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O caminho da liberdade: o caso polonês

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poloniaRepública da Polônia. País com uma população beirando os 39 milhões de pessoas, localizado na região da Europa Central, com uma cultura bastante rica e com um peso histórico bastante grande, principalmente na década de 1980.

Tudo começa em 1945, ao fim da Conferência de Yalta, na antiga União Soviética, onde foi sancionado pelo ditador soviético Josef Stalin um governo pró Moscou na Polônia. Em 1944, Stalin havia feito garantias a Winston Churchill, primeiro-ministro Inglês e a Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, de que o Kremlin de Moscou iria manter a soberania da Polônia e permitir eleições democráticas; no entanto, após alcançar a vitória em 1945, as autoridades soviéticas de ocupação organizaram uma eleição que constituía nada mais do que uma farsa e foi usada para reivindicar a “legitimidade” da hegemonia soviética sobre os assuntos poloneses. A União Soviética instituiu um novo governo comunista na Polônia, análogo à maior parte dos governos do resto do Bloco de Leste. Como em toda a Europa comunista, a ocupação soviética da Polônia enfrentou uma resistência armada desde o seu início, que continuou na década de 1950. Apesar das objeções generalizadas, o novo governo polaco aceitou a anexação soviética das regiões orientais do pré-guerra da Polônia e concordou com as guarnições permanentes de unidades do Exército Vermelho no território polonês.

A República Popular da Polônia foi oficialmente proclamada em 1952. Em 1956, após a morte de Bolesław Bierut, primeiro chefe de Estado da Polônia comunista, o regime de Władysław Gomułka tornou-se temporariamente mais liberal, libertando muitas pessoas da prisão e expandindo algumas liberdades civis. Uma situação semelhante se repetiu nos anos 1970 sob o governo de Edward Gierek, mas na maior parte do tempo havia perseguição contra grupos de oposição anticomunistas. Apesar disso, a Polônia era na época considerada um dos Estados menos opressivas da chamada cortina de ferro; por exemplo, a liberdade de credo era garantida por lei.

Mas a partir de 1978, o regime socialista na Polônia tem o seu primeiro grande baque: a eleição do cardeal e arcebispo de Cracóvia Karol Józef Wojtyła para ser líder da Igreja Católica, com o nome de João Paulo II. E João Paulo II foi a voz mundial de que a população Polonesa, oprimida e execrada pela ditadura comunista, precisava. Foi a dose de coragem que os poloneses precisavam para começar a lutar com mais forças contra o governo.

Papa João Paulo II
Papa João Paulo II

Em 1979, João Paulo II mandou um recado a toda a população polonesa em que pedia para seus compatriotas não terem medo da ditadura e, depois de realizar uma oração, falou: “Venha o teu Espírito descer e mudar a imagem da terra… esta terra.”.

E com essa dose de coragem surge um grupo de operários insatisfeitos com o governo, liderados pelo torneiro mecânico Lech Walesa. Era o Sindicato Solidariedade. Tudo começou com uma greve geral na cidade de Lublin, em julho de 1980. Mas foi em meados de agosto que manifestações realizadas no estaleiro de Gdansk deram origem a uma série de greves que praticamente paralisaram toda a costa báltica. Pela primeira vez na história, quase todas as minas de carvão da região da Silésia foram fechadas.

Os representantes dos grevistas no estaleiro de Gdansk assinaram o Acordo de Gdansk, prometendo ao governo que acabariam com as greves se o governo comunista garantisse o direito dos trabalhadores de formar sindicatos independentes, e também chancelasse o direito à greve. E em setembro de 1980, aconteceu a união do Sindicato Solidariedade com as outras lideranças de oposição no país.

O governo, que parecia ter o controle inquebrável antes de 1980, começava a ficar com a sua força em xeque com tais fatores.

Mas em dezembro de 1981, o grupo sofre o seu primeiro grande golpe: o governo comunista, tentando enfraquecer o sindicato, decretou lei marcial em todo o território polonês. A lei marcial impôs um duro golpe ao povo: os passaportes foram cancelados, de modo que nenhum polonês podia viajar ao exterior, por exemplo. Durante os primeiros meses da lei marcial, os poloneses não podiam nem sequer viajar entre cidades da Polônia sem a devida autorização do governo. Cartas sempre eram entregues abertas, amassadas dentro de sacos plásticos e com um carimbo escrito “Material Censurado”. Quando um polonês discava um número no telefone, a primeira coisa que se ouvia era uma gravação repetindo: “conversa monitorada, conversa monitorada”.

Lech Walesa
Lech Walesa

E como a lei atingiu o grupo? A ditadura polaca, utilizando-se de tropas paramilitares, conhecidas como ZOMO, e também com o uso do exército vermelho, atacou de forma dura os manifestantes anticomunistas e membros do Sindicato Solidariedade, com prisões e assassinatos dos oposicionistas. E um dos presos era Lech Walesa, líder do movimento. Ao longo do tempo, a lei foi sendo revogada em várias etapas, a conta-gotas. Em dezembro de 1982, a lei marcial foi suspensa e um pequeno número de prisioneiros políticos, dentre eles Walesa, foi libertado. Após o relaxamento da lei marcial na Polônia, tornou-se mundialmente famoso o caso do assassinato de Jerzy Popieluszko, um popular padre defensor do Solidariedade, que foi sequestrado e assassinado pelo serviço de inteligência do governo — o Sluzba Bezpieczenstwa— em outubro de 1984.

A partir do marco da morte de Jerzy Popieluszko, os grupos oposicionistas polacos, em especial o Sindicato Solidariedade, começaram a protestar contra o governo com cada vez mais veemência, combinando-se isso com a política reformista do líder soviético da época, Mikhail Gorbachev. Em setembro do ano de 1986, o governo comunista polonês decretou anistia geral a todos os prisioneiros políticos da Polônia, e quase todos os presos políticos (não comparar com José Genoíno e José Dirceu), foram libertados. Mas a repressão por parte da ZOMO e das tropas do exército polaco continuava bastante forte.

Já estava mais do que óbvio que os esforços do regime comunista para organizar a sociedade de cima para baixo haviam fracassado completamente. Com a crise econômica cada vez mais agravada e todas as instituições sem funcionar, a clandestina resistência anticomunista foi ganhando um número crescente de adeptos. Principalmente o Sindicato Solidariedade.

O presidente da Foundation for Economic Education, Lawrence Reed, em artigo ao Instituto Ludwig Von Mises – Brasil, conta um pouco da história da clandestinidade da resistência polonesa, como mostrado abaixo:

 […] Testemunhei ao vivo estes acontecimentos. Em novembro de 1986, passei 10 dias vivendo entre os clandestinos do Solidariedade e do Liberdade e Paz, um grupo formado por jovens.

Durante esta minha visita, aprendi que, cinco anos após o início dos violentos ataques desfechados pelo governo contra os movimentos de resistência, os poloneses haviam aprendido fabulosos truques para ludibriar e se esquivar do regime de Jaruzelski, tudo de uma maneira que chega a desafiar a imaginação. A escassez total dos mais básicos produtos alimentares, a inflação de preços em dois dígitos, e uma poderosa polícia secreta não os impediram de criar formidáveis mercados negros e vigorosas instituições privadas, desde rádios e editoras de livros a até mesmo teatros e escolas. Tudo clandestinamente.

Wiktor Kulerski, um dos lideres do Solidariedade, já havia esboçado, alguns anos antes, um esquema sobre como seria a resistência polonesa. Escreveu ele em um dos documentos do sindicato:

“Este movimento criará uma situação em que as autoridades controlarão as lojas estatais, mas não o mercado; o emprego de trabalhadores, mas não seu meio de vida; a imprensa oficial, mas não a circulação de informações; as editoras, mas não as publicações; os correios e os telefones, mas não as comunicações; e o sistema escolar, mas não a educação.”

Trinta e oito milhões de poloneses estavam menosprezando e ridicularizando o governo. Eles já haviam aprendido por experiência própria e dolorosa que, como bem havia dito o escritor e compositor dissidente Stefan Kisielewski (que havia sido preso e espancado por causa disso), “Socialismo é estupidez”.

Eles já estavam fartos daquilo tudo. […]

Em 1989, após a queda do Muro de Berlim, poloneses foram às ruas de todo o país para comemorar a queda do socialismo na Alemanha Oriental e a unificação das duas Alemanhas. A revolução de Veludo estava em andamento na Tchecoslováquia, a Hungria já tinha aberto as suas fronteiras ao Ocidente e na Romênia, o megalomaníaco Nicolae Ceausescu seria capturado pela população e seria fuzilado no Natal. Mas foi a Polônia que começou a batalha contra o socialismo nos países do leste europeu.

Também em 1989, após o Solidariedade ter saído da ilegalidade por meio das negociações para o fim da greve geral no ano anterior, o general Wojciech Jaruzelski entrou em acordo com o líder do movimento, Lech Walesa: os grupos políticos suprimidos seriam legalizados e eleições gerais seriam marcadas para o dia 4 de junho de 1989. Jaruzelski não tinha nenhuma alternativa. A Polônia, segundo o ditador, havia se tornado “ingovernável”.

E foi exatamente no dia 4 de junho de 1989 que a Polônia eletrizou o mundo ao fazer as primeiras eleições livres na Europa comunista. Ativistas anticomunistas surpreenderam seus conterrâneos: conquistaram 99 das 100 cadeiras no Senado e todas as 161 cadeiras do Parlamento que o regime permitiu serem disputadas na eleição. Tais resultados asseguraram que a guinada para o caminho da liberdade em todo o império soviético era definitiva e iria se intensificar até derrubar todos os ditadores e partidos comunistas, desde Berlim Oriental até Ulan Bator, na Mongólia.

A história da Polônia desde a imposição da lei marcial em dezembro de 1981 e do esmagamento do Sindicato Solidariedade  até as eleições de 1989 não é a saga de um povo pessimista, medroso ou covarde. Ao contrário: trata-se de uma notável amostra do desejo humano de ser livre. Embora os três poderosos líderes do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Vaticano (Margaret Thatcher, Ronald Reagan e João Paulo II / Karol Wojtyla) tenham ajudado imensamente no processo da desintegração comunista em todo o leste europeu, estes mesmos líderes corretamente aplaudiram e elogiaram o espírito desafiador do povo polonês. Ronald Reagan declarou em um discurso em Varsóvia no ano de 1990 que “o povo da Polônia está nos dando um imperecível exemplo de coragem e devoção aos valores da liberdade contra uma violenta e implacável oposição […]. A tocha da liberdade é quente. Ela aquece aqueles que a mantêm lá no alto e queima aqueles que tentam apagá-la.”.

 

 

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Jefferson Viana

Jefferson Viana

Jefferson Viana é estudante de História da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenador local da rede Estudantes Pela Liberdade, presidente da juventude do Partido Social Cristão na cidade de Niterói-RJ e membro-fundador do Movimento Universidade Livre.

2 comentários em “O caminho da liberdade: o caso polonês

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    14/09/2015 em 9:24 pm
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    O esquadrão da RAF com o maior número de abates na 2 guerra mundial era formado por … Poloneses! O maior ás deste esquadrão quebrou inúmeras vezes a formação para sair “caçando” solitáriamente, vez isto, com sucesso, várias vezes e foi o único piloto da RAF a ter permissão para fazê-lo sem sofrer penalidades militares – até ser abatido e morto sobre a França. Os Poloneses conheceram na pele os horrores da dominação nazista e da “libertação” comunista! Depois de tanto heroísmo, foram brindados com a proibição de se juntarem `as tropas aliadas na Marcha da Vitória em Londres! Graças `a benevolência de Stalin. A maior parte dos soldados Poloneses que retornaram `a Polonia após a guerra foram julgados como traidores e . . . fuzilados! Espero que não tenhamos que descer tão fundo neste buraco Socialista!

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    14/09/2015 em 4:53 pm
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    Exemplos assim deveriam ensinar a muitos, entretanto, ainda há os que ignoram solenemente tais fatos e insistem, por exemplo, em dizer que as experiência socialistas/comunistas darão certo; assim que alguns “detalhes” forem ajustados.

Fechado para comentários.

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