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China autoriza Mao Yushi a receber Prêmio Milton Friedman nos EUA

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CATO INSTITUTE / LIGIA FILGUEIRAS*

O economista Mao Yushi recebeu na sexta-feira, 4 de maio, o Prêmio Milton Friedman pela Promoção da Liberdade, concedido a cada dois anos pelo Cato Institute, depois de muitos dias de tensão durante os quais parecia iminente sua detenção pelas autoridades chinesas. “Estamos aliviados com o fato de as autoridades chinesas terem mantido sua palavra”, disse o fundador e presidente do Cato, Edward H. Crane. “Tendo em vista o atual ambiente político na China, estávamos preparando um programa alternativo caso o evento tivesse que ocorrer sem nosso homenageado.”

Para a cerimônia, o Cato Institute preparou um vídeo sobre o vencedor do Prêmio:

“Mao Yushi: Recipient of the 2012 Milton Friedman Prize for Advancing Liberty”

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Sob diversos aspectos a China evoluiu muito desde a morte de Mao Tsé-Tung, 35 anos atrás. A reforma econômica, a modernização e a prosperidade elevaram a China ao status de um importante parceiro no cenário mundial. Mas dentro da China vêm se travando lutas internas intensas sobre ideias e políticas públicas. Vozes liberais vêm advogando a liberdade individual e a economia de mercado e os decorrentes direitos de propriedade privada. Um grupo crescente de marxistas advoga ainda as mesmas ideias do século passado. Entre as diversas vozes neste fogo cruzado, uma resistiu ao teste do tempo e tornou-se um ícone entre os que defendem a promoção da liberdade: MAO YUSHI, economista, 83 anos. Ele tornou-se um herói dentro do movimento liberal.

James A. Dorn[1]: _ Mao Yushi não foi treinado como economista: ele era engenheiro formado, basicamente, na velha escola da União Soviética. Chegou às suas conclusões a partir de experiências reais.

Yushi nasceu em 1929 na capital Nanquim um ano depois que Chiang Kai-shek havia assumido a liderança do Kuomintang, unindo o país e tornando-se o líder da República da China. Mao Yushi cresceu numa família intelectual, rodeada de livros sobre música, literatura artes e ciência. Ele tinha 28 anos e estudava Engenharia na Universidade de Jiao Tong em Xanghai quando a Revolução do Povo conduziu Mao Tsé-Tung e o Partido Comunista ao Poder, em 1949. Como todo chinês na época, Yushi apoiou entusiasticamente o novo governo.

Mao Yushi: _ O Partido Comunista, na época, era muito atraente para as pessoas, seja dentro ou fora da China. Havia uma grande esperança de que, depois de cem anos de guerras – seja internas ou externas -, o povo iria, então, desfrutar de paz. Iríamos construir nossa nação.

Depois da graduação, Yushi deveria seguir os passos de seu pai, tornando-se engenheiro de estradas de ferro. Não muito depois do entusiasmo pelo novo governo seu líder carismático desapareceu do cenário. Numa série de campanhas para solidificar o poder, o presidente Mao voltou-se contra os antirrevolucionários, rivais políticos, capitalistas, e outros opositores suspeitos. Milhões foram torturados e executados. Em 1957 Yushi foi rotulado de “direitista”, expulso do Partido Comunista, e enviado para o campo para ser reeducado através de trabalhos pesados. Para não morrer de fome, comia gafanhotos.

Mao Yushi: _ Depois que o Partido Comunista chegou ao Poder, a China mudou o sistema econômico de economia de mercado para o de economia planejada e pouco a pouco pudemos ver que a oferta não podia atender a demanda. No ano de 1957 expressei um ponto de vista contrário à economia planejada. Essa foi uma das razões pelas quais fui perseguido.

Logo depois, o Presidente Mao implantou a Revolução Cultural, devastou a economia, criou o caos social e condenou milhões de chineses a uma terrível morte. A família de Mao Yushi teve seus bens confiscados, foi presa e humilhada publicamente, mas sobreviveu.

Com a morte de Mao Tsé-Tung em 1976, Mao Yushi teve um recomeço de vida.

Tom G. Palmer[2]: __ O Professor Mao era formado em Engenharia, mas tinha um profundo conhecimento da realidade econômica. Nos anos 1950 foi punido por ter dito “Se não há mercado de oferta, deve-se deixar os preços subirem.” Ele já percebia que a economia de comando não funciona. Quando a China começou a se abrir de novo, em 1978, com Deng Xiaoping e as reformas econômicas em curso no país, surgiu a oportunidade para Mao Yushi dar um passo adiante e começar a articular suas ideias econômicas.

Mao Yushi foi convidado a se reintegrar no Partido Comunista. Ele recusou e, ao invés disso, abriu seu caminho independente para uma defesa incansável da liberdade individual, da economia de mercado e da propriedade privada. Em 1993 Mao Yushi fundou, com outros parceiros, um instituto – Unirule Institute of Economics – que dirige até hoje, um think tank voltado para a pesquisa e a troca aberta de ideias.

Em 2002 Yushi estabeleceu um instituto beneficente educacional visando tornar acessível o microcrédito e o treinamento vocacional para ajudar as pessoas pobres a melhorarem de vida através da economia de mercado. E ele foi um dos primeiros a assinar um documento politicamente explosivo advogando a separação dos poderes, a igualdade perante a lei e a liberdade individual. Mas foi em abril de 2011 que Mao Yushi desencadeou uma tempestade de fogo. Num ensaio criticando Mao Tsé-Tung [“Returning Mao Zedong to Human Form / Restore Mao Zedong as a Man“], Yushi propunha uma reavaliação nacional do impacto e legado do ex presidente:

“Temos ainda que compreender plenamente que Mao era um homem, não um deus. Somente quando nos livrarmos do mito e da superstição em torno dele, poderemos, finalmente, julgá-lo.” __ Mao Yushi

Alegando que o ex-presidente trouxe calamidade para todo o país, a crítica põe a nu as fraquezas pessoais de Mao Tsé-Tung e seus erros políticos que custaram a vida de milhões de pessoas. A reação de facções da esquerda foi rápida e implacável. O site “Utopia” publicou uma petição on line exigindo sua condenação. Mao Yushi se viu cercado por denúncias públicas e ameaças de morte. Ele não recuou.

Mao Yushi: __ Por trás do problema das diferenças de renda está, em grande parte, a falta dos direitos de propriedade.

Ele alertou para a necessidade da liberdade de expressão e do Estado de direito.

Yu Jie[3]: A economia chinesa evolui rapidamente nas duas últimas décadas. No entanto, o sistema político ainda segue à sombra de Mao Tsé-Tung. Agora as ideias influenciam as pessoas e precisam ser examinadas. Eles impedem a China de mudar seu rumo e estabelecer a liberdade e a democracia.

Richard McGregor[4]: O artigo foi impactante porque abordava a questão do legado de Mao e, por conseguinte, a dinâmica do Partido Comunista, o que remete às raízes do poder na China.

Enquanto a China abraça a ideia de uma transição de liderança no poder, o governo aumenta a pressão sobre o povo e as instituições. O futuro da China parece ainda incerto. Mas uma coisa está bem clara: a voz de Mao Yushi em defesa da liberdade econômica e individual não será silenciada porque ele aponta, sem medo, o caminho que a China deve seguir.

James A. Dorn: __ Acho que o legado de Mao Yushi será o de que ele trouxe ao debate a questão do Estado de direito na China e enfatizou o fato de que a ordem espontânea em uma sociedade que vive em harmonia resulta de leis que protegem a liberdade individual e os direitos de propriedade.

Richard McGregor: __ Muitas pessoas estão despertando e seguindo seu alerta; elas acreditam numa China mais liberal, não necessariamente democrática como no modelo dos EUA, mas acreditam nas ideias que fundamentam uma sociedade livre e estão querendo lutar por elas.

Yu Jie: __ Do meu ponto de vista, a conquista do Prêmio Milton Friedman por Mao Yushi tem uma importância próxima à do Prêmio Nobel Liu Xiaobo dois anos atrás. Este é um Prêmio muito importante para os dissidentes chineses.

James A. Dorn: _Milton Friedman ficaria muito feliz de ver a entrega do Prêmio Milton Friedman a Mao Yushi. Friedman esteve conosco na China em 1988 quando realizamos nossa primeira conferência naquele país. Ele era um grande estudioso das reformas econômicas na China.

Tom G. Palmer: __ Quando as pessoas olharem daqui a cem anos para o desenvolvimento atual da China, o Professor Mao Yushi será visto como uma das figuras mais importantes. Alguém que, com calma e paciência, promoveu as reformas corretas, apoiou o governo quando ele tomou a direção certa e se manteve firme contra um retrocesso, o que é sempre um perigo muito sério na história da China. Acho que ele vai ser lembrado como um dos grandes patriotas e um dos verdadeiros pioneiros da China do século XXI.

Por mais de meio século Mao Yushi defendeu publicamente a liberdade na China. Foi perseguido inúmeras vezes, encarcerado, posto na lista negra, humilhado, vilipendiado publicamente, e ameaçado de morte. O espírito inquebrantável e o inabalável compromisso de Mao Yushi fazem dele um poderoso e resistente símbolo da liberdade individual na China e em todo o mundo.

* CATO VIDEO, Cato Institute, May 4, 2012 / EDITORA DO IL

Ref. da imagem: Cato Institute


[1]  Vice-presidente de Assuntos Acadêmicos

[2] Senior Fellow, Cato Institute

[3] Escritor independente

[4]  Ex-chefe da sucursal China, Financial Times

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