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Esquerdas contra a intolerância e pela igualdade, onde está o vosso escândalo?

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Estamos encerrando a semana em memória da libertação dos escravos no Brasil. Em um 13 de maio como o último, mas em 1888, a saudosa princesa Isabel – assim como toda a família imperial, abolicionista desde sempre -, depois de muita luta de gigantes parlamentares como Joaquim Nabuco e de notáveis ativistas da causa, sancionou a Lei Áurea, pondo fim oficialmente a uma das manchas mais tristes de nossa história. A partir dali, pelas mãos da monarquia, vista hoje de forma enviesada como inteiramente carcomida e retrógrada, os brasileiros passaram a ser considerados, perante a lei, como seres humanos, que não diferiam substancialmente pela cor de pele ou por qualquer outra condição. Nabuco, ele próprio, alguém que se apresentava politicamente como vinculado ao pensamento liberal inglês de Gladstone. Muito distanciado, portanto, das bandeiras esquerdistas e socialistas que hoje se jactam de serem as defensoras da liberdade e da igualdade – igualdade que vale a pena, evidentemente, mas a que é possível: a da consideração como pertencentes, todos nós, à humanidade, e dignos dos mesmos direitos perante a lei. A senadora Vanessa Grazziotin, do PCdoB (que surpresa!), resolveu homenagear essa glória do Estado de Direito e estampar seu apreço à causa da igualdade e da tolerância fazendo um infeliz comentário a respeito do senador Ronaldo Caiado, do DEM.

O fato se deu durante a sabatina de Luiz Edson Fachin, a indicação de Dilma para o STF, em que o senador do Democratas agiu de maneira implacável, no cumprimento de seu papel de inquirir o eleito do petismo com a agudeza necessária. Ao continuar falando quando haviam entendido que deveria se deter, o senador foi repreendido por Vanessa com a seguinte declaração, em tom depreciativo: “não adianta, ele é autista, não escuta”. No momento, houve risadas no Plenário. Parecem não ter entendido o que aconteceu. Uma representante do Partido Comunista, uma integrante das hostes do esquerdismo – sempre com seu soberbo monopólio da virtude, acreditando-se o portador da mensagem do respeito e da defesa dos oprimidos e das minorias, acostumado a figurar a “direita” como sinônimo de discriminação raivosa, racismo e culto ao ódio -, estava considerando uma espécie de insulto comparar alguém a um autista.

Nas redes sociais, Caiado comentou que a senadora “não tem sensibilidade nem respeito para compreender a inteligência dos autistas”, e lembrou ter ajudado a aprovar uma lei em favor deles, declarando seu respeito por todos os que nasceram nessa condição e por seus familiares.  Vanessa, por sua vez, resolveu pedir desculpas públicas pelo comentário. Civilizadamente, podemos admitir que todos podem cometer erros e aceitar as desculpas da senadora, a despeito da abjeção de suas palavras. Mas uma vez que errássemos – isto é, algum “dos nossos”, alguém que combata as bandeiras demagógicas de partidos como o da senadora Vanessa -, receberíamos o mesmo tratamento? Não. “Eles” são sublimes e elevados o suficiente para amar e lutar pelos sofredores e desfavorecidos, pelos diferentes e pelas minorias, pelos negros, pelos pobres, pelos gays, pelas mulheres ou o que mais lhes vier à cabeça, mas não o seriam para perdoar um erro passível de exploração política.  Diante de nós, aqueles que discordam, eles têm a primazia do julgamento, o direito a legislar e decretar, condenar e promover escândalos para destruir reputações. Atrevamo-nos a dizer um ai, e estaremos logo sendo censurados por nosso “extremismo” e apontados como alvos de projetos “educativos” como o Humaniza Redes, um emblema da estupidez (ou esperteza, dependendo do ponto de vista) com que a esquerda reflete sobre o valor da liberdade de expressão. O ódio é sempre nosso. O amor, sempre deles.

Como bem disse Caiado, fosse ele a fazer o comentário, que repercussão veríamos hoje? Vários coletivos de universidades, organizações de “direitos humanos” ou blogs “progressistas” sairiam em defesa dos autistas, contra o “monstro ruralista, conservador e da extrema direita” que os tratou como referência para um insulto. Fosse um Bolsonaro, fosse um Constantino, fosse um Reinaldo Azevedo a dizer isso, que veríamos hoje? Uma histeria ensurdecedora. Nenhum pedido de desculpas, nenhuma contemporização, evitaria isso.

Pois então, esquerdas do meu país, bravas combatentes da intolerância, baluartes da igualdade, onde está o vosso escândalo? Onde está o seu apreço pelos seus valores e a sua ânsia por fazer barulho e policiar as palavras alheias, quando está em jogo, na posição de agredido, alguém que não convém às suas torpes convicções? Eu respondo: está no mesmo lugar em que ficou quando Paulo Ghiraldelli, o professor de Filosofia, publicou nas redes sociais uma incitação ao estupro da apresentadora de telejornal conservadora Rachel Sheherazade. Está no mesmo lugar em que ficou quando muitos de vocês se puseram a bradar contra a atitude indonésia de aplicar a pena de morte para traficantes – posição legítima, com a qual eu particularmente concordo, visto que também discordo da pena capital -, mas não manifestam nenhuma tristeza pelas vítimas dos fuzilamentos cubanos e os reprimidos da Venezuela. Quando o desumano tenta ensinar humanidade, eis o resultado. A hipocrisia de vocês não me pode causar nada além de asco.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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