10 indicações de leituras de liberais brasileiros (II – Final)
Para você, nosso leitor, que deseja se aprofundar no conhecimento do pensamento liberal, selecionamos dez preciosidades nacionais sobre o tema, escritas por grandes nomes como Roberto Campos, Meira Penna e Miguel Reale. Confira!Para ler a primeira parte, clique aqui. Segue abaixo a segunda e última parte da relação:
6 ° – “O Liberalismo, antigo e moderno” – José Guilherme Merquior
José Guilherme Merquior morreu precocemente no ano de 1991 aos 49 anos de idade, mas deixou uma vasta obra sobre economia, ideário liberal e crítica literária. E nessa obra, Merquior mostra as influências do historiador francês Raymond Aron, de quem foi aluno nas terras de Napoleão Bonaparte. O livro apresenta uma história crítica de três séculos da ideia liberal. Trata-se de uma síntese indispensável para o entendimento do mundo contemporâneo. Publicado poucos meses antes de sua morte, é como se este livro fosse ainda mais atual hoje em dia, pois José Guilherme Merquior descreve o liberalismo como uma autêntica visão do mundo, composta por preocupações políticas, econômicas e filosóficas. Em um dos capítulos e páginas do livro, o autor descreve:
“Os novos liberais queriam programar o potencial para o desenvolvimento do indivíduo que fora caro a Mill em seguimento a Humboldt, e ao fazê-lo pensaram no direito e no Estado como instituições habilitadoras. Esta preocupação com a liberdade positiva levou-os a ultrapassar o Estado minimalista.”
7 °- “Carnavais, malandros e heróis” – Roberto DaMatta
Professor emérito da Universidade Notre Dame, nos Estados Unidos, antropólogo e colunista do jornal O Globo. O pensador nascido em Niterói-RJ tem um perfil liberal afinado com o ideal tocquevilliano de defesa da democracia, com ênfase na salvaguarda da liberdade individual e na visão pluralista de cultura. DaMatta busca retornar ao viés da crítica republicana liberal às instituições brasileiras, que já tinha sido efetivado, no século XIX. E no livro, DaMatta relaciona as festividades de Carnaval com as origens do patrimonialismo brasileiro, descrevendo práticas como o famoso “jeitinho brasileiro”, relacionando-as às bases do nosso Estado, que segundo o autor são anti-liberdade e conspiram contra o bem comum. Em um dos trechos do livro, DaMatta diz:
“No Brasil, parece que deixamos as instituições totais para áreas mínimas do sistema social. É como se houvesse um preconceito contra os grupos preocupados em definir suas fronteiras externas e internas por meio de uma ética forte. Tais grupos, como a Igreja e as Forças Armadas, são, tudo parece indicar, os únicos que – no Brasil – atuam em escala nacional como verdadeiras instituições totais.”
8° – “Estado, história e memória: Varnhagen e a construção da identidade nacional” – Arno Wehling
O ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil tem dado uma contribuição importante para a compreensão do surgimento das instituições brasileiras, consolidadas, no século XIX, sob a égide do liberalismo com um toque conservador Saquarema que empolgou a geração de estadistas no período imperial. O livro é um valioso estudo do pensamento histórico brasileiro e suas múltiplas relações com as estruturas de poder. Distinguindo na obra do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, o visconde de Porto Seguro (1816-1878), a análise científica e as estratégias da memória social, Arno Wehling destaca o papel de ambos os procedimentos para afirmar um determinado modelo de Estado e nação. Ao longo do livro, Wehling diz:
“A situação no Brasil era atípica em relação à Europa, e Varnhagen se adaptava a ela. Não havia anacronismo em buscar estabelecer para o país um Estado e uma sociedade nos moldes do Antigo Regime. Ainda que na Europa, após as revoluções de 1848, as discussões tenham voltado para a disputa entre burgueses e socialistas, isso não faz de Varnhagen um nostálgico, pois é mais um entre os defensores do modelo pré-liberal, que, entretanto, amoldaram-se pragmaticamente como tantos outros conservadores às circunstâncias que determinaram a prevalência do modelo constitucional liberal.”
9° – “Liberalismo e Justiça Social” – Ubiratan Borges de Macedo
O jurista, historiador e filósofo falecido em 2007 foi conhecido por estudar o campo cultural e a sua influência em uma sociedade livre. No livro, Ubiratan vem trilhar um caminho contando desde a discussão dos pensadores do chamado liberalismo clássico até a formação da constituição brasileira de 1988 e a cultura do país, mostrando uma bela discussão rica de fontes e erudição, com esse caminho representado em doze capítulos – sendo plural em sua composição e um retrato fiel das articulações e movimentos dos lutadores liberais que traziam as mesmas ideias que defendemos bem antes de nós e a sua influência na sociedade, trazendo a problemática liberal da justiça social. Em uma das partes do livro, Macedo diz:
“Para se ter uma ideia do impacto keynesiano é preciso distinguir, como sugeriu Elie Cohen, o modelo do programa keynesiano seria a contribuição teórica e complexa e de avaliação complexa, bastando rememorar o apreço que Hayek, que se imaginava o anti-Keynes, tinha por ele.”
10° – “O que é Liberalismo”? – Donald Stewart Jr.
Filho de canadenses, Donald Stewart Jr. foi o fundador do Instituto Liberal e de mais seis think-thanks liberais em todo o país. O engenheiro de formação e pensador de hobby que escreveu inúmeros artigos e livros buscou nessa obra colocar de forma bastante simplificada e didática o pensamento liberal. Stewart Jr. mostra que o pensamento liberal tem por origem as oposições feitas por pensadores socialistas sobre o campo econômico, como a famosa argumentação de que a economia é um jogo de soma zero, sendo o liberalismo uma doutrina voltada para as melhorias gerais do gênero humano, com o intuito de reduzir a pobreza e a miséria por meio da liberdade. Na introdução, Stewart Jr, diz:
“No Brasil, a ideologia dominante, o intervencionismo, que tem impedido o nosso país de ser uma nação livre e desenvolvida, é sustentada – ainda que por razões e com intensidades diferentes – pelos socialistas que idolatram o Estado; pelos empresários poderosos que não querem correr o risco do mercado; pelos conservadores que se opõem a mudanças; pelos militares que combatem o comunismo, mas estatizam a economia; pelos sociais-democratas que são liberais em política e socialistas em economia; pelos políticos populistas que usam o Estado para dar consequência a sua demagogia; pelos intelectuais que veem no Estado a única chance de se projetarem; pelos burocratas das estatais, que não querem perder suas vantagens e suas mordomias; pelos religiosos e por todos aqueles, enfim, que , sensíveis às necessidades dos mais carentes, defendem de alguma forma o Estado Provedor, sem perceber que esse não é o meio adequado para minorar o infortúnio dos mais pobres. O liberalismo se insurge contra essa ideologia dominante, contra os que a sustentam. Liberalismo é liberdade política e liberdade econômica; é ausência de privilégios; é igualdade perante a lei; é responsabilidade individual; é cooperação entre estranhos; é competição empresarial; é mudança permanente; é a revolução pacífica que poderá transformar o Brasil no país rico e próspero que inegavelmente pode vir a ser.”