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O Governo da Grécia quer desesperadamente que o povo aceite a austeridade

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calote gregoHoje, em apenas uma reportagem no Globo, li dois absurdos gritantes sobre a Grécia que atentam à inteligência de qualquer um:

1 – Que as medidas de austeridade grega agravaram os indicadores sociais;

2 – Que o Governo Grego está trabalhando com afinco para que o povo grego vote não para aceitar a ajuda externa.

Quando uma entidade não tem dinheiro, seja ela pessoa física ou jurídica, Governo ou empresa, só resta adotar medidas de contenção de gastos para equilibrar o orçamento. Não há outro jeito. Austeridade não foi uma escolha política do Governo Grego, mas sim uma realidade fática inescapável após uma década de gastos públicos desenfreados, esse último sim uma medida pública escolhida de maneira irresponsável por tempo demais.

Já havia falado sobre isso em um artigo aqui em janeiro deste ano, que repriso algumas partes para fins de contextualização:

O partido Syriza, de extrema-esquerda, venceu as eleições legislativas na Grécia ontem com bandeira anti-austeridade, anti-União Europeia e extremamente interventora na economia. (…)

Não podemos descolar essa análise da realidade político-econômica da Grécia pré-crise. Ao entrar na União Europeia, recebeu maciços investimentos em infra-estrutura através do Estado, contabilizando esses recursos como dívida pública. Além disso, um maciço Estado de bem-estar social gerou outra grande dívida pública. Isto ocorre porque promessas políticas são de graça na hora de falar, mas custam dinheiro na hora de fazer. Foi uma opção política da Grécia recorrer a empréstimos para bancar seu assistencialismo, já que sua economia não gerava recursos suficientes para este fim. Só que todo empréstimo, um dia, precisa ser pago.

Quando a Grécia atingiu níveis absurdos de endividamento, a fonte secou e os investidores não tiveram mais interesse em refinanciar essa dívida, sendo necessária uma intervenção do FMI, exigindo que os direitos sociais fossem reduzidos e políticas de austeridade implementadas, para que crédito fosse disponibilizado novamente para os helênicos.

O problema das políticas de austeridade é que ninguém quer pagar a conta depois da farra de gasto público promovido. Isso ocorre na Grécia, no Brasil e em todo o mundo. (…)

A se confirmar uma moratória e a estatização da maior parte da economia grega, imediatamente o peso das dívidas nas contas públicas é jogado fora, o que dará fôlego ao Governo grego, mas aquilo que criou a dívida em primeiro lugar é reforçado e aprofundado. Como o Syriza irá pagar por rede assistencialista, SUS grego, transporte público gratuito e outras “benesses”? Somente três alternativas serão possíveis: (i) aumento exponencial dos impostos gregos, o que vai oprimir a criação de riqueza do país; (ii) expansão da base monetária, pagando gastos públicos com hiperinflação; ou (iii) com empréstimos. Essa última parte, que foi a solução de outrora, não poderá ser aplicada, pois ninguém irá emprestar dinheiro para um país caloteiro, restando apenas inflação e impostos para bancar os devaneios esquerdistas de pessoas que não entendem a lição mais básica da economia: vivemos em um mundo de escassez.

No longo prazo, esse modelo claramente não se sustentará. Mas para que se preocupar com isso, afinal, no longo prazo, todos estaremos mortos, certo?

O Syriza, também conhecido como PSOL grego, ao tomar o poder, no início do ano, prometeu acabar imediatamente com o regime de austeridade fiscal. Foi com essa bandeira que o partido foi eleito. Só que a realidade sempre se sobrepõe à utopia política.

Tomando as rédeas governamentais, Tsipras, novo Primeiro-Ministro, tentou implementar uma agenda de gastos públicos para recuperar a economia. Só que, para gastar, é necessário que exista dinheiro, e ele viu que esse dinheiro não existia, por ter sido previamente gasto, e não havia de onde tirar, porque só sendo muito louco para comprar títulos da dívida grega junto ao Tesouro local.

Sem saída, por ver as contas batendo no caixa e sem dinheiro, imediatamente o psolista grego cedeu aos bancos internacionais e implorou por ajuda, exigindo que os governos europeus desviassem dinheiro poupado de indivíduos europeus inocentes para cobrir a farra grega, especialmente os alemães, que por outro lado exigiram, para essa transferência forçada de renda em favor da Grécia, que no mínimo o novo Governo parasse com o discurso utópico e implementasse novas reformas de austeridade, o que ia totalmente contra sua base e filosofia eleitorais.

Sem saída, o Governo convocou um plebiscito covarde para saber se o povo grego aceita ou não um novo acordo com os credores internacionais.O SYRIZA ESTÁ LOUCO PARA QUE A POPULAÇÃO ACEITE O NOVO PLANO. Incapaz de ter a hombridade de admitir que sua doutrina é um lixo e desconexa da realidade, jogou a responsabilidade pela aceitação do plano para a população. E o que é pior: caso o povo diga sim, o Syriza lavará as mãos e dirá que fez de tudo para que dissessem não. Uma canalhice.

Se o Syriza quisesse de verdade não aceitar o plano, bastava comunicar isso à UE. Eles têm autoridade para isso. Foram eleitos para isso. Ao convocar esse plebiscito, criaram o bode expiatório perfeito para sua própria incompetência, ato típico dos covardes de esquerda.

Em suma, a austeridade é o único caminho possível para a Grécia. O que destruiu a Grécia não foi a austeridade, mas o gasto desenfreador pré-austeridade. Austeridade grega hoje é só uma tentativa, muito válida mas cada vez mais infrutífera, de tentar organizar as contas. E o Syriza vai ter que se adaptar a isso, quer queira, quer não, ainda que use de marketing para iludir o povo com esse engodo de campanha a favor da não aceitação.

Que o povo grego acorde, bote esses hipócritas para correr, e possam, o mais rapidamente possível, reerguer sua economia em novas bases, mais racionais.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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