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O liberalismo brasileiro ignorou Merquior?

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O economista Pedro Menezes publicou na Gazeta do Povo o artigo O movimento liberal morreu, mas pode renascer mais forte. Sua tese central é de que a predominância de autores de vertentes mais privatistas do liberalismo, ou mesmo do libertarianismo, fez com que o movimento liberal brasileiro soçobrasse, em boa medida por ter negligenciado a obra de José Guilherme Merquior.

Embora louve e me some ao esforço por resgatar grandes autores brasileiros, permito-me um ligeiro e respeitoso contraponto. É verdade que o liberalismo social de Merquior permaneceu minoritário dentro do movimento institucionalizado do liberalismo contemporâneo, mas apontá-lo como ignorado é excessivo. O próprio Pedro Menezes reconhece que o movimento Livres e alguns acadêmicos contemporâneos procuram resgatá-lo. Porém, o Instituto Liberal e seus herdeiros e primos mais novos jamais obscureceram a obra e o pensamento deste ilustre brasileiro.

Merquior frequentou nos anos 80 os círculos do Instituto Liberal, que divulgou material de sua lavra, e palestrou para o antigo Instituto Liberal do Rio Grande do Sul (atual Instituto Liberdade) e o Instituto de Estudos Empresariais. A equipe do Instituto Liberal, em setembro de 2015 – eu incluso – divulgou e marcou presença em evento no Rio de Janeiro para o lançamento do livro Formalismo e tradição moderna de Merquior pela editora “É Realizações” e do documentário “José Guilherme Merquior – Paixão pela Razão”. Redigi, para o Instituto Liberal e o meu livro Guia Bibliográfico da Nova Direita, um ensaio analítico sobre O Liberalismo Antigo e Moderno de Merquior. O sexto autor estudado no Núcleo de Formação Liberal no último mês de outubro, na época em parceria entre o Instituto Liberal, o Instituto Libercracia e o Dragão do Mar, foi Merquior.

Ignorado, portanto, não é o caso. Mal lido, mal estudado? Em boa medida, pode-se dizer que sim, mas não é privilégio de Merquior. Acontece com praticamente todos os autores liberais. Merquior, inclusive, é mal lido também por seus maiores entusiastas. Elena Landau, por exemplo, na mesma entrevista disse seguir suas ideias, mas apontou que o conceito de “liberal conservador” era uma estrovenga sem sentido, sendo que é um dos principais conceitos presentes em O Liberalismo Antigo e Moderno como uma das vertentes liberais.

O texto de Pedro Menezes tem seus méritos. Reconhece que o liberalismo não tinha uma organização partidária convincente em 1989, que o movimento liberal em si não tinha robustez, influência, militância, basicamente existindo apenas “meia dúzia de liberais brasileiros” com consistência no período de estabelecimento da Nova República. Tal carência levou muitos liberais, incluindo Merquior, a apoiar a candidatura de Fernando Collor. É verdade.

Isso pode ter prejudicado o impacto de Merquior, mas também prejudicava o impacto de todos os outros liberais brasileiros da época, bem como a conexão com as gerações anteriores do liberalismo pátrio. No terreno hostil a que Menezes faz referência, os institutos liberais que ele responsabiliza por gestarem o movimento acusado de matar o liberalismo abriam espaço a Merquior e faziam um trabalho pioneiro, indispensável para que pudéssemos travar hoje esta discussão.

Quero louvar Pedro Menezes por sua defesa do “pluralismo liberal”, que, de fato, é esquecida por muitos liberais. O Instituto Liberal jamais a esqueceu. Desde os anos 80, as diversas correntes do liberalismo se expressam em suas publicações. O debate interno é valorizado e sustentado. Nem os libertários, nem os austríacos, nem os “chicaguistas”, nem os liberais conservadores, nem os liberais sociais – nenhuma dessas correntes detém o monopólio do liberalismo, apesar de muitos de seus porta-vozes parecerem desejar fazer crer que assim é. Tampouco temos obrigação de concordar com Merquior para admitir e estudar suas contribuições teóricas ao entendimento do liberalismo.

Se vertentes como a Escola Austríaca e a Escola de Chicago sempre foram predominantes no Instituto Liberal, este, por outro lado, jamais fechou as portas à discussão interna e ao contraditório. Os sucessos do futuro serão construídos se reconhecermos o valor daqueles que nos trouxeram até aqui, em vez de menosprezá-los.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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