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Será que dá para crucificar o Santander?

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O recente caso envolvendo o Banco Santander, coagido pelo poder econômico do governo não apenas a demitir os autores do famigerado relatório enviado aos clientes, mas também a pedir desculpas públicas ao partido governista, mostra em cores vivas a que ponto chegaram a falta de liberdade e o abuso de autoridade no Brasil.

De tão tosco, o tal relatório teria passado despercebido do grande público, não fosse a reação estridente do governo.  Ali estava, (mal) redigido e de forma bastante sucinta, algo que o mercado em geral já estava cansado de saber: o pessimismo crescente do mercado em relação à economia brasileira e a oscilação da Bolsa de valores, especialmente dos preços das ações de empresas estatais, ao sabor das pesquisas eleitorais.  Se Dilma cai, os preços sobem e vice-versa.  Portanto, apenas a constatação do óbvio.

Poucos meses antes, por outro lado, o Deutsche Bank havia feito um alerta muito mais grave aos seus clientes, sugerindo que reduzissem a exposição em títulos da dívida pública soberana brasileira, entre outros motivos, em razão da possibilidade de reeleição de Dilma.  Segundo o analista do Banco, o preço dos títulos brasileiros “não compensa o risco de contínua deterioração dos fundamentos caracterizados por estagflação, piora no balanço de pagamentos, deterioração da qualidade fiscal, e um horizonte desafiador de política econômica antes e depois das eleições”.

Apesar da gravidade do comunicado e da crítica direta à política econômica do governo, pouca gente ouviu falar dele.  Os sabujos do petismo não saíram por aí cuspindo fogo sobre o banco alemão, nem o governo destilou sua costumeira arrogância contra seus dirigentes.  Não houve exigência de punição, demissão ou pedido de desculpas.  Por que será?  Simplesmente, porque as operações do DB no Brasil são ínfimas e pouco ou nada o governo brasileiro poderia fazer contra ele.  Não havia chantagem possível.

Já com o Santander, “o buraco era mais embaixo”.  Os investimentos desse banco no Brasil são muito grandes – é o terceiro maior banco privado do país.  Além da sempre presente ameaça de retaliação, tanto por parte de agências reguladoras quanto de autoridades fiscais, é sabido que bancos de varejo do porte do Santander costumam ter muitos clientes governamentais, sejam empresas estatais, ministérios, governos estaduais ou municipais. Imaginem, por exemplo, o prejuízo do banco com o simples cancelamento das contas de umas poucas prefeituras petistas, ou de empresas de porte como a Petrobras, além dos contratos acessórios, como folhas de pagamento e contas individuais de milhares de servidores.

Embora a aparente pusilanimidade dos dirigentes do Santander possa nos indignar e decepcionar,  não dá para crucificá-los por conta do pragmatismo de sua decisão.  Afinal, é o lucro dos acionistas que está em jogo, e é a eles que devem satisfação.  Por mais que, numa hora dessas, desejássemos que a prepotência do governo encontrasse pela frente um John Galt, disposto a desafiá-lo em nome da liberdade, contra o intervencionismo e a arbitrariedade, o fato é que a realidade é muito diferente da ficção.  Uma coisa é protestarmos vigorosamente porque o governo ultrapassou os limites da razoabilidade, exorbitou do seu papel, agiu como um censor, outra é pretender que os CEOs de um grande banco tomem decisões contrárias aos interesses dos acionistas.  Não é assim que a banda toca.

A atitude do banco, por mais que não gostemos dela, era previsível e esperada.  Trata-se de mero sintoma de uma doença cuja causa está no crescente depósito de poder e recursos nas mãos dos governos, que pouco a pouco passaram a controlar tudo e todos.  Esse é o principal problema a ser combatido pelos amantes da liberdade.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

2 comentários em “Será que dá para crucificar o Santander?

  • Avatar
    12/08/2014 em 9:54 pm
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    Também achei que a degola foi subserviência demais.
    Senhores, este é o Brasil dominado autoritariamente por um partido que não tem escrúpulo. Imaginem se isso fosse no período do regime militar? Lulas, Dilmas e outras figuraças cuspiriam fogo para todos os lados.

    Circula na internet: REPASSO…
    Exclusivo – O executivo Octávio Florisbal será substituído da Direção-Geral da Rede Globo porque cansou de suportar as pressões diretas e indiretas do governo, sempre que o jornalismo da emissora detonava matérias negativas contra os esquemas petralhas e de seus aliados. Alegando que a maior rede de televisão do País não pode aceitar se submeter à censura, Florisbal pediu aos irmãos Roberto Irineu e João Roberto Marinho para sair do cargo que será ocupado por alguém com sangue mais frio para suportar tentativas constantes de ingerências políticas: o jornalista Carlos Henrique Schroder – atual diretor-geral de Jornalismo e Esportes.

    A versão de que a família Marinho preferiu se blindar contra as armações político-econômicas dos petralhas no poder vazou entre conversas de lobistas que trabalham para importantes afiliadas da Rede Globo. Os irmãos Marinho aceitaram a troca de Florisbal por Schroder porque as pressões sobre a Globo aumentaram, de forma insuportável, depois que o julgamento do Mensalão no STF ganhou os impensáveis desfechos de condenação para os principais réus políticos.

    Dirigentes globais foram “desaconselhados” por “emissários do governo” a não tentarem uma entrevista exclusiva com o publicitário Marcos Valério. Muito menos a Globo deveria cogitar de comprar e veicular o conteúdo das tais quatro bombásticas fitas que Valério teria mandado um famoso cineasta gravar e editar para comprometer o ex-presidente Lula da Silva e a cúpula do PT com os mafiosos esquemas do Mensalão. O comando das Orgnizações Globo preferiu acreditar nas ameaças e anunciou, depressa, a programada e futura substituição de Florisbal por Schroder. O ex-diretor-geral – que cansou de sofrer pressões – acabou “promovido” para um cargo no novo conselho da emissora, cujos sócios são os herdeiros do falecido Roberto Marinho.

    Bronca maior – Além de neutralizar a televisão Globo, a máquina de censura petralha gostaria muito de atingir três jornalistas que operam a contra-ofensiva da família Marinho no jornal O Globo. Merval Pereira, Ricardo Noblat e Miriam Leitão – que publicam artigos mais contundentes contra os esquemas mafiosos no governo federal – são os alvos preferenciais da petralhada. Se a pressão sobre os controladores da Globo aumentar e se tornar insuportável, pode sobrar alguma malvadeza contra um dos três.

  • Avatar
    12/08/2014 em 1:06 am
    Permalink

    O “sinto muito” do Banco até dá para entender, pelas razões que você muito bem expôs. Mas a degola não. Aí já é subserviência demais.

Fechado para comentários.

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