“Minha verdade é melhor que a dele” – o caso JK e a Comissão da Verdade
A Comissão Nacional da Verdade, no dia 21/04/2014, declarou que o ex-Presidente Juscelino Kubitschek não foi assassinado, morrendo em decorrência de acidente de carro, e que não há nenhuma evidência que possa embasar interpretação diversa.
A Comissão Paulistana da Verdade, patrocinada pela Câmara Municipal de São Paulo, no dia 09/12/2013, declarou que o ex-Presidente Juscelino Kubitschek foi sim assassinado, e apresentou uma série de documentos e evidências que considera não trazer dúvidas sobre o suposto acidente ter sido causado por agentes do Regime Militar.
Vou apresentar aqui uma terceira verdade: essas “comissões da verdade” tem muito mais a ver com política do que com verdade. Até porque o conceito de “verdade” é algo discutido até hoje tanto na filosofia quanto na ciência.
Do ponto de vista filosófico, até hoje não se solucionou a pergunta: “a verdade é absoluta ou relativa?”- e há filósofos que até conseguem juntar os dois conceitos, argumentando que existe uma verdade absoluta, mas é apreendida de maneira relativa por cada ser racional. Eu, particularmente, gosto muito dessa ideia, pois conjuga a ideia de uma ética universal e sólida, mas sem deixar de observar a precariedade dos meios de apreensão dessa ética pelo ser humano, que precisa descobrir essa verdade aos poucos a partir do método de tentativa e erro.
Na ciência, a verdade está mais ligada ao método utilizado para se chegar a afirmações científicas do que na veracidade da afirmação em si, ou seja, uma afirmação seria verdadeira até que se provasse o contrário. Mas se há prova posterior de falsidade, em algum momento a proposição considerada verdadeira por um tempo foi verdadeira de verdade? (com o perdão da redundância, por favor)
A discordância de interpretação das duas “Comissões da Verdade”, reproduzindo “verdades” absolutamente antagônicas sobre um mesmo caso, é apenas um reflexo do problema da busca pela verdade, e a autodeclaração dessas comissões como sendo reveladoras da verdade é de uma petulância típica dos políticos, que acham que com uma canetada podem fazer o mundo mais belo e feliz, sem nenhum respeito aos processos sociais e aos valores e vontades de cada indivíduo isoladamente considerado.
O comediante Groucho Marx já dizia que “o segredo do sucesso é a honestidade, e se você conseguir evitá-la está feito na vida”. Essa é a arte da política na sua essência, e quando a sociedade permite que a classe social reconhecidamente mais desonesta deve ficar a cargo de revelar a verdade, o resultado será sempre a venda da “verdade” que seja politicamente mais conveniente, ainda que não verdadeira de fato. Quase consigo imaginar um político no Congresso, discursando: “Não acredite no meu opositor! A minha verdade é melhor que a dele, e está em promoção!”