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Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Maxima Culpa

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Mais uma vez, o cearense se vê em meio a um cenário de caos institucional, violência e medo. Mais uma vez, as forças de segurança rebelam-se contra o governo do Estado. Mais uma vez, policiais e governo trocam acusações. Mais uma vez, as pessoas se apressam em aderir a uma ou a outra parte. E, mais uma vez, nós nos arredamos daquela que deveria ser a primeira e a mais séria das reflexões em situações tais: a reflexão sobre a nossa responsabilidade, como indivíduos e como sociedade, pelo mal que nos atinge.

De minha parte, contudo, aproveitando-me do clima de insubordinação, contra todas as regras da comodidade e ao arrepio de todas as normas e princípios da esquiva, insisto na reflexão, sugerindo de partida que perguntemos a nós mesmos quando, em que momento da lenta e agonizante marcha da nossa existência, decidimos abandonar a busca pela “aretê” dos antigos e romper com o propósito de elevação enquanto indivíduos e da defesa da dignidade que nos caracteriza como seres humanos. Em qual interseção de espaço e tempo, onde e quando, resignamo-nos na debilidade da alma e nos reduzimos a uma posição de conveniente impotência?

Podemos prosseguir, indagando:

Que espécie de homens e mulheres, de indivíduos, somos nós que delegamos de forma completa todas as responsabilidades com a nossa segurança à classe política, tão pouco confiável, e ao aparato burocrático, tão pouco eficiente?

Que espécies de pais e mães somos nós que transferimos o dever de manter a incolumidade física de nossos filhos e entes queridos a terceiras pessoas sem nenhum compromisso pessoal com nossas famílias e quase sempre tardias em relação à consumação das violências?

Que espécie de animais racionais somos nós que nos entregamos à fé cega em um ente abstrato e intangível chamado Estado, a ponto de entregar a essa ficção jurídica o destino de nossas vidas?

Que espécie de seres morais somos nós que fugimos à obrigação de contribuir pessoalmente para com a segurança de nossos concidadãos e para com a ordem pública?

Que espécie de cidadãos somos nós que renunciamos aos corolários do mais básico e fundamental dos direitos; que abdicamos dos poderes decorrentes e necessários à proteção direta do direito à vida?

Que espécie de civilização somos nós que abrimos mão do único meio capaz de anular o império da força bruta no seio social, do único instrumento prático capaz de igualar a força das mulheres a dos homens, dos idosos a dos moços, dos pacatos a dos violentos, ou seja, do único artefato capaz de igualar fracos e fortes?

Que espécie de povo somos nós que padecemos incapazes de exercitar de fato o poder que emana de nós e em que se pretende justificar a existência do próprio Estado e em nome do qual o aparato policial estaria autorizado a fazer uso da força?

Somos homens?

Somos mulheres?

Somos indivíduos?

Somos racionais?

Somos moais?

Somos civilização?

Somos povo?

Mesmo com toda espécie de infelicidade que a greve dos policiais militares tem acarretado a nossas vidas, ao menos nos sobra a oportunidade de fazer a reflexão aqui proposta, enquanto soluçamos feito criancinhas mirradas no canto de uma parede da existência, disfarçando nossa covardia em postagens nas redes sociais, afetadas de indignação e de superioridade moral contra a incivilidade e a barbárie.

Se nos permitirmos, diante do espelho, responder com franqueza a estas indagações, talvez possamos entender porque estamos, em plena época de folia, submetidos ao caos institucional, à violência e ao medo. E, entendendo, talvez possamos intuir o grau de responsabilidade que cada um de nós tem pelo mau que nos atinge.

*Sobre o autor: Pedro Cabral é advogado e diretor de projetos do Instituto Liberal do Nordeste. 

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