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Por que “ingressos sociais” abasteciam esquema de cambismo?

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ingressosocialImagine que você, caro leitor, é um trabalhador conhecido como “peão de obra” (quem sabe tem até algum lendo esse texto?), ganhando cerca de R$ 2.000,00 mensais (isso falando de Rio de Janeiro, pois em outros lugares o salário é menor). Você é contratado para as obras do Maracanã e ele fica pronto cerca de 9 (nove) meses antes do mundial. Você agora fica aguardando ser chamado para outra obra pública qualquer, mas dado que o setor de obras públicas nunca para, você tem alguma estabilidade no emprego, embora não receba um salário muito alto.

Chega a Presidência da República e obriga a FIFA a conceder “ingressos sociais”, eufemismo para ingressos gratuitos para jogos da Copa, como bônus pela sua participação como operário da obra em questão. Outros “ingressos sociais” são distribuídos entre comunidades carentes cuja renda familiar não ultrapassa os R$ 1.500,00 mensais.

Por outro lado, há uma chuva de estrangeiros chegando ao Brasil, com grande quantidade de dinheiro, seja em dólar ou euro. Muitos deles não têm ingressos para os jogos que eles querem ver e há escassez de lugares dentro do estádio de futebol. Eles estão dispostos a pagar até R$ 6.000,00 por ingresso do jogo de sua seleção. Caso você seja um operário que ganha R$ 2.000,00, isso significa o equivalente a três meses do seu salário. Caso você seja um chefe de família que ganhar R$ 1.500,00, isso significa o equivalente a quatro meses de sustento da sua família, ou mesmo a realização de um sonho, como a compra de um carro popular com 12 a 15 anos de uso.

Sério, o que os governantes acharam que iria acontecer? Que essas pessoas perderiam a chance de comprar eletroeletrônicos, motos ou carros, ou mesmo sustentar a família com mais conforto, para ir a um jogo de futebol? Realmente surpreende alguém a notícias de que esses “ingressos sociais” seriam usados por pobres?

Em 13/05 eu postei um artigo aqui em defesa do “cambista-bombeiro” exposto no “Fantástico” daquela semana, pois todo cambista tem uma função social muito importante: a de funcionar como ponte para organização da oferta e demanda de determinado produto ou serviço. Esse mesmo argumento foi muito bem apresentado por João Mauad, em 02/06, e Wagner Vargas, em 15/07, ambos neste blog.

Relembrando o que escrevi anteriormente:

Em um livre-mercado a venda desses ingressos deve ser feita de forma que, em curto prazo, se chegue a um preço de equilíbrio onde o ofertante consiga vender pelo preço mais alto possível a totalidade dos ingressos, lucrando com o empreendimento. Com isso, o realizador do espetáculo é quem lucraria com essa venda.

Quando grupos de pressão, seja por que motivo for, interferem na lei de oferta e demanda obrigando o ofertante a baixar o preço, o que ocorre naturalmente é uma venda muito rápida desse bem ou serviço, esgotando-o quase que instantaneamente. Cria-se, na verdade, uma escassez artificial pelo controle de preço.

Mas o mercado não é uma entidade autônoma com vontade própria, e sim um processo que reflete as vontades de todas as pessoas em uma sociedade, de acordo com a utilidade que cada cidadão vê ao bem ou serviço disponibilizado.

No mercado de ingressos temos muitas pessoas dispostas a pagar muito dinheiro por determinados ingressos, e é natural que tais pessoas passem a procurar os compradores originais e façam ofertas por esses ingressos. O cambista é um facilitador que ganha um lucro no processo de compra e venda ao unir as duas partes interessadas no negócio, tal como é um vendedor de carros ou um corretor de imóveis.

O fato é que um cambista só pode existir em um mercado em que houve um erro de avaliação acerca do verdadeiro preço de mercado de um determinado bem. Se o preço de mercado de um ingresso é de 10 mil reais e é vendido originalmente a 500 reais, obviamente que se estará fomentando a criação de um mercado para unir o comprador disposto a pagar os 10 mil com o vendedor disposto a abrir mão desse ingresso por tal quantia.

O mercado é invencível e inexorável. Ele sempre, no final das contas, vai corrigir a alocação de bens e serviços a partir da preferência pessoal de produtores e consumidores. A dúvida sempre se dará no tocante a qual será o custo de transação para que o mercado funcione. Em mercados obstruídos, como foi o caso do mercado de ingressos para a Copa, os custos de transação ficam muito altos, beneficiando justamente quem faz essa transação, ou seja, os cambistas. Em um verdadeiro livre-mercado, os custos de transação tendem a ser muito baixos, e nesse caso haveria pouco espaço para o cambismo.

No entanto, continuamos com a política burra de criminalizar o cambismo, aumentando a interferência estatal no mercado, ao invés de atacar a fonte dos problemas, que é a interferência estatal em si. O máximo que isso vai gerar são cambistas cobrando mais caro por conta do aumento do custo de transação.

Mais um pouco de intervenção estatal e o cambismo será tão lucrativo que até eu vou embarcar nessa atividade.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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