo /  Espaço Aberto, em 31-12-2014.
Pode ser lido na íntegra no blog do autor.
imagem: Wikipédia
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Ricardo Vélez-Rodríguez

Ricardo Vélez-Rodríguez

Membro da Academia Brasileira de Filosofia e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, professor de Filosofia, aposentado pela Universidade Federal de Juiz de Fora e ex-Ministro da Educação.

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