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Clima de revolta contagia o ‘Grande Oriente Médio’

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LIGIA FILGUEIRAS*

Tunísia -17 de dezembro, 2010. Um vendedor de frutas com formação universitária põe fogo ao corpo em protesto. Mohamed Bouazizi, 26 anos, ficou furioso quando um fiscal da prefeitura, que tentou confiscar suas maçãs, deu-lhe um tapa no rosto porque Bouazizi quis pegar de volta as frutas. O vendedor apanhou, em seguida, de dois colegas do fiscal. Com queimaduras em 90 por cento do corpo, Mohamed Bouazizi morre no hospital. Estava acesa a chama da revolta que derrubaria o governo da Tunísia, muitos anos no poder, e se espalharia pelo Oriente Médio e Norte da África.

Egito – 25 de janeiro, 2011. Inspirados pela queda do ditador da Tunísia, milhares reúnem-se nas ruas do Cairo e em outras cidades do Egito para denunciar o regime de Mubarak, há 29 anos no poder. 11 de fevereiro – Depois de 18 dias de manifestações, o vice-presidente Suleiman anuncia na televisão a renúncia oficial de Mubarak. Assume o poder o Conselho Supremo das Forças Armadas. A multidão comemora com muita festa nas ruas do Cairo e principalmente na Praça Tahrir. 18 de fevereiro. Nova comemoração: uma semana da saída de Mubarak. O povo cobra das autoridades a democratização do País.

Jordânia – 28 de janeiro, 2011. Estimulados pelo clima de revolta da região, jordanianos vão às ruas protestar: estão diante da maior crise econômica do país dos últimos anos e de crescente corrupção no governo. Os manifestantes se queixam do aumento nos preços e pedem a saída do primeiro ministro Samir Rifai e seu gabinete. O desafio não se estende ao rei que demite Rifai e convida ex-general do Exército a formar novo gabinete. Os jordanianos protestam contra o novo primeiro-ministro. Representantes do governo dos EUA se reúnem com o rei Abdullah II como parte de uma ofensiva diplomática para tentar intervir na região. A Jordânia é importante aliado dos EUA. 18 de fevereiro: confronto entre manifestantes contra e pró-governo em Amã.

Síria – 4-5 de fevereiro. Campanha online organiza “dias de fúria” contra o presidente sírio Bashar Assad, mas NINGUÉM aparece. Intimidação por parte de agentes de segurança e forte apoio às posturas anti-Israel de Assad. Muitos dos organizadores são sírios que moram fora do país. Depois de três anos banidos, o Facebook e o Youtube ficam disponíveis ao público. Quem se habilita a mais uma tentativa de “dias de fúria”?

Kuwait – 6 de fevereiro. O ministro do interior renuncia em meio à convocação nas redes sociais para manifestações nas ruas. Os organizadores listam acusações de corrupção e tentativas explícitas de restrição da liberdade política. O ministro do interior é substituído por um parente do rei, enquanto opositores do regime programam nova demonstração para o dia 8 de março. 18 de fevereiro – a polícia usa bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água para dispersar manifestação de cerca 1000 apátridas residentes na região ocidental da Cidade do Kuwait. Eles querem mais direitos civis.

Irã – 11 de fevereiro, 2011. Muitas horas antes da saída de Mubarak, o presidente Ahmadinejad conclama os egípcios a continuarem seus protestos, a se “libertarem” e escolherem seus próprios líderes e própria forma de governo. Num gigantesco comício patrocinado pelo mesmo Ahmadinejad para comemorar o 32º aniversário da revolução islâmica no Irã, o presidente diz que as revoltas no mundo árabe foram inspiradas na luta de seu país contra as forças ocidentais. Três dias depois, SURPRESA!: uma enorme demonstração antigoverno volta a acontecer em Teerã, dois anos depois da violenta repressão às manifestações populares no país. Apoiadores do regime pedem a cabeça dos opositores. O Aiatolá Jannati ameniza: sugere prisão domiciliar permanente. Domingo, 20 de fevereiro: programada nova manifestação antigoverno.

Iêmen, 11 de fevereiro, 2011 – Inspirados nas revoltas ocorridas no Egito e Tunísia, começam protestos antigoverno. Três dias depois, novos confrontos com os apoiadores do regime do presidente Ali Abdullah Saleh, há 32 anos governando um empobrecido país. Depois de prometer não concorrer nas próximas eleições nem indicar seu filho para substituí-lo, o governante obtém a boa vontade da oposição para trocar ideias. SURPRESA: ativistas antigoverno retaliam com fúria bandos de apoiadores de Saleh, fortemente armados. Vale tudo: tubos de metal, pedaços de pau, e até punhais. 18 de fevereiro: oposição e apoiadores de Saleh se enfrentam, de novo

Bahrein – 14 de fevereiro. Repressão nas ruas: manifestantes enfrentam balas de borracha e chumbo fino para exigir mais liberdade no país, de relativa riqueza. A polícia usa vans e outros veículos bloqueando as principais vias da capital Manama para impedir a manifestação em tributo aos acontecimentos da Praça Tahrir, no Egito. É aniversário da Constituição de 2002 de Bahrain que passou a ter um parlamento eleito e fez outras reformas pro-democracia. Em Bahrain fica estacionada a 5ª Frota da Marinha americana, de importância estratégica fundamental para obstruir a expansão da influência iraniana na região. 18 de fevereiro – milhares de manifestantes se reúnem em apoio ao rei, um dia depois da repressão aos opositores e da declaração de estado de emergência. Veículos blindados ocupam uma ponte acima da Praça Pearl onde, na véspera, a polícia de choque dispersou manifestantes, em sua maioria xiitas.

Argélia – 12 de fevereiro. Em grande desvantagem numérica para a polícia, milhares de argelinos desafiam as advertências do governo e se desviam de barricadas para manifestação em prol de reformas democráticas. Era o dia seguinte à deposição de Mubarak no Egito. Os manifestantes cantam “Não ao Estado policial!” e “Devolvam-nos nossa Argélia.” Mais de 400 são detidos de um total estimado em 10 mil participantes. Ao longo de janeiro, ocorreram saques de alimentos em diversas partes do país. Bancários e servidores de hospitais lideraram greves reivindicando aumento salarial e benefícios. 19 de fevereiro – programada outra manifestação organizada por um grupo denominado “Coordenação para a Mudança Democrática na Argélia”.

Líbia – 16 de fevereiro. Centenas de manifestantes ocupam as ruas da capital Trípoli, exigindo a derrubada do governo. Manifestações também em Benghazi, querendo a renúncia do Primeiro Ministro. Os líbios recorrem ao Facebook para organizar mais protestos no dia seguinte. 17 de fevereiro. “Dia de fúria” para os manifestantes. Eles desafiam a repressão das autoridades e promovem protestos em quatro cidades. No confronto com grupos pró-governo, 20 opositores são mortos. 14 presos. Centenas de manifestantes pró-governo reúnem-se na capital Trípoli, bloqueando o tráfego em algumas áreas.

Iraque – 16 de fevereiro. O governador de uma remota província no sul do Iraque é forçado a fugir quando manifestantes invadem seu gabinete durante violentas manifestações. Eles protestavam pelos péssimos serviços públicos e corrupção, quando a polícia abriu fogo. Três mortos e 50 feridos. A nova democracia iraquiana ainda vacila e mostra potencial para revoltas. 17 de fevereiro. No Curdistão, enclave pacífico no norte iraquiano, jovens atiram pedras na sede do Partido Democrático Curdo; a polícia reprime a bala, dois morrem, 40 feridos.

Marrocos – 20 de fevereiro. Protestos marcados por blogueiros, que se intitulam “Movimento marroquino de 20 de fevereiro”, como desafio a uma monarquia que, segundo eles, vem monopolizando o poder.

12 regimes, muitas semelhanças, importantes diferenças e um mesmo momento histórico: a revolta do povo.

*JORNALISTA

Fonte: Washington Post / News, “Middle East in turmoil”, February 18, 2011

Fonte da imagem: Wikipédia

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