Somente médicos não é suficiente
MARIO GUERREIRO*
Em seu artigo: “Erramos: a população ficou contra a gente”, publicado na Folha de S. Paulo em 11/9/2013, a jornalista Cláudia Collucci comenta essa afirmação que ela ouviu do Dr. Miguel Srougi, titular de Urologia da USP.
Acho que o médico acertou quando afirma que a população ficou contra a classe médica, porque seu desejo é ter médicos.
Diz a jornalista: “Em debate na USP na semana passada, Paulo Saldiva, professor de Patologia da USP, resumiu a insatisfação numa frase. ‘Tive vergonha da minha categoria’, comentou, quando se referiu às vaias recebidas pelos cubanos ao chegarem ao Brasil”.
Essa afirmação coloca-me diante de um dilema: assumindo o pressuposto de que ambos os médicos não são corruptos, ou eles são fervorosos petistas ou tão ingênuos e desinformados quanto a Velhinha de Taubaté [Tertium non Datur].
O mencionado patologista teve motivo para se sentir envergonhado, mas não por sua categoria profissional que protestou justamente contra essa medida lesiva ao bom exercício da profissão e em desacordo com as reais necessidades da população.
Devia sentir muita vergonha do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e da “Presidenta” por terem tomado essa medida meramente oportunista e eleitoreira.
De que adianta ter “enfermeiros” cubanos e médicos brasileiros formados na Bolívia de Primevo Inmorales, isentos de fazer o Revalida e sem condições de exercer sua profissão nos precários estabelecimentos do SUS?!
A população brasileira é extremamente ignorante por achar que médico, pura e simplesmente, é condição suficiente e necessária para atender pacientes, quando o médico é apenas uma condição necessária, mas não suficiente.
Um médico contando com escassos recursos medicamentosos é como o Neymar sem bola nos pés… Que podem ambos fazer?
Segundo a OMS, o Brasil tem um número de médicos compatível com a população. O problema é que eles estão concentrados nos grandes centros urbanos e são escassos nas regiões mais pobres. Mas por que isso ocorre?
Segundo Enéas Carneiro, do PRONA, ele mesmo médico e político, é porque os médicos querem morar e trabalhar no Leblon (Rio) e nos Jardins (São Paulo) e nãoem Matão Formosoe Brejo Fundo, pra lá de onde Judas perdeu as botas.
Numa de suas campanhas, o autoritário Enéas disse que, se eleito fosse, “mandaria” os médicos para o interior, mas não procurou saber – ou ignorou por conveniência política – a verdadeira razão de os médicos não quererem ir para tais lugares.
E esta é muito simples: as precárias condições técnicas de trabalho nas unidades do SUS e ainda terem que ouvir reclamações e protestos dos pacientes, como se os culpados pelo péssimo atendimento fossem eles!
A medida tomada pelo Ministro da Saúde passa por cima desse fato público e notório. Em vez de se voltar para a melhoria das unidades do SUS, propõe fornecer médicos – e de quinta categoria! – como se estes fossem salvadores da pátria.
Essa medida é semelhante ao sistema de cotas nas universidades: em vez de melhorar as condições do ensino no primeiro e no segundo graus, tenta-se construir a casa começando pelo telhado: aprovando vestibulandos incompetentes e aviltando a meritocracia.
Essa medida demagógica tem dois alvos: dois internos e um externo.
Para o púbico interno, trata-se de apaziguar os clamores das marchas de julho e agosto e, ao mesmo tempo, preparar o caminho eleitoral de Alexandre Padilha ao Governo de São Paulo, uma vez que a Prefeitura “já está dominada” pelo insosso Haddad.
A finalidade externa é dar dinheiro para os irmãos Castro, que ficarão com quase todo o dinheiro recebido pelos médicos cubanos.
Mas fazer tal doação de uma forma palatável ao ignorante povo brasileiro, uma vez que aparentemente ela é vista como atendimento às suas reais necessidades de cuidados médicos.
Tamanha perversidade maquiavélica só podia mesmo ser feita pelo PT – um partido muito habilidoso em enganar os trouxas, até mesmo midbrows e highbrows brasileiros.
* DOUTOR EM FILOSOFIA PELA UFRJ