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Estupidez e “Custo Brasil”

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SIDNEY SYLVESTRE *

Você tem algo para vender que só você e umas poucas pessoas têm. Do outro lado, existe um monte de gente querendo comprar. Como um “capitalista malvado ganancioso”, você faz o quê diante de tal quadro, qual ação óbvia a tomar? É o nosso famoso “enfiar a faca”.

IPhone 5 da Apple. Imagem renderizada. Wikipédia.Se só eu tenho o maravilhoso Iphone 75 para vender, se todo mundo quer, por que raios eu vou vender barato? Todo mundo, em todo canto do planeta quer o Iphone 75. Basta ver as filas que se formam em toda parte do mundo. Mas lá eles pagam “barato”! Qual o milagre? Ora, o milagre é que lá tem muita gente vendendo! Lá existe uma coisa chamada “concorrência”.

Se eu, aqui, único possuidor de um Iphone 75 ofereço o mesmo por duas vezes o preço, qual um caminho mais do que óbvio você poderia tomar em um mundo “civilizado”? Uma ação bem comum é pedir para aquele amigo de um amigo trazer o desejado Iphone 75 de fora, já que ele viaja para os EUA com frequência. Mas aí, como você é só o amigo do amigo ele vai dizer: , já vou trazer cinco, vai que a Receita me pega! Pois é, eis aqui o grande vilão… o seu nome é protecionismo. O protecionismo não passa de um “fechamento de mercado” (em nome de inúmeras besteiras que o brasileiro costuma aceitar como “proteger a indústria local”, salvar empregos etc..) para “produtos vindos de fora”. O protecionismo diminui o número de ofertantes de um produto impondo inúmeras barreiras a essas ofertas por parte de estrangeiros ou de pessoas obtendo o produto “lá fora”, barreiras essas que podem ser bem diretas como impostos sobre importação, ou “indiretas” como regulações ou até mesmo manipulação cambial (desvalorização de câmbio para proteger a indústria local de algum setor especifico, com base em algum argumento bem estúpido).

Qual a única força que me impede, único possuidor de um Iphone 75, de ofertá-lo ao custo de um rim para você? Uma oferta concorrente mais baixa! Se um consumidor é “extorquido” por uma oferta de 2x o preço, ele simplesmente poderia entrar no Ebay, na Amazon ou não sei mais onde (algum site do sudeste asiático) e simplesmente comprar o Iphone pelo preço “de lá”. Mas o que vai acontecer quando ele chegar até nossos portos? Vai ser tributado em 60% do seu valor (ou algo do tipo).

Bem, aí vem algum sábio metido a contador argumentar que a famosa conta (preço x dólar)*1,6 não dá o preço que as empresas cobram no Brasil. Não dá e nunca vai dar simplesmente porque o fechamento do mercado promovido pelo protecionismo, além de não se resumir ao custo de tributação, cria uma reserva de mercado para os heróis que conseguem escapar da alfândega ou para os abnegados que resolvem ofertar tudo dentro da “legalidade”.

Você, consumidor, já tentou importar alguma coisa? No Brasil é um martírio. O produto fica na Receita Federal sem prazo para sair. Você, além de pagar impostos, tem que esperar umas três semanas, em média, para saber o quanto vai pagar. Imagine alguém que queira importar para fins comerciais. O desembaraço nos modernos e eficientes portos e aeroportos brasileiros, as tributações, guia para cá, guia para lá… é uma maratona para poucos.

Os poucos que vencerão a maratona cobrarão tudo ou parte de tudo que esse processo custou, advinha de quem? De quem quer comprar, e isso não tem nada de “maquiavélico” ou coisa do tipo. Assim como eu, você, um americano, um guatemalteco ou qualquer um na face da Terra, o cara que passou por tudo isso quer lucro, quer dinheiro. Se para importar há um custo monetário, de tempo, de oportunidade, gigantesco (porque nós brasileiros achamos que “produto estrangeiro” é nocivo, destrói empregos e outras baboseiras e por isso apoiamos medidas protecionistas), alguém só importará se puder compensar esses custos de alguma forma e ganhar dinheiro.

O vendedor da Malásia faria a mesma coisa se ele tivesse que passar por toda essa maratona para importar algo, mas lá na Malásia não é assim. Ele não tem que pagar zilhões de taxas, preencher zilhões de guias, os portos e aeroportos de lá não são péssimos. Qualquer “Zé Mané” importa o que quer (pelo menos em matéria de produtos de informática). Assim, se um vendedor importou o Iphone recém-lançado lá dos EUA e cobra 2x o preço, qualquer um pode ofertar facilmente por 1,5x o preço ou mesmo por 1x o preço ou ainda você mesmo pode entrar no Ebay e comprar de um vendedor americano. Não há poucos vendedores. Todo mundo pode ser facilmente um vendedor em potencial. Graças a essa concorrência de vendedores, o “lucro Malásia” despenca. Não há como colocar margens de lucro altas, simplesmente porque qualquer um pode ofertar o mesmo produto facilmente se quiser e isso limita o poder dos ofertantes.

A raiz de todo mal em relação a preços de produtos no Brasil é simplesmente esse: falta de concorrência porque o mercado (o mercado inteiro) é super fechado para praticamente tudo. Se alguém oferta um Iphone por R$2500 eu não posso ir até o Ebay e comprar um por U$400,00 ou U$500,00 simplesmente porque vou ser tributado em quase 100%, somado ao tempo de espera, a dor de cabeça com garantia, ao “risco internet” (características “naturais” dessa transação), tudo isso torna a oferta de R$2500 algo “aceitável”, algo factível e possível, graças ao extra “de tributação de 100%”.

Quando alguém pega o preço de um produto lá fora, inclui os impostos e chega a um preço inferior ao praticado aqui e aí culpa as empresas por isso (o “lucro Brasil” ou a ganância das mesmas), só posso dizer que esse alguém merece pagar até mais, porque é esse imb… que apoia esse monte de baboseiras econômicas que originam as intervenções estatais (como o protecionismo) que fecham o mercado e asfixiam a concorrência.

São justamente os impostos, as regulações, enfim, o fechamento do mercado que permite as empresas e vendedores auferirem o “lucro Brasil”. Não existe surto de ganância tupiniquim, não existe essa conversa de “os impostos não explicam tudo”. Os impostos, estritamente falando, podem não explicar tudo porque protecionismo não é só imposto de importação. Regulação que asfixia a concorrência também não é só protecionismo (por exemplo, dificuldades para abrir uma importadora, uma loja para importar, também sufocam a concorrência e não são considerados protecionismo), mas obviamente a culpa é das políticas de governo, das políticas antimercados, das mesmas políticas que acham que empresa, o lucro, é coisa “do capeta” e precisam ser combatidos em nome de uma visão deturpada de “igualdade” e de “justiça social”.

Enquanto nós acharmos que bom serviço, preço baixo ou coisa do tipo dependem da “bondade” da empresa e que o governo “tem que fiscalizar”, “tem que dar um jeito” (geralmente com alguma regulação que só serve para fechar o mercado e limitar a concorrência), merecemos (e iremos) pagar cada vez mais caro por cada vez menos qualidade.

Estátua de Smith em High Street, Edimburgo, construída através de doações privadas organizadas pelo Instituto Adam Smith. Wikipedia.
Estátua de Adam Smith. Edimburgo.

Adam Smith já havia dito há mais de 200 anos que não era da bondade do padeiro que você deveria esperar seu pãozinho quente de cada dia. E ele estava certo (sim, esse maldito “neoliberal”). A força que faz um desconhecido, que não dá a mínima para você, que provavelmente nem sabia que você existia, tratá-lo como um “rei”, fazer exatamente aquilo que você quer, oferecer um bom serviço a um preço ridículo é a concorrência. E ela faz isso porque transforma esse “bom serviço” na única forma factível desse ofertante conseguir realizar seu próprio interesse, ganhar dinheiro!

Se você acha a Telefônica uma droga, não é a Telefônica que você tem que amaldiçoar, mas sim as regulações que não permitem novos entrantes no mercado, o governo que não leiloa novas frequências para uso em telefonia, a prefeitura (e, obviamente, as leis que ela tem que seguir) que não deixam a GVT cabear a cidade de São Paulo, que não deixam a SKY implantar sistema de internet pela rede elétrica e por aí vai. Estes são exemplos de “fechamento de mercado” que não são protecionismo (no sentido normal da palavra), mas que causam o mesmo efeito da questão dos importados (porque eu pago por um plano de 10 megas de internet o que um americano paga pelo de 100). É sempre a mesma causa: excesso de regulação, de falta de concorrência e a origem disso é a mentalidade antimercado que o brasileiro tanto adora.

 

* PROFESSOR, AUTOR DO BLOG “DEPÓSITO DE …”
Artigo original “É o governo, estúpido!” condensado por LIGIA FILGUEIRAS

  

FONTE DA IMAGEM: WIKIPÉDIA
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