Para entender a “Partição da Índia”
Em 1947, quando a colonização britânica era insustentável, a independência da Índia foi proclamada. Infelizmente, a sociedade indiana estava dividida por tensões políticas e religiosas, o que forçou a divisão do território entre a Índia propriamente dita e o Paquistão, uma nova nação de maioria muçulmana.
Essa divisão aconteceu com inúmeros atropelos e muita violência, um trauma profundo para os dois países que se faz sentir até hoje – um evento conhecido como “Partição da Índia”.
Muitas produções audiovisuais indianas ou que fazem referência à Índia e ao Paquistão (foi o caso recentemente até da série da Marvel “Ms. Marvel”) aludem à dolorosa Partição. Talvez, porém, o comentário cinematográfico mais delicado e tocante que vi a respeito tenha sido o romance dramático “Veer-Zaara” (2004), a que assisti ontem, disponível apenas com legendas em inglês na Amazon Prime.
O grande Sharukh Khan estrela a película como um oficial e piloto de resgate indiano que salva a vida de uma rica herdeira paquistanesa. A sequência de eventos posterior obriga os dois personagens a um sacrifício de vinte e dois anos para que seu amor inquebrável possa triunfar sobre os ódios e tensões latentes (ou mais que latentes) reinantes entre seus povos – em uma abordagem que não vilaniza nenhum dos dois lados.
O filme ainda faz, sobretudo através da personagem paquistanesa Saamiya, cujo papel é essencial à trama, uma legítima defesa dos direitos e potencialidades das mulheres – em contexto em que isso faz total sentido, em nada similar às histrionices típicas de boa parte do feminismo ocidental.
É claro, é um filme de Bollywood, o que implica três horas de duração e muita música, mas é uma questão de gosto e costume. Destaco a inspiração de uma das últimas falas do protagonista sobre o Paquistão, que encerra a mensagem central:
“a terra aqui cheira como as fazendas do meu pai. O calor aqui me lembra o leitelho que minha mãe costumava fazer. As chuvas aqui trazem lembranças das monções. Os invernos aqui me lembram o fogo sagrado de Lohri. Dizem que não é o meu país. Mas por que parece ser meu? Dizem que não sou um deles. Mas por que eu sinto que sou parte deles?”.