Viva Yoani Sánchez!
MARIO GUERREIRO *
Lembro-me como se fosse hoje… Quando Mikhail Gorbachov chegou ao Brasil foi recebido por um casal de professores universitários stalinistas irrecuperáveis.
Portavam uma faixa escrita em português e russo em que se podia ler: fora Gorbachov traidor!
Passaram-se mais de vinte anos e episódio semelhante ocorreu quando da chegada de Yoani Sánchez ao aeroporto de Recife.
Um grupelho de uns gatos pingados lançavam brados colossais: viva Fidel, viva Fidel! Só faltaram dizer: fora Yoani traidora!
A reação de Yoani diante de tamanha hostilidade à sua pessoa foi exemplar. Disse estar contente de ver que estava numa democracia em que todos tinham liberdade de expressão.
Se ela fosse Voltaire, poderia ter dito: “Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte teu direito de dizê-las”.
Liberdade de expressão, ma non troppo! Ainda a temos, apesar das constantes ameaças de controle de conteúdo da mídia feitas pelo PT.
Só para dar uma ideia do grau de nossa liberdade de expressão, o Brasil ocupa o 99º lugar no ranking internacional de liberdade de imprensa. É assustador! Acachapante!
Hegel estava certo: a história se repete. Só que a primeira vez é tragédia, mas a segunda, farsa. E caso haja uma terceira, só pode ser comédia pastelão de Marx.
Refiro-me a Groucho, o hilariante líder de Os Irmãos Marx. A quem nunca viu um filme deles, recomendo: “Uma Noiteem Monte Carlo”.
Yoani já tinha pedido 20 vezes aos irmãos Castro licença para viajar ao exterior, deixando claro que pretendia retornar a Cuba. Mesmo assim, seus pedidos foram rejeitados.
Há pouco tempo, ela fez um pedido a Raulito e a Dilmá. E esta, sabedora de que Raulito negaria o mesmo, disse que se ele concordasse, Yoani seria recebida de braços abertos no Brasil.
Marcou um golzinho político para o time dos néscios e apedeutas!
Finalmente, após 20 tentativas fracassadas, Raulito deixou Yoani sair de Cuba. E ela veio diretamente para o Brasil onde lançará seu livro A Cuba, Com Carinho.
Como cubana, Yoani ama seu país e seu povo, porém não conseguiu se calar diante da situação exasperadora dos cubanos vivendo há mais de 50 anos sob o regime dos Castro.
Eu já conhecia os textos de Yoani, uma vez que eles foram replicados pelo site do Instituto Millenium (www.imil.org.br) e, lendo os mesmos, cheguei a esboçar um perfil da blogueira cubana.
Ela não é uma intelectual. É uma mulher corajosa e decidida que escreve muito bem, narrando as dificuldades enfrentadas na vida cotidiana pelos cubanos como ela.
Dificuldades estas causadas pelo racionamento de comida, falta de liberdade política e econômica, baixo poder aquisitivo, péssima qualidade de vida, etc.
De Recife, Yoani foi para Feira de Santana (BA), provavelmente acolhida por seus admiradores desta cidade.
E foi aí que recebeu vaias e protestos de um grupelho denominado Juventude Socialista Brasileira [(onde está “socialista”, leia-se: “comunista”). Trata-se de Kommosomol tupiniquim].
Ela ia apresentar um vídeo feito por ela, mas foi impedida de fazer tal coisa. Vimos na TV o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) protestando veementemente contra essa censura.
Bravo! Senador. Mas se vossa excelência é a favor mesmo da liberdade de expressão, devia ter feito igual protesto contra os PNDH do seu partido, que estão sempre propondo um “controle de conteúdo da mídia” (Leia-se: censura oficial).
* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.