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Sobre o veto ao ensino de robótica e programação nas escolas

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Sobre a questão do veto presidencial ao ensino de robótica e programação nas escolas:

Eu acho que é uma questão muito mais complexa do que simplesmente ficar com “eles só querem ensinar ideologia de gênero”.

Os problemas que envolvem isto são bem mais complexos por diversos fatores, como a estrutura escolar, tecnológica, o custo, a legislação e a burocracia envolvida neste processo.

Começando no problema estrutural, temos que pensar no quanto a escola pública atual tem preparação mínima para lidar com os diferentes tipos de tecnologia.

O ensino remoto durante a pandemia já provou que a provisão tecnológica é péssima, no mínimo, e que atualmente a escola não consegue promover nem mesmo aos profissionais as tecnologias necessárias para o ensino, quem dirá aos alunos.

Mas aí vem a solução do plano de digitalização da educação, ou seja, equipar as escolas. E aí surge o novo empecilho: quanto isso custará?

Um computador considerado decente para uso hoje não é o mais barato dos equipamentos eletrônicos, e a depender do tamanho da escola, algo entre 30 e 50 computadores sejam necessários para possibilitar o ensino de uma turma inteira.

A maioria das escolas hoje já dispõe de computadores em geral, mas todos limitados em recursos com seus processadores antigos, permitindo somente acessos a plataformas de educação do próprio governo, como os programas de redação e de matemática online que são disponibilizados. Fora isto, o computador é incapaz de abrir um mero vídeo do YouTube, quem dirá lidar com os programas mais modernos de ensino de programação.

Mas, existe uma nova solução que está nas mãos de todos, o smartphone. Sim, é possível usar aplicativos de programação via smartphone, porém é necessário medir a acessibilidade ao aplicativo e até mesmo elaborar uma forma de tais aplicativos serem avaliados pelos inúmeros sistemas de avaliação que hoje as escolas dispõem por meios digitais. E desenvolver um aplicativo de uso simultâneo para sala de aula, e em todo o Brasil, é algo muito custoso. Caso fosse viabilizado, teria que ser desenvolvido ainda o aplicativo em questão.

Por último, a questão salarial. Os professores no Brasil hoje ganham, em média, o equivalente a 3,5 mil reais por mês, quando em carga horária plena (40 horas semanais). Mas o valor varia por estado. Enquanto isso, um profissional da programação é empregado, em média, com salário de 15 mil reais. O gap salarial entre as duas profissões é tão grande que isso claramente resultaria em um problema burocrático e legislativo de gigantescas proporções. Afinal, segundo a CLT, é proibida a execução de uma mesma atividade dentro da mesma empresa com salários diferentes. E por empresa, entenda-se aqui as secretarias de educação estadual.

Nestas condições, ou o governo pagaria a média de um professor para o profissional da programação, o que causaria uma baixa oferta de profissionais, ou dispararia o piso salarial dos professores a valores exorbitantes e impagáveis no orçamento atual.

O último dos problemas é o de resultados da formação. O PISA do Brasil segue estagnado desde que foi medido pela primeira vez em 2002. E pesquisas recentes mostram que a maioria dos estudantes de ensino médio sai com deficiência em matemática e português que deveriam ser o mínimo do que foi aprendido durante o período de educação.

O Brasil deve muito no resultado da alfabetização, mesmo entre quem que já deveria ter um nível médio de educação. Falta muito “feijão com arroz”.

Ensinar programação neste contexto seria apenas para vitrine de deputados e burocratas, pois os resultados seriam iguais ao da média de educação geral ao fim do ensino: deficiência no aprendizado.

Seria como pedir a um cozinheiro amador que queimou um ovo enquanto fritava para servir no restaurante 5 estrelas de Gordon Ramsey na mesma noite. Fica bom pro currículo, e péssimo na prática.

Enquanto as lacunas não forem solucionadas, a inclusão seria apenas para exibição.

* Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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