fbpx

O que Denise Frossard ensina sobre a política simbólica

Print Friendly, PDF & Email

Na política, o simbolismo desempenha um papel fundamental na formação da imagem em identidade de movimentos, partidos e políticos. O apelo emocional, a retórica inspiradora e a promessa de mudanças profundas podem cativar os eleitores e conquistar sua confiança. No entanto, é crucial compreender que a política simbólica por si só não é suficiente para garantir o sucesso e a efetividade do mandato. A aprovação de projetos de lei, a entrega de emendas e a alocação de orçamentos, e a formulação de políticas públicas tangíveis são ações igualmente essenciais para concretizar as promessas feitas durante a campanha. Representar valores sem entregar resultados não é suficiente para promover mudanças no sistema e representar os valores da política simbólica.

Um exemplo notável dessa dinâmica é a trajetória política de Denise Frossard, uma juíza aposentada e política brasileira conhecida por seu forte simbolismo político, principalmente no combate à corrupção e ao crime organizado do Rio de Janeiro. Sua imagem como uma figura firme na luta contra esses males, em especial os bicheiros, como Castor de Andrade no Rio de Janeiro em 1993, o que a tornou uma proeminente candidata disputada por diversos partidos para concorrer a um cargo eletivo.

Ao ingressar no cenário político, filiou-se ao PPS, Denise Frossard carregava consigo a expectativa de que sua atuação seria marcada por um combate efetivo à corrupção e pela promoção da segurança pública. Todavia, concorreu somente cinco anos após seu auge na exposição pela imprensa, e acabou escolhendo um passo maior do que as pernas: a disputa pelo Senado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro. O vitorioso foi o ex-prefeito Saturnino Braga (PSB), com 38,10% dos votos válidos, seguido pelo economista e então deputado federal Roberto Campos (PPB), com 33,07%, o ex-governador Moreira Franco (PMDB), que obteve 14,78%, e, somente então, Frossard, com 10,30% dos votos válidos.

Concorreu novamente somente em 2002, quase 10 anos após ter protagonizado a prisão dos bicheiros cariocas, agora pelo PSDB. Mesmo assim, seu simbolismo foi forte suficiente para lhe garantir a eleição para deputada federal como a candidata mais votada. O ponto alto de seu mandato foi sua participação na CPI dos Correios, que deflagrou o escândalo do Mensalão, destacando-se ao longo das audiências.

No entanto, seu mandato acabou tendo vida curta e pouco sucesso, e a razão para isso está intimamente ligada à sua dificuldade em equilibrar a política simbólica com a política material.

Novamente, errou na escolha de seus passos políticos ao lançar-se em uma disputa eleitoral. Em 2006, já filiada ao PPS, disputou para o governo do Rio de Janeiro, alcançando o segundo turno, mas perdendo para Sérgio Cabral Filho, que à venceu com 68% dos votos contra 32,00%. Ironicamente, Cabral tornou-se símbolo de corrupção ao ser condenado a mais de 400 anos de prisão.

A política simbólica pode estabelecer um panorama inspirador e estimulante para a população, mas é na política material que os resultados concretos devem ser entregues. O trabalho legislativo, a elaboração de projetos de lei e a formulação de políticas públicas são as ferramentas que transformam promessas em ações efetivas que beneficiam a sociedade.

Denise Frossard, apesar de sua força simbólica, não conseguiu traduzir seus ideais em ações práticas. Faltaram-lhe a habilidade política para angariar apoio e a efetividade para aprovar suas propostas no âmbito legislativo, bem como escolher as disputas eleitorais corretas. A ausência de resultados concretos enfraqueceu sua posição política e minou o apoio que havia conquistado inicialmente. Nunca mais disputou cargos eletivos.

Essa trajetória mostra que a política simbólica, por mais impactante que seja, não pode ser encarada como um fim em si mesma. Ela é apenas o começo de um compromisso com a sociedade. Os eleitores têm o direito de exigir a transformação de promessas em ações concretas e efetivas.

No entanto, a experiência de Denise Frossard também ensina que a política material não deve ser um mero cumprimento de promessas vazias. Ela precisa estar alinhada com os valores e ideais apresentados durante a campanha, a fim de que a política não se torne apenas uma busca por resultados imediatos, mas sim uma construção sólida e consistente para o bem comum.

Movimentos políticos, partidos e políticos eleitos com forte simbolismo político estejam cientes da importância de equilibrar a política simbólica com a política material. O desafio está em traduzir a retórica inspiradora em ações concretas que tragam benefícios palpáveis para a sociedade. Política sem resultado é o mesmo que remar em um barco sem remos: muito esforço, mas sem avanços. Os eleitores não compraram outra candidatura de Frossard pelo mesmo motivo que ninguém compraria um barco sem remos.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

Pular para o conteúdo