Violência gerando violência no caso Douglas
BERNARDO SANTORO*
Um grupo de manifestantes protestou ontem pela lamentável morte do jovem Douglas Rodrigues, de 17 anos, incendiando veículos e fechando a Rodovia Fernão Dias.
Antes de fazer uma crítica, eu, como pai, tento me pôr no lugar do pai do jovem. Se eu soubesse que um policial militar, pago com o meu dinheiro, tivesse dado um tiro no meu filho, a minha vontade inicial provavelmente seria a de querer impor ao assassino do meu filho a maior dor possível, torturá-lo mesmo, e quem sabe até matá-lo.
Essa é a reação humana e explica perfeitamente um comportamento de vingança, mas explicar não significa justificar. O direito penal liberal tenta ser justo exatamente por buscar a resolução de conflitos pela maneira racional e não-emocional. Daí o direito penal liberal buscar, como finalidade, o ressarcimento da vítima ou dos seus parentes, mesmo que esse ressarcimento, dada a gravidade de determinado crime, nunca seja completo.
Mas se é compreensível a busca de justiça dos familiares frente ao criminoso, qual a explicação que se dá para os parentes quererem incendiar carros, ônibus e caminhões de pessoas inocentes, além de impedir o direito de ir e vir de outros milhares de cidadãos? Impor dor a outras pessoas inocentes apenas aproxima o comportamento dos familiares da vítima ao do assassino. Nem mesmo o sentimento original de vingança explica isso.
Daí a conclusão de analistas no sentido de que a morte do menino inocente pode estar sendo usado politicamente por movimentos de esquerda para pôr a existência e a legitimidade da Polícia Militar em discussão.
Ironia das ironias, a Polícia Militar é apenas o órgão mais caricato da violência estatal no dia-a-dia da população. Não se vê esquerdistas protestando quando a violência estatal: (i) toma dinheiro de pessoas inocentes através de impostos; (ii) impede a liberdade de mercado com regulações; (iii) expropria fazendas para fins de reforma agrária ou devolução de terras a índios que a muito não mais as ocupa; (iv) impede pessoas de exercer profissões livremente; e daí por diante.
É um discurso manco porque o protesto esquerdista não tem a ver com violência estatal, tem a ver criação de desordem para fins políticos de tomada de poder, quando então, no poder, a violência de esquerda é legitimada por estar em prol “da revolução”.
Lamenta-se profundamente a morte do jovem menino e ainda mais o uso político dessa morte. E que tanto o PM assassino quanto os depredadores da Rodovia Fernão Dias recebam o castigo proporcional a seus atos.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL