Recursos públicos na educação
BERNARDO SANTORO*
Hoje recebemos interessantes comentários, não aprovados, de pessoas contra um texto publicado aqui anteriormente em que um autor demonstrava que a educação privada paulista era mais barata que a educação pública, e que o sistema de vouchers seria, portanto, uma boa solução.
Hoje, no Estadão, tivemos a notícia de que a USP, a suposta melhor universidade do Brasil, gasta quase 100% dos recursos com funcionários, e tem rodado em sucessivos déficits.
Essas duas questões estão interligadas. A USP, que tem um financiamento assegurado de 5,029% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Estado de São Paulo (o mais rico do país), gasta tudo o que tem com o seu quadro de funcionários, e praticamente nada com o resto. Estamos falando aqui de mais de 3 bilhões e meio de reais por ano.
Já Harvard, com toda a produção acadêmica, times esportivos semi-profissionais e laboratórios caríssimos, tem uma receita anual equivalente a pouco mais de 7 bilhões de reais anuais.
Guardadas as devidas proporções, não há como a estrutura da USP ser tão atrasada em relação a Harvard, mas é.
E isso se dá porque o problema não está na quantia de dinheiro, mas em outras questões, como liberdade acadêmica, gestão privada responsável visando lucro, falta de estabilidade do quadro de funcionários, e daí por diante.
Falta de dinheiro não resolve o problema dos péssimos incentivos do serviço público, apenas os agrava.
Vouchers são uma forma de tentar contornar esses problemas, e podem até criar outros menores. Não é uma fórmula mágica. Mas pode adicionar elementos de mercado na prestação desse serviço dito “público”.
Enquanto a administração educacional for voltada para a política e com estrutura pública, pode se jogar todo o dinheiro do mundo nesse ralo, que nada vai melhorar.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL