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Nem Diretas Já, nem inocentar Temer

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Forço-me hoje a discordar de uma quantidade considerável de minhas amizades e meus interlocutores, particularmente alguns que, como eu, se esforçam por embasar suas posições em uma atitude de liberalismo e/ou conservadorismo saudáveis. Paciência. Digo e repito o que proclama a minha consciência.

Primeiro ponto: não dá para inocentar o presidente Michel Temer. Pedi sua renúncia, antes de ter ouvido diretamente os áudios chancelados pelos investigadores e procuradores da Lava Jato e divulgados pelo colunista de O Globo, Lauro Jardim. Depois de tê-los ouvido, mantenho a minha posição – apesar de não necessariamente pelo mesmo motivo de antes. É verdade que a ordem para pagar Eduardo Cunha não está tão explícita quanto havia sido alardeado. No entanto, permanece demandando dose elevada de credulidade entender que as expressões de Joesley, o dono da JBS, fazendo referência a coisas como “ele (Cunha) foi firme em cima, veio, cobrou, acelerei”, seguidas depois do já popular “tem que manter isso aí” de Temer, signifiquem apenas algum tipo de “amizade colorida”.

O pior, de fato, porém, vem do que segue, quando Joesley fala explicitamente, em conversa gravada em março – lembro aos navegantes que estamos em maio – que tem juízes e investigadores a seu favor, “segurando” processos e entregando informações, para um presidente da República que anui como se a conversa mais antirrepublicana fosse da maior naturalidade. É vergonhoso e inaceitável que um chefe de Governo e de Estado, desnudado aos olhos da nação praticando essa inércia, permaneça à testa de um país. “Ah, Lucas, não estamos na Coreia do Sul, aqui tem que aceitar certas coisas”. Sim, é verdade, nem estaremos jamais se não exigirmos isso e elevarmos nossos padrões.

Soma-se a isso a gravidade da abertura de um processo contra um presidente em exercício no STF, os recursos rastreados no caso de pagamento de propina e aquilo que, segundo o conhecido editor da Época, Diego Escosteguy, em seu Twitter, ainda está para ser revelado. Acrescento a sugestiva entrada de Joesley, um investigado pela Justiça no maior escândalo de corrupção do planeta, pela garagem do Jaburu, como que a tentar fazer sua conversa torpe com o presidente passar em segredo.

Alguma dose de exagero, talvez; se vejo um “golpe” para “desviar atenções” do PT e prejudicar Temer? Mesmo que fosse a intenção, fatos são fatos. Não vamos fazer como nossos oponentes que minimizam as evidências a partir do instrumento pelo qual elas vêm. Não nos afobemos em atacar a Lava Jato como eles fazem antes de termos ciência de todo o quadro. Podemos fazer melhor que eles, é no que acredito; sem utilitarismos, mantendo nossos princípios.

De outro lado, porém, é importante deixar claro que o deputado Jair Bolsonaro tem razão e o senador Ronaldo Caiado está errado: não devemos ir às ruas junto aos petistas, psolistas, CUT e quejandos, não devemos clamar junto com eles por Diretas Já. Alterar a Constituição por casuísmo é um péssimo exemplo, tanto quanto proteger presidentes imorais. Mais do que isso: por trás dessa “nobre intenção”, há o desejo de antecipar uma possível eleição de Lula e permitir à extrema esquerda lulopetista um desesperado “reassumir” das rédeas da máquina.

Os esquerdistas querem agora, como sempre fazem, se apresentar como a salvação da lavoura, os baluartes da ética contra o “golpe” de 2016. O “golpe” contra o qual bradam respeitou a Constituição; o que querem perpetrar agora, ao contrário, a desafia e afronta, no que denuncia o quanto são paradoxais. Não podem, além do mais, posar de inocentes; qualquer malfeito do PMDB no grande escândalo que nos assaltou financeira e moralmente contou com a sua ordenação central, com o seu comando, e prolongou o seu projeto de poder. Mais: aguarda-se para já a continuidade das mesmas delações da JBS que implicam Temer e, ainda mais, o senador Aécio Neves (de postura francamente mafiosa, do ponto de vista moral, em sua retórica nas gravações), segundo a colunista do Estadão, Eliane Cantanhêde, atingindo “mortalmente” Lula e Dilma, além de Serra e Renan Calheiros.

Cobremos que a justiça avance e seja aplicada. Não protejamos políticos culpados, nem desfiguremos a lei para propósitos utilitaristas e perigosos. Façamos apenas o certo.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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