Carlos Lacerda, a revolução e o populismo
“Ciente de que a disputa política, ainda mais daquela natureza, a de um duelo de civilizações e concepções de mundo, depende de envolvimento e ocupação de espaços, no que os soviéticos estavam em vantagem estratégica, (Carlos Lacerda) alertou:
‘Quando os russos pagam milhares de bolsas escolares para jovens, pagam a viagem de juízes, políticos, professores, oficiais e mulheres, profissionais em geral, líderes de trabalhadores e sobretudo de jovens para treiná-los e transformá-los em ativistas e líderes, é tempo de ao menos informar todos os povos do continente sobre o que se passa com cada um deles – para que possam formar juízo por si mesmos’.
O verdadeiro ópio do povo não seria a religião, mas a revolução. Diagnosticou: ‘O homenzinho triste e solitário, de maus dentes, de pouca escola e muitos filhos, tendo de gerar muitos para conservar os sobreviventes, envelhecido antes do tempo e acabando antes da hora, depara com o demagogo que rompe as regras tradicionais da oligarquia e adere à pirotecnia do show político’.
O povo pobre se empolga com o grande líder que o faz parte das massas, integrado a um futuro, prometendo-lhe de tudo e tornando-se o Pai dos Pobres e dos Descamisados, tal como faziam Vargas e Perón; acolhe suas fantasias como “Super-Patriarca, o chefe do Estado Providencial, o espetacular Messias’. Juntamente a isso, verifica-se o ímpeto da industrialização forçada (…) e grassa a ignorância, diante de escolas que, em número reduzido, não preparam adequadamente a mão-de-obra e constantemente moldam as mentalidades para a revolta, uma espécie de panaceia para os povos subdesenvolvidos”.
*Publicado originalmente no livro: Lacerda: A Virtude da Polêmica, LVM Editora, p. 119-120.