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Minha mãe ama o menino Bernardo dela

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Meus pais se separaram quando eu tinha quatro anos. Em busca de emprego, minha mãe precisou mudar de cidade, e fomos para Petrópolis, onde ela não tinha apoio de ninguém, já que minha família toda é do Rio de Janeiro, e ainda tinha que se virar no sustento da casa. Conseguiu trabalho primeiro na companhia de água e esgoto da cidade e depois na Secretaria de Transportes.

Petrópolis é uma cidade bastante conservadora, que dirá então na década de 80. Não me entendam mal… eu adoro Petrópolis! Ela ainda é minha cidade favorita e se alguém me disser que eu não sou petropolitano eu viro bicho, mas isso não muda o fato de Petrópolis ser sim uma cidade muito conservadora, e cidades conservadoras podem trazer problemas de adaptabilidade para pessoas que não se subsumem ao molde típico da família conservadora.

Na década de 80 ainda não havia muitos casais divorciados. A lei que permitiu a realização de divórcios é de 1977, e essa lei demorou a “pegar” em cidades mais conservadoras como Petrópolis. Minha mãe foi uma mãe solteira jovem, loira e incrivelmente bonita, em uma cidade extremamente conservadora. Até hoje me lembro das reuniões da escola, com os pais dos meus colegas babando e as mães incomodadas com a presença dela. Isso sempre criou uma atmosfera muito ruim para nós.

Minha mãe me criou praticamente sozinha. Não que eu desse muito trabalho, pois o meu perfil era o de menino educado que tirava boas notas na escola. Ou será que eu tinha esse perfil por causa da educação rígida dela? Talvez o fato dela me levar na Igreja todo domingo também tenha ajudado. E uma coisa, especificamente, me incomodava muito quando eu era criança: sempre que eu saia da linha por um motivo mais grave, ela me batia.

Não era nada do outro mundo: ela pegava a sandália de borracha e dava uma solapada no braço ou no traseiro. Na hora ardia bastante, mas não era nenhuma dor que não sumisse em 10 ou 20 minutos. No entanto, era um incentivo bastante persuasivo para que eu me mantivesse na linha e respeitasse a autoridade familiar. Mesmo com essas chineladas, nunca mudou o sentimento entre a gente, porque o que une a família é o amor. Me lembro que uma vez eu fiz uma malcriação com ela e ela me deu uma chinelada e começou a chorar. Eu, que estava chorando de dor, perguntei porque ela chorou, se quem apanhou fui eu. Ela me respondeu: “porque quando eu te bato, dói mais em mim do que em você”.

Isso tudo foi uma entrada para dizer que eu sei que minha mãe me ama, não importa o que os congressistas brasileiros digam em contrário. Foi aprovada ontem na Câmara dos Deputados a “Lei Menino Bernardo”, patrocinada pela apresentadora Xuxa, que impede a aplicação de qualquer tipo força física na criança que gere “sofrimento”. Segundo os deputados, os pais que desrespeitarem essa lei serão obrigados a passar por tratamento psicológico ou psiquiátrico.

A primeira grande ironia do caso já foi apontada por um deputado do PSB: a principal apoiadora desse projeto é uma senhora que, na sua juventude, participou de um filme erótico beijando e esfregando os seios em uma criança de 12 anos que, mais tarde, acabou virando ator pornô. A segunda grande ironia é a intervenção de políticos na seara educacional familiar legislando sobre moralidade. Políticos fazem parte da camada social mais imoral do Brasil. No entanto, legislam sobre moralidade.

Isso não significa que estou defendendo aqui a punição bárbara a crianças. Se há realmente dano físico às crianças, os pais devem sim ser punidos e submetidos a tratamento, como em qualquer caso de agressão contra adultos. A lei penal já abrange esses casos, e a edição dessa nova lei apenas estatiza mais e mais as crianças e a sociedade brasileira, trocando-se o vínculo de amor familiar pelo vínculo, esse sim violento, do Estado.

Rebatizar essa lei, originalmente conhecida como “lei da palmada”, para “Lei Menino Bernardo”, em alusão ao menino morto recentemente pelo pai e pela madrasta com uma injeção letal, é escarnecer da inteligência da população. Ou será mesmo que uma palmada corretiva se equivale a um assassinato por meio insidioso?

Pois bem, minha mãe teve um menino Bernardo: EU. E ela amou e ama muito, até hoje, o menino Bernardo dela. E as palmadas que ela me deu nunca me machucaram. Já a atitude covarde do Congresso em declarar que mães, ao corrigirem seus filhos com palmadas, são ruins, essa sim me machuca. Quando batem na minha mãe, dói mais em mim do que nela. Hoje eu entendo perfeitamente essa frase dela, e o ataque estatal à moral dela é inaceitável e repugnante, como são a maioria dos atos políticos desse país.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

Um comentário em “Minha mãe ama o menino Bernardo dela

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    22/05/2014 em 5:42 pm
    Permalink

    Não é perigoso dizer que o pai matou a criança com uma injeção letal?

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