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Mensagem ao Papa Francisco

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JOÃO LUIZ MAUAD *

Somente ontem consegui finalmente assistir à Vossa entrevista ao Fantástico.  Entre os diversos assuntos abordados, chamou minha atenção a preocupação de V. Santidade com a exclusão dos jovens do mercado de trabalho em diversos cantos da Terra.  Com todo respeito, ouso dizer que V. Santidade demonstrou uma percepção equivocada das causas do problema, ao dizer que a questão está centrada numa tal “feroz idolatria do dinheiro”.

Com as devidas vênias pela impertinência desse mero pecador, me parece que escapa a V. Santidade o fato de que o trabalho, seja ele juvenil ou adulto, é regido por leis econômicas universais, há muito tempo descobertas, mas eternamente negligenciadas.  É sobre elas que desejo falar.

Uma dessas leis nos diz que o trabalho é um custo, não um benefício, independentemente do lado em que estejamos.  Para quem vende o trabalho (empregado), o trabalho é o meio (custo) necessário para a obtenção dos fins desejados – a renda que propiciará o consumo e/ou o investimento.  Para quem compra (empregador), o trabalho é um insumo (custo), necessário à produção de bens e serviços que devem gerar lucro.  É claro que se pode, eventualmente, trabalhar ou contratar trabalho por caridade, mas esta será sempre uma exceção, nunca a regra.  Portanto, vincular escassez de empregos com falta de solidariedade, ganância ou com a “idolatria do dinheiro” me parece uma perda total de tempo e energia.

Como ensinou Milton Friedman “os economistas podem não saber muito. Mas sabem uma coisa muito bem: como produzir excedentes e escassez. Você quer um excedente? Basta o governo legislar um preço mínimo que está acima do preço que prevaleceria naturalmente…. Você quer que a escassez? Basta o governo legislar um preço máximo, abaixo do preço que prevaleceria sem esta legislação”.  Esta é uma das leis econômicas mais vilipendiadas da história e está intimamente relacionada ao enorme déficit de empregos para jovens e outras pessoas de baixa qualificação, graças à imposição, em praticamente qualquer lugar do mundo, de legislações de salários mínimos.

Recentemente, por exemplo, a presidente do seu país natal, em atitude absolutamente voluntariosa, oportunista e absurda, determinou um aumento de 25% no salário mínimo, como forma de melhorar a renda dos menos favorecidos.  Não é preciso ser nenhum grande economista para intuir que, embora tal medida possa trazer benefícios imediatos para alguns poucos, prejudicará muitos argentinos jovens e de baixa qualificação, que ficarão impedidos de vender seu trabalho pelo preço que ele realmente vale, de acordo com a respectiva produtividade.

Outra bobagem muito comum, que vai de encontro a leis econômicas elementares, é achar que o objetivo do mercado é a criação de empregos e, ato contínuo, imputar a uma eventual falha do mercado a existência de índices elevados de desemprego, devendo o governo intervir para criar os empregos que o mercado “negligenciou”.  Entretanto, como muito bem explica o professor Steve Horwitz, há uma diferença enorme entre a criação de postos de trabalho e criação de riqueza. Seria muito fácil criar milhões de empregos da noite para o dia. Bastaria, por exemplo, eliminar todas as máquinas e inovações utilizadas atualmente na agricultura. Com isso, milhões de empregos no campo seriam criados para produzir alimentos. Mas será que alguém, em sã consciência, sugeriria esse retrocesso?  Não creio.

Como V. Santidade pode ver, criar empregos por decreto é relativamente fácil. O problema é que esse processo não se sustentaria por muito tempo, pelo simples motivo de que (ao contrário do que a maioria pensa) o progresso econômico ocorre justamente quando certos tipos de trabalho são eliminados, ao tornarem-se desnecessários. Inovação tecnológica e aumento da produtividade significam que mais gente estará disponível para trabalhar em novas áreas, além de que as pessoas terão de aprender novas habilidades, ainda que a custa de desemprego temporário.

Foi assim que progredimos da economia agrária para a economia industrial, desta para a de serviços e de tecnologia.  Apesar de todo o desemprego gerado no meio desse longo caminho, V. Santidade tem alguma dúvida de que vivemos hoje num mundo muito melhor do que os nossos antepassados?

Somente os sinais do mercado podem indicar em que tipo de habilidades as pessoas devem investir e onde os empregos do futuro estarão.  Os governos não dispõem desses sinais. Por isso, os programas de criação de emprego governamentais satisfazem apenas as necessidades eleitorais dos políticos, e não as necessidades dos consumidores.  Portanto, se me fosse dado a oportunidade de dizer-lhe apenas umas poucas palavras, eu repetiria as do professor Horwitz: “O melhor programa de criação de emprego da história humana é o livre mercado e o empreendedorismo que ele gera”, embora, paradoxalmente, este nunca tenha sido o real objetivo.

* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

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