E se a história de “O segredo de seus olhos” fosse no Brasil?
Eu assisti nessas férias a um filme argentino chamado “O segredo de seus olhos”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Para quem não assistiu, segue um breve contexto:
O enredo se passa durante a ditadura militar argentina, quando ocorre um estupro seguido de assassinato de Liliana Colotto. A dupla Benjamin Espósito e Saldoval são os investigadores responsáveis pelo caso e prometem ao marido, Ricardo, colocar o culpado na prisão perpétua. Rapidamente eles descobrem o culpado, Isidoro Goméz, e é na busca por Goméz que a história fica interessante.
Sedentos por justiça, Sandoval e Espósito seguem o rastro de Goméz e, para tal, invadem sem mandato de justiça a casa de sua mãe para buscar cartas que poderiam indicar o paradeiro dele. O juiz responsável pelo caso, La Calle, descobre a violação da dupla e resolve arquivar o caso (ele havia recusado o mandado de busca e apreensão na casa da idosa antes por vingança pessoal a Espósito). Eis que ambos pedem ajuda a outra juíza, Irene – que é a paixão de Espósito, mas não vem ao caso no momento. Ela falsifica a assinatura de La Calle e viola um documento público para parecer que o caso segue em investigação.
Utilizando as cartas encontradas na casa da mãe de Goméz, Sandoval descobre a paixão do estuprador pelo Racing Club e eventualmente acaba prendendo-o no estádio da “Academia”. Sabendo que possuem poucas provas contra Goméz, Espósito e Irene o interrogam sem o seu advogado (algo que o filme deixa claro que é ilegal pela lei argentina) e, utilizando algumas artimanhas, conseguem uma confissão e, assim, Goméz vai para a cadeia.
Fico imaginando se tal caso ocorresse no Brasil na vida real e como os “garantistas” se comportariam.
Algum ministro do STF possivelmente daria um habeas corpus de imediato para Goméz*. Augusto De Arruda Botelho estaria no MyNews no outro dia pedindo a prisão de Espósito, Irene e Sandoval. Fariam uma live no UOL com Goméz para denunciar os abusos do Estado Brasileiro. Iniciariam uma campanha de arrecadação para pagar o advogado. No The Intercept Brasil, haveria uma série de entrevistas de intelectuais de esquerda dizendo que prender não funciona.
Com sua confissão cancelada, o crime de Goméz acabaria prescrevendo e ele acabaria se tornando uma celebridade do Youtube ou um líder religioso. Estou certo ou alguém aí tem alguma dúvida de que o crime no Brasil compensa?
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca por Conrado Abreu.
*A não ser, claro, se descobrissem pelas redes sociais que Goméz é apoiador do Bolsonaro ou fã do Danilo Gentili. Nesse caso a patotinha ia desaparecer e Goméz seria cancelado no twitter.