PT vai ignorar o discurso de “foi golpe” de olho em 2018
Após o impeachment, o Partido dos Trabalhadores poderia ter buscado uma reestruturação interna, reconhecendo seus erros – que levaram o país à maior recessão de sua história e mais de 14 milhões de brasileiros ao desemprego.
O PT, no entanto, se mostrou incapaz de qualquer autocrítica. O diretório nacional do partido manteve o discurso de que houve um rompimento da ordem democrática por meio de “um golpe parlamentar”, e de que se rasgou a constituição. A saída pela porta dos fundos do Palácio do Planalto se deu, segundo os petistas, em um movimento da mídia com o “Grande Capital”, impulsionada pela Operação Lava Jato.
As diretrizes dos últimos 2 anos, no entanto, estão prestes a entrar em colisão com seus movimentos em busca de disputar a cadeira presidencial em 2018. Dessa forma, Luís Inácio Lula da Silva e seu partido se preparam para fazer uma “escolha de Sofia” de olho em 2018:
- Manter o discurso de que “foi golpe”, fazer aliança apenas com partidos que se posicionaram contrários ao impeachment e ter uma campanha institucionalmente fraca; ou
- Ignorar a narrativa construída, trair sua militância e reatar com o establishment político brasileiro em busca de alianças que garantam uma campanha forte para 2018.
A primeira opção limitaria o PT a fazer aliança tão somente com PC do B e o PDT, sendo que estes partidos indicam interesse em lançar Manuela D’Avila e Ciro Gomes ao pleito presidencial. Com poucos cabos eleitorais locais (prefeitos), além de menos tempo de rádio e TV, inevitavelmente esse caminho levaria a uma campanha nacional institucionalmente fraca.
A alternativa, porém, fará Lula se apresentar como um político acordado com o establishment. Isso o fará perder, em parte, a identidade de um político de esquerda perante seus apoiadores e simpatizantes, que abraçaram o discurso de que houve um golpe parlamentar e que o impeachment de Dilma “rasgou a constituição”.
Há vários indicativos de que o PT vai ignorar o discurso de “golpe”, adotando a segunda opção, a ver:
- Nas eleições municipais de 2016, o partido se coligou com o PMDB em 1162 municípios; logo, isso deve se repetir em vários estados em 2018;
- Desde fevereiro deste ano, Lula já tem defendido que é preciso “superar o discurso de golpe”;
- Nomes próximos ao ex-presidente, como o ex-prefeito de São Bernardo dos Campos, Luiz Marinho, defendeu que o PT deve seguir em frente e permitir alianças mesmo com legendas que apoiaram o impeachment;
- O PT já ensaia aproximação com outros partidos. O PSB, hoje rompido com o atual governo, e o PDT são os primeiros alvos:enquanto os presidentes do PT e PSB se encontraram oficialmente recentemente, Ciro Gomes almoçou e foi elogiado publicamente por Jaques Wagner esta semana;
- Ademais, há negociações em andamento entre o PT e partidos que apoiaram o impeachment em, ao menos, seis estados – a mais notável com o senador Renan Calheiros, que votou favoravelmente à saída de Rousseff do Planalto.
Portanto, há uma preparação do anúncio que deve vir no início de 2018. Se nos anos 1990 Lula dizia que, para chegar à Presidência, Brizola seria capaz de “pisar no pescoço da própria mãe”, o PT pisará em sua própria militância em busca de retomar seu poder em 2018. Lamentável que massa de manobra não aprende nunca.