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Fuja do homem que diz que o dinheiro é mau

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A seguinte frase é atribuída a Paulo, o apóstolo: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Timóteo – Capítulo 6, Versículo 10).

Desde que foi proferida, tal frase milenar é objeto de más interpretações e de releituras, mal-intencionadas ou não, especialmente por aqueles que possuem interesse na apropriação direta ou indireta do dinheiro, ou seja, do fruto da capacidade produtora do indivíduo.

A prática da “usura” já foi classificada como um pecado e condenada pela Igreja Católica e, repetidamente, grupos de interesse buscaram estigmatizar empreendedores, seu lucro, a propriedade privada e o dinheiro em si, rotulando aqueles que produzem de “exploradores”, “gananciosos” e “egoístas”.

Há mais de mil anos, certos questionamentos se apresentam de forma recorrente para a humanidade: o homem que abomina o dinheiro é um homem “santo”? Não seria o homem que brada ser o dinheiro produto da exploração do indivíduo, ele mesmo, o explorador? Devemos correr ao encontro ou fugir do homem que diz que o dinheiro é um mau?

Ayn Rand, filósofa criadora do objetivismo e romancista, brindou a humanidade com a resposta a tais questionamentos por meio de seu personagem, Francisco d’Anconia, em uma das mais célebres passagens de A Revolta de Atlas.

Tal passagem ficou conhecida como o “Discurso do Dinheiro”. Nas quase seis páginas pelas quais o discurso se estende, Rand (através de Francisco) realiza uma impecável defesa do dinheiro, não simplesmente como moeda de troca, mas sim como elemento que permitiu recompensar o indivíduo pelo uso da razão e, consequentemente, permitindo que tal incentivo constituísse o fator capaz de proporcionar o avanço humano:

“O dinheiro exige o reconhecimento de que os homens precisam trabalhar em benefício próprio, não em detrimento de si próprios. Para lucrar, não para perder. (…) De que é preciso lhes oferecer valores, não dores. De que o vínculo comum entre os homens não é a troca de sofrimento, mas a troca de bens. O dinheiro exige que o senhor venda não a sua fraqueza à estupidez humana, mas o seu talento à razão humana. Exige que compre não o pior que os outros oferecem, mas o melhor que ele pode comprar. E, quando os homens vivem do comércio – com a razão e não à força, como árbitro ao qual não se pode mais apelar –, é o melhor produto que sai vencendo, o melhor desempenho, o homem de melhor juízo e maior capacidade – e o grau da produtividade de um homem é o grau de sua recompensa. Esse é o código da existência, cujos instrumento e símbolo são o dinheiro. É isso que o senhor considera mau?”

O dinheiro é, portanto, fruto do trabalho produtivo humano. É a única forma por meio da qual um indivíduo pode ser recompensado pelo exercício de sua razão e ser capaz de exercer sua liberdade através da livre disposição de sua propriedade. O dinheiro é a forma que um indivíduo possui para ser remunerado por outros que valorizam seu talento e a excelência de seu desempenho.

Apesar de evidenciar as qualidades do dinheiro, a filósofa (por meio do referido personagem) não deixa de realizar uma ressalva e um alerta para os que buscam contrair valores sem os merecer: “O dinheiro é o flagelo dos homens que tentam inverter a lei da causalidade – aqueles que tentam substituir a mente pelo sequestro dos produtos da mente.”.

O dinheiro, apesar das potencialidades evidenciadas, segue sendo um instrumento, um meio, para Rand. Nenhum valor monetário é capaz de comprar caráter, virtude, admiração ou inteligência para o indivíduo que não os possua.

Na perspectiva da autora, seria esta característica do dinheiro que faria alguns indivíduos o apontarem como “mau”, já que, ao o obterem de formas indevidas (por meio de lágrimas ou de saques), e não como um fruto do seu desempenho e do exercício da razão, não veriam utilidade na moeda, por esta não ser capaz de comprar a coragem, o respeito ou a inteligência que lhes falta:

“O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humanos? O senhor o obteve servindo aos insensatos, na esperança de que lhe dessem mais do que sua capacidade merece? (…) Nesse caso, o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade. Todas as coisas que adquirir serão não um tributo ao senhor, mas uma acusação; não uma realização, mas um momento de vergonha. Então o senhor dirá que o dinheiro é mau. Mau porque ele não substitui seu amor-próprio? Mau porque ele não permite que o senhor aproveite e goze sua depravação? É esse o motivo de seu ódio ao dinheiro? Ele será sempre um efeito e nada jamais o substituirá na posição de causa. O dinheiro é produto da virtude, mas não dá virtude nem redime vícios. Ele não lhe dá o que o senhor não merece, nem em termos materiais nem espirituais.”

Desse modo, inexoravelmente, o juízo que determinado indivíduo faz sobre o dinheiro estará atrelado à forma como o obteve; se este foi fruto do seu talento, ele o ostentará orgulhosamente, como um troféu que lhe fora concedido pela excelência de seu desempenho.

Por outro lado, se o indivíduo o obteve por meios escusos, enganando, extorquindo, se apropriando indevidamente daquilo que não lhe era devido, seu juízo de valor sobre o dinheiro será negativo. O dinheiro, para tal indivíduo, será não um troféu motivo de orgulho, mas uma constante lembrança de sua incompetência ou de seus vícios de caráter.

Claro, também existirão aqueles que irão bradar aos quatro ventos e para quem quiser escutá-los que o dinheiro é o pior de todos os males, apenas para que seja capaz de expropriá-lo dos indivíduos que acreditarem em seu dissimulado discurso.

Assim, respondendo aos questionamentos feitos no início do presente ensaio: fuja! Como disse Francisco d’Anconia, na já mencionada obra da escritora russo-americana, corra para o mais longe possível do homem que diz que o dinheiro é um mau.

O dinheiro é o meio através do qual trocas voluntárias são permitidas pautadas no valor que determinado indivíduo confere ao esforço de outro indivíduo, cabendo a este a liberdade ou não de aceitar a valoração feita pelo terceiro sobre seu esforço.

No momento em que o dinheiro passa a ser transferido entre indivíduos sem que tal operação se dê a partir da livre vontade dos envolvidos na troca, no momento em que o dinheiro passa da propriedade daqueles que merecidamente o ganharam para a propriedade de saqueadores institucionalizados, no momento em que o dinheiro é deslocado da posse dos que criam e produzem para a posse dos inertes e tecnicamente incapazes, nesse momento, ocorre a quebra do princípio moral do dinheiro de que fala Rand (por meio do personagem Francisco d’Anconia).

Para Ayn Rand, o dinheiro é o barômetro da virtude da sociedade. Quando o dinheiro deixa de ser obtido de forma honesta, sendo embolsado por indivíduos incapazes ou corrompidos, quando, por meio de leis, a liberdade dos que realizam é cerceada, de modo a coercitivamente promover a transferência de sua propriedade para os que não realizam (mas que a tudo querem tomar), tal barômetro certamente apontará uma queda da virtude em determinada sociedade.

O mencionado discurso de Francisco segue atual e são repetidas as tentativas de, por meio de normas legais, tributação, decisões judiciais e políticas inflacionárias, se expropriar à força o dinheiro fruto do produto da razão humana, apenas para vê-lo enriquecer aqueles que o obtém através práticas corruptas e tráfico de influência.

Quando o dinheiro é expropriado do indivíduo pelo Estado, diretamente por meio de impostos ou indiretamente por meio de políticas inflacionárias, independentemente da finalidade por meio da qual se busca “justificar” a referida apropriação, o que se está expropriando do indivíduo não é apenas um mero meio de troca, mas sim o produto do exercício da razão e propriedade desse indivíduo.

O tempo é o recurso mais escasso do planeta e, portanto, o recurso mais precioso. Cada minuto que passa se torna de propriedade da “morte”. No entanto, já refletiu sobre o quanto de seu tempo produtivo um indivíduo deve destinar ao Estado para que arque com a expropriação coercitiva de sua propriedade (cinicamente nomeada de “impostos”) por aqueles que do seu dinheiro se apropriam? Em outras épocas, tal trabalho compulsório teria sido caracterizado com outro nome.

Ao se punirem os indivíduos que, por meio da excelência de seu desempenho, criam, produzem e geram valor para a sociedade, e, ao se recompensarem aqueles que não produzem (e que ainda se apropriam do valor gerado), claramente se está incentivando não a produção, mas a expropriação. Quando isso acontece, ao invés de uma força motora capaz de gerar os avanços que hoje a humanidade possui a possibilidade de usufruir, a sociedade se encaminha a uma marcha que tem por estação final a sua própria ruína.

Por todo o exposto, sob a perspectiva trazida, o dinheiro definitivamente não é um mau; na verdade, é o elemento que nos permitiu evoluir e seguir evoluindo como humanidade. Sem sua invenção, nós não teríamos alcançado os avanços que permitiram o aumento crescente na qualidade de vida dos indivíduos a nível global; pelo contrário, estaríamos rumando ao fracasso (como acontece e aconteceu com aqueles que buscam subverter ou diluir o valor do dinheiro – a exemplo de nossos vizinhos: Argentina e Venezuela).

O “Discurso do Dinheiro”, uma moeda forte e o princípio moral intrínseco ao dinheiro foram capazes de cumprir muito mais as promessas de “melhora de vida” do que os discursos de “distribuição” (expropriação) de renda e de abolição da propriedade privada que tanto se apresentam como capazes promover a referida melhora.

Uma moeda forte é fundamental para permitir o exercício das liberdades individuais, a partir da manutenção, a longo do prazo, do valor da remuneração obtida por determinado indivíduo por meio do exercício de sua razão.

Como o economista Saifedean Ammous bem acertadamente aponta, o abandono do padrão-ouro, somado às práticas oriundas de políticas inflacionárias aplicadas a partir do século XX, que corroem o valor da moeda e a propriedade dos indivíduos, foram os fatores que permitiram o surgimento de governos intervencionistas com tendências autoritárias e totalitárias crescentes.

Contudo, ainda que a realidade demonstre o contrário, sempre existirão aqueles que (intencionalmente ou não) irão escolher ignorá-la, aqueles que irão seguir condenando os que detém o dinheiro fruto de seu talento e da excelência de seu desempenho.

Se é certo que não se esgotarão as tentativas de apontar o dinheiro como um mau em si mesmo, e que os que não produzem seguirão tentando restringir a liberdade daqueles que produzem ao buscar expropriar (direta ou indiretamente) sua propriedade, que a liberdade, então, siga sendo como o fogo – transforme em combustível tudo o que for contra ela atirado.

*André Paris – Associado II do Instituto Líderes do Amanhã.

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