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Preços livres ainda são o melhor remédio contra o desabastecimento

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Estive hoje cedo na farmácia, entre outras coisas, para comprar repelentes contra mosquito. As prateleiras, ao contrário do que ocorreu mês passado, quando não se conseguia obter o produto nem no mercado negro, estavam bem sortidas, com várias marcas a disposição. Os preços, por, outro lado, estavam bem mais altos do que antes da divulgação do surto de Zika, em novembro. Numa rápida pesquisa na internet, descobri que, de acordo com pesquisa do Procon-SP, os preços dos repelentes no mercado subiram até 62%, para algumas marcas.

É óbvio, e não precisa ser nenhum economista para saber, que foi a alta dos preços que fez os repelentes voltarem às prateleiras. Mas nem todo mundo pensa assim. A diretora executiva do Procon (SP), Ivete Maria Ribeiro, por exemplo, esclarece que a prática, independentemente de onde vem, é ilegal: “É uma cadeia de solidariedade … entre o comerciante, o fabricante, o importador, etc. O Procon pode atuar em toda a cadeia de fornecimento. O Código de Defesa do Consumidor, no artigo 39, diz que o fornecedor não pode aumentar o preço de um produto ou serviço sem justa causa”.

Mas será que não houve justa causa?

À primeira vista, a maioria das pessoas concordaria que o aumento “abusivo” dos preços deveria ser coibido.  O argumento corrente é que seria moralmente condenável um comerciante aproveitar-se de uma situação de emergência para obter lucros exagerados. Como diria Bastiat, isso é o que se vê.  Mas há também aspectos que não se veem, os quais, se bem analisados sob a ótica econômica, podem nos levar a concluir que os aumentos abruptos de preço, em circunstâncias extremas, tendem ser benéficos e, se proibidos fossem, poderiam piorar uma situação já ruim.

Caso os preços fossem congelados, muitas pessoas se sentiriam compelidas  a comprar unidades extras do produto, independentemente da real necessidade. Reportagem do Jornal Nacional, por exemplo, entrevistou uma consumidora que, em dezembro, ao achar o repelente numa farmácia, adquiriu cinco unidades, “como precaução”. Se os preços forem congelados e muita gente fizer o mesmo que aquela consumidora, haverá enorme escassez e as pessoas que necessitam mais urgentemente do produto, como crianças, idosos, grávidas, doentes crônicos, etc., sairão perdendo.

Já com os preços lá no alto, as pessoas que não precisam do repelente com tanta urgência, seja porque ainda têm algum estoque ou porque dispõem de soluções alternativas, comprarão e utilizarão o produto com maior parcimônia, não por caridade ou elevado senso moral, mas por apreço a seus próprios bolsos.

Finalmente, o aumento dos preços irá incentivar os fornecedores, sejam produtores ou distribuidores, a disponibilizar maiores quantidades do produto, ou até mesmo importá-lo. É a miragem dos preços altos que faz com que os produtores invistam no aumento da capacidade de produção e os comerciantes no aumento dos estoques.  No mesmo diapasão, se não houver a possibilidade de cobrar preços muitas vezes considerados “abusivos”, os fornecedores externos certamente não teriam como vender seu produto no mercado local, via impostações.

Portanto, sem a motivação dos preços altos, nem fornecedores teriam incentivo para aumentar o abastecimento num momento de escassez, nem consumidores teriam incentivo para economizar. É assim que a lei da oferta e da demanda funciona. A alternativa é tabelar os preços, retirar os incentivos, tanto de produtores quanto de consumidores, e assistir à falta de mercadorias nas prateleiras, como acontece atualmente na Venezuela, por exemplo.

É claro que a solução ideal, principalmente na cabeça dos demagogos e oportunistas, seria o aumento da oferta e a concomitante manutenção ou redução dos preços. Não por acaso, tabelamentos de preços já foram testados uma infinidade de vezes mundo afora, sempre com resultados diametralmente opostos aos planejados pelos “çabios” que os conceberam.  Simplesmente porque “soluções ideais” não existem. Ou, como ensinou Thomas Sowell: “There are no solutions, only trade-offs”.

 

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

2 comentários em “Preços livres ainda são o melhor remédio contra o desabastecimento

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    07/02/2016 em 5:30 pm
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    Caro João Luiz Mauad, acho que existe alguma coerência no discurso dos demagogos e oportunistas quando dizem que a solução ideal seria o aumento da oferta e a concomitante manutenção ou redução dos preços. Nesta afirmativa está implícita a tese de que preços altos levam, invariavelmente, à queda de preços. Preços altos são sinalizadores que orientam os empreendedores. Os altos preços do mercado de repelentes são atrativos que fomentam a oferta e, consequentemente, uma maior concorrência entre as mais diversas marcas do produto demandado. A concorrência e a corrida pelo lucro farão os preços caírem e todo o “egoísmo” a respeito do qual comentou Alexandre Guimarães tornará a vida dos demandantes de repelentes mais confortável. Mais uma vez o livre mercado prova sua eficiência e prova que é um sistema que estimula até o mais egoísta dos homens a se preocupar com as necessidades e desejos de seus concidadãos.

  • Avatar
    04/02/2016 em 12:21 pm
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    O congelamento por parte do governo se mostrou ineficaz. Eu prefiro que estejam caros que não existam nas prateleiras. Mas desde o ponto de vista das virtudes clássicas, parece-me óbvio que é imoral. Eu defendo o liberalismo econômico por causa disso, porque a ganância existe e é muito difícil de controlar. Ou seja, AS PESSOAS SÃO IMORAIS. Eu tenho isso muito claro e espero que quem defende também tenha claro e reflita sobre isso. A ganância não é intrínsecamente boa. Alguém tem alguma dúvida quanto a isso? Alguém acha que gastar 25 mil dólares em uma bolsa ou 1 milhão em um carro no contexto em que vivemos é saudável? A moderação é uma virtude clássica. O excesso nunca foi virtude e nunca será.

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