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A sociedade do rápido e do vazio

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Não consigo precisar exatamente a década. Talvez a década do ano 2000. Como chegamos a esse estado, literalmente, oco?

Grande parte dos indivíduos pensam, comunicam e atuam de forma superficial e desimportante, seguindo básica e exclusivamente seus instintos tribais e as visões enviesadas de seus parceiros em seus grupos de pertencimento. Não há estudo, leitura, discussão séria e honesta, o contraditório e o conhecimento científico comprovado, imperando os achismos, a dissonância cognitiva, a insularidade intelectual, a banalidade e os prazeres mais imediatistas. Tudo isso parece e quer triunfar – as coisas desejadas – como a mais legítima das verdades.

Evidente que a educação e o ensino desempenham influência direta na formação individual – e coletiva -, e, no país, sabe-se, pelos comparativos internacionais, que esses são precários. No entanto, aparenta que esse fenômeno não é exclusividade tupiniquim.

Bauman cunhou a expressão “modernidade líquida” a fim de apontar a personalidade moldável das pessoas aos interesses “da hora”. Nada de errado com o caráter móvel da identidade social, desde que ela seja sustentada em pilares, digamos, sólidos. Não o é; há fragilidades e superficialidades em quase tudo, desde relacionamentos afetivos e comerciais até a formação de ideias e geração de convicções.

Não se investiga a fundo as “coisas”, as temáticas, tirando-se conclusões precipitadas – e equivocadas – a partir de sites de notícias, de manchetes de jornais, de “telefones sem fios” de compadres e de análises de jovens e de velhos jornalistas, amplamente parciais e incultos, sobre uma gama de temáticas. Enfim, o triunfo da banalidade e do absurdo que convém em detrimento do verdadeiro conhecimento e da razão.

Os indivíduos rejeitam a perda e o sofrimento e, em função disso, buscam economizar energia, operando no piloto automático dos atalhos mentais. Muitas vezes, tal comportamento é útil, porém, evidentemente que para uma série de questões complexas, o que está em nossa memória mais fresca não serve, uma vez que não passa de uma mera simplificação da verdade.

Nesse sentido, a sociedade “do algoritmo” aprofunda esse pensamento rápido e automático, instintivo, que é alimentado por sentimentos tribais de nossos companheiros nos respectivos grupos que se unem por afinidades e por interesses nas mais diversas esferas. Como há engajamento, na superficialidade e na frivolidade, embalada pelos instintos mais primitivos.

Para onde vamos? Está muito difícil o mais singelo diálogo. Todos parecem ter tantas certezas, certezas essas que não se sustentam a uma segunda indagação mais técnica e suportada pelo conhecimento, pelas experiências e por fartas evidências.

Muitos incautos se transformaram em “especialistas”, embasados nas redes sociais, de praticamente tudo.
O resultado pragmático dessa situação é que aqueles que possuem conhecimento factual de determinadas “coisas”, ou não têm vez, ou se calam, prevalecendo o achismo, a superficialidade e a burrice – burrice esta acalentada com um verniz de veracidade.

Triste, mas tal nefasto contexto não irá mudar. As instituições de ensino, que se dizem “progressistas”, enfatizam o “moderno e produtivo” método da intensificação do pensamento crítico nos estudantes, que, a partir daí, não fazem outra coisa além de pensar e de vociferar sobre mazelas e desigualdades sociais. Os “justiceiros sociais” são completamente formados com uma única e segregadora visão de mundo. Adicione-se a isso o fato de que, quanto mais chocante e diferente for a forma, melhor será o impacto, independentemente do conteúdo.

Não é necessário estudar e pensar, tudo está aí, pronto… A mídia, amplamente parcial e sensacionalista, potencializa o pensamento rápido, superficial, frívolo e banalizado. Inquestionavelmente. Já as modernas tecnologias da informação, embora benéficas em uma série de aspectos, engajam jovens e velhos em fantasias, em mentiras, em paixões e em iras.

A radiografia do momento é, para dizer o mínimo, tenebrosa. Tudo virou papo e discussão de bar. O imbróglio é que nem mais no bar, com todas as características pertinentes a esse tipo de conversa, é crível explorar alguma coisa que escape da superficialidade da casca e das certezas de pessoas que, definitivamente, pouco conhecem sobre os temas a respeito dos quais dissertam.

Construiu-se uma sociedade oca e radicalmente dividida, fundamentada numa estratégia de soma zero: de um lado aqueles poderosos que têm, e que, por definição, são inimigos de todos aqueles que não têm. Guerra certeira. Nessa tragédia sem heróis salvadores, sempre triunfarão os achismos e as sedutoras “verdades” daqueles que trivialmente sinalizam virtudes, não importando quais sejam tais virtudes.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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