A lenda da organização sem cabeça
BERNARDO SANTORO*

Ontem a ex-Chefe de Gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, foi demitida pelo CGU e nunca mais poderá voltar a ocupar um cargo público federal. Junto com ela, temos uma série de pessoas ligadas ao escândalo da Operação Porto Seguro já presas ou demitidas. Só que, até agora, não se chegou ao chefe da quadrilha.
Como já é quarta ou quinta vez, nos últimos dez anos, que se prende toda uma quadrilha sem se achar o chefe, criou-se no Brasil uma nova lenda: a lenda da organização sem cabeça.
Entra escândalo, sai escândalo, ninguém consegue chegar ao chefe da organização. No escândalo do mensalão, todo mundo foi julgado, mas a pessoa que indicou todos os condenados aos cargos que ocupavam (salvo os deputados envolvidos) foi inexplicavelmente blindada.
Tal fenômeno também ocorreu com os dólares na cueca, com o Gamecorp-Telemar, e assim sucessivamente.
Qualquer pessoa com o mínimo de experiência administrativa sabe que é praticamente impossível não saber, em algum momento, os desmandos que estão ocorrendo na estrutura abaixo da chefia.
Destaca-se que a Chefia de Gabinete, dentro da estrutura de cargo público, é a maior função de confiança dentro do gabinete de um político.
Mas porque nunca se chega a esse cabeça? Enquanto isso não acontecer, nada vai mudar de verdade. Com o cabeça da organização solto, a existência de mais desvios, roubos e tráfico de influência é só questão de tempo.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL