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Se Temer ficar, a probabilidade de aprovar as reformas diminui ou aumenta?

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Muita gente está defendendo a permanência de Temer e até diminuindo o que as gravações revelam, ignorando que um presidente foi pego confabulando com um réu da Justiça na surdina de forma absolutamente anti-republicana.

Entendo os motivos, de verdade. Essas pessoas temem um golpe da esquerda, que já está toda assanhada falando em “diretas já”, o que é anticonstitucional. Acham que tudo é uma armação da JBS e do PT, com o apoio de parte da grande mídia.

Pode até ser. Mas já disse antes e repito: o argumento econômico, ainda que forte, não deveria ser o predominante, ao menos não se quisermos evitar agir como a própria esquerda, que rasga todos os princípios em prol de seu projeto de poder. Na construção de instituições sólidas não há espaço para tanto “pragmatismo” amoral.

Adolfo Sachsida, por exemplo, reforçou a mensagem que eu também já havia dado aqui no blog:

Por algum motivo que não compreendo tem gente dizendo que as gravações não são tão sérias…. vocês estão loucos??? As gravações mostram um presidente recebendo, fora da agenda oficial e na surdina, um investigado em diversos inquéritos policiais. Não bastasse isso o sujeito informa ao presidente que está subornando juízes federais e o presidente fica calado!!!! Renuncia já!!!

Mas há outro ponto importante: mesmo do ponto de vista pragmático-econômico, acho que estão errados aqueles que defendem a permanência de Temer. Um “pato manco” tentando fazer de tudo para apenas sobreviver e se proteger com o foro privilegiado será um prato cheio para os abutres de plantão. E, convenhamos: Temer já era fraco, e estava cedendo demais nas reformas necessárias. É o que Taiguara Fernandes de Souza aponta:

Tenho lido muita gente favorável à permanência de Michel Temer como uma “mal menor” para a economia do país. O argumento que mais vejo é a necessidade de que as reformas continuem — uma interrupção de mandato de Temer interromperia as reformas.

Bem, a meu ver, qualquer reforma já morreu desde ante-ontem. Temer, com a faca no pescoço, estará muito mais sujeito às chantagens daqueles que têm o poder de retirá-lo do cargo; ele já cedia antes às pressões de deputados rebeldes e agora cederá ainda mais. Enfraquecido, será sugado de todos os lados e, pior, só estará preocupado com a sua defesa e sobrevivência.

O cenário anterior já era complicado para qualquer reforma, mas agora será de inviabilidade. Sinceramente, eu não vejo em que a permanência dele ajude, senão para manter os sanguessugas e fomentar o seu crescimento.

O excelente Editorial de hoje do Jornal Gazeta do Povo, cujo link coloco nos comentários, trata desse ponto, o qual tenho visto muitos ignorarem.

Eis um longo trecho final do editorial que ele menciona:

Temer não está apenas enfraquecido politicamente; ele perdeu a legitimidade e as condições morais de permanecer na Presidência da República. A renúncia, neste cenário, é a melhor saída para o país, e que Temer tenha a oportunidade de se defender das acusações contra ele sem que nesse processo arraste consigo o Brasil, ao contrário do que fez Dilma Rousseff mesmo depois que seus crimes de responsabilidade ficaram evidentes além de qualquer dúvida. Se Temer insistir em ficar no cargo, sofrerá o lento e inevitável desgaste dos processos de impeachment ou da cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral, ainda que caiba recurso dessa decisão.

E as reformas?, perguntarão muitos. Por mais necessárias que elas sejam, é ingenuidade achar que Temer seja capaz de levá-las adiante enquanto sangra lentamente no Planalto. O exemplo de Dilma precisa ser invocado mais uma vez: ocupada única e exclusivamente com sua defesa, ela deixou o Brasil escorregar ainda mais fundo na recessão. Antes de explodir a delação da JBS, Temer já vinha precisando usar nomeações para cargos comissionados e afagar prefeitos para influenciar parlamentares. Agora, o presidente seria presa fácil nas mãos de deputados e senadores. As reformas correriam sério risco de serem totalmente desfiguradas ou simplesmente rejeitadas.

Todos sabemos da importância das reformas e do papel de Michel Temer em ter tido a coragem de colocá-las em pauta. Mas a prioridade, agora, é a solução da crise política dento dos caminhos institucionais e da fidelidade incondicional à Constituição. Não esperaríamos nem mesmo que um futuro presidente escolhido por eleição indireta resolvesse levar adiante as reformas – se isso ocorresse, seria um bônus surpreendente, dada a tendência do Congresso atual a amenizar o conteúdo das propostas de Temer. No entanto, também há microrreformas mais unânimes sendo conduzidas pela atual equipe econômica, cuja manutenção seria mais que bem-vinda. De qualquer forma, o mais provável é que, até o fim de 2018, o país tenha de esperar a passagem da turbulência com os cintos de segurança afivelados – se as reformas não sairão no futuro próximo, que pelo menos não voltemos ao caos da recessão.

Estou de acordo com essa análise. A situação de Temer, como já disse antes, ficou insustentável. E sua permanência a todo custo, na marra, irá apenas prejudicar não só a narrativa da direita, que deve combater todos os corruptos, como até mesmo as reformas de que o Brasil precisa para avançar. Há coisas estranhas no modo como tudo isso aconteceu, não resta dúvidas. Mas nem por isso podemos fingir que não aconteceu, seja a conversa inaceitável, seja seu conteúdo ainda pior revelado. Temer deve sair.

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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Presidente do Conselho do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium (IMIL). Rodrigo Constantino atua no setor financeiro desde 1997. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), com MBA de Finanças pelo IBMEC. Constantino foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros como os jornais “Valor Econômico” e “O Globo”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade, realizado em 2009. Tem vários livros publicados, entre eles: "Privatize Já!" e "Esquerda Caviar".

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