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O interminável pranto argentino

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Na Argentina parece não existir política, só há mesmo espaço para o sempre saudoso e tristonho peronismo.

Como me disse um experiente e culto senhor taxista em Buenos Aires, quando perguntei sobre sobre Cristina Kirchner, o peronismo e o atual governo, entonou: “o peronismo não é nada!”. Corretíssimo, mas para os hermanos tende sempre a ser tudo!

O dissimulado peronismo é adaptável e pode ser qualquer coisa a fim de ludibriar o povo e ajustar os mecanismos de corrupção ao gosto do freguês: Menem era direitista, arremedo de capitalista. Cristina o oposto: esquerdista corporativista.

O páreo é duro, mas acho que o sistema político argentino está estruturado para ser ainda mais corrupto que o brasileiro. Em nível de impunidade estamos pau a pau.

Evidente que os reforços compensatórios para a volta do corrupto peronismo foram generosos. Macri foi populista, incompetente e fraco. Procrastinou em todas as reformas liberalizastes que deveriam ter sido urgentemente implementadas.

A história também conta. Desde a independência argentina, a elite projetava ser europeia, focada numa cultura “superior”, na literatura, no teatro, no cinema, nas artes em geral. Desse modo, mas com maior respaldo, a exemplo do Brasil pós-moderno, a classe artística e os intelectuais argentinos, por meio de carta aberta, apoiaram a candidatura de Alberto Fernández-Cristina Kirchner ao governo.

Na verdade, o apoio parece vir dos céus! O papa Bergoglio é argentino e peronista (creio eu marxista) desde criancinha. Obviamente que a intelectualidade argentina não-peronista foi cooptada e seduzida pelo populismo, pelo ufanismo e pelas retóricas kirchneristas ligadas ao ainda desfazimento da impunidade dos regimes militares até 1983 e ao aumento da pobreza, justamente pelo efeito de políticas econômicas populistas e ineficazes.

Nesse sentido, aterroriza, embora seja natural para eles, constatar que o “peronismo cultural” seja tão esmagador.
Todos sabemos que as grandes livrarias são polos turísticos em Buenos Aires. Entrar na El Ateneo, por exemplo, é contemplar uma livraria que está dentro de um daqueles que foi um dos maiores teatros de Buenos Aires.

Embora os sinais da decadência portenha estejam por todos os lados, a aura cultural ainda persiste e os argentinos, de fato, comparativamente, continuam lendo bem mais que nós brasileiros. No entanto, tal qual o debate das “ideias de mundo”, na Argentina e no fundo, tudo acaba onde começou: no inesquecível peronismo!

Gosto muito de procurar títulos nas livrarias de Buenos Aires e sempre me defronto com uma batalha hercúlea para encontrar algo interessante, afora a infinita quantidade de literatura vermelha, inclusive com várias publicações vinculadas aos grandes “intelectuais” brasileiros, Lula – e seu português irreparável – e Dilma – a estocadora de vento. Inacreditável, mas acredite em mim.

Claro que, folheando com calma alguns exemplares, também encontraremos brilhantes escritores esquerdistas, fazendo uso do tradicional efeito kitsch das citações cultas e/ou da invenção de novos significados para palavras corriqueiras.

Pois é. Como disse o famoso escritor argentino Jorge Luis Borges, o tango só poderia ter nascido em Montevidéu ou Buenos Aires. Para mim, lembrando meu saudoso pai, adorador de tango, acho que é o sentimento de melancolia para se sentir e bailar… Melancolia imortal para os argentinos.

A Argentina vive mergulhada na lama da corrupção, tendo um setor estatal bastante inflado, além de sindicatos fortes e atrasados.

O país não é industrialmente competitivo e é extremamente dependente das exportações de commodities agrícolas.

Uma vez que não aparenta que esse governo populista vá encarar com seriedade a privatização de estatais, creio que nem um aumento significativo dos preços das commodities agrícolas nos mercados mundiais salvará o país vizinho.

Com a cultura peronista revigorada em sua volta ao poder, a probabilidade de reformas liberalizantes parece ser próxima de zero.

Como o problema argentino é nitidamente estrutural, só me resta afirmar “mi tristeza hacia mis amigos argentinos”!
Faz mais de cem anos do nascimento de Evita Perón. Ela tinha razão: “Não chores por mim Argentina”…

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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