O Principal Problema do Brasil é Moral
Clóvis Rossi escreve hoje, na Folha de São Paulo, um breve artigo que vem ao encontro de algo em que venho pensando faz tempo. No texto, intitulado “Selvageria como regra”, o autor escreve:
“(…) o Brasil está perdendo crescentemente a capacidade de, sem coerção, conviver civilizadamente com a vida e a propriedade alheias.
O caso da Bahia, durante e depois da greve dos policiais militares, é apenas o mais recente exemplo da selvageria que se foi instalando pouco a pouco no país. Durante a greve, decuplicou o número de homicídios, passando de já insuportáveis cinco diários para 52.
Qual a leitura a fazer? As pessoas deixam de matar não porque é errado fazê-lo do ponto de vista da moral e da lei, mas porque há o risco de serem apanhados pela polícia, se e quando ela está em plena atividade. Some a polícia da rua e a criminalidade dispara imediatamente, o que não é exclusividade da Bahia, como já se viu em anteriores episódios de paralisação policial.”
Recentemente, em conversa com amigos sobre os (inúmeros) problemas brasileiros, fui voz dissonante ao dizer que o principal problema do Brasil não é econômico, político, cultural ou mesmo educacional. É moral. E não falava daquele moralismo conservador, preocupado com comportamentos estranhos, às vezes até bizarros, mas que dizem respeito exclusivamente ao próprio indivíduo e a ninguém mais. Falava de Moral liberal, com “M” maiúsculo: respeito subjetivo, intuitivo e espontâneo pela vida, liberdade e propriedade alheias.
Infelizmente, o relativismo alcançou níveis tão elevados por essas bandas que muitos dos nossos compatriotas já não fazem mais distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto. Em alguns lugares, o descaso em relação aos direitos dos outros é tão absurdo, que a sociedade parece ter retrocedido aos tempos pré civilizacionais.
O que nos falta não são leis positivas, pois estas abundam em Pindorama. A simples existência da lei, no entanto, não garante integridade às relações sociais, tampouco uma convivência civilizada. Sem princípios éticos bem demarcados e intuitivos, principalmente em relação à vida, à liberdade e à propriedade alheias, essas relações tornam-se complicadas, caras e arriscadas. De nada vale um arcabouço interminável de normas escritas e objetivas se não houver critérios subjetivos a ditar a conduta individual.
Como mudar isso? Não tenho certeza, mas tenho cá as minhas desconfianças. Aristóteles dizia que as virtudes são produto do hábito. Acho que ele tinha razão. Enquanto não reduzirmos drasticamente a sensação de impunidade que assola o país e não voltarmos a ensinar e demonstrar às nossas crianças noções de honra, dignidade, honestidade, conduta proba e virtuosa, não chegaremos a lugar algum.
Tudo bem, João!?
Acredite, você não é o único que tem essa visão. Costumo, em conversas com amigos, seja pessoalmente ou mesmo pelas redes sociais, defender que o problema maior do nosso país, no presente, é de valores. A sensação de impunidade consubstanciada com a fragilidade do nosso sistema educacional, trânsito caótico nos grandes centros e a necessidade da mulher trabalhar, em minha opinião, gerou isso. Vemos pais que pouco convivem com os filhos. Quando convivem, não têm paciência para ensinar, para brincar junto ou, ainda, com bons valores a passar. A consequência é o empobrecimento da vida familiar.
Do mesmo modo, o “jeitinho” brasileiro de furar fila, passar pelo acostamento para não ter que ficar parado no trânsito, arranjar uma desculpa qualquer para se livrar de uma pessoa que se entende “inconveniente”, entre outras é um problema sério. Criamos uma sociedade egoísta. Nessa sociedade as pessoas, ou parte delas, quer levar vantagem de qualquer forma, ainda que para isso precise subjugar outros. Se a impunidade é vigente, ou pelo menos há uma sólida sensação de sua existência, há um estímulo ao egoísmo. Qual a punição ao “fura-fila? Qual a punição a quem ultrapassa pelo acostamento?
Nada ocorre ao acaso, João. Essa sociedade não surgiu como um passe de mágica. Ela vem sendo gerida aos poucos. Por nossa conivência e irresponsabilidade coletiva.