As bolsas do CNPq para estudo no exterior
BERNARDO SANTORO*
O Correio Braziliense destaca hoje que três pesquisadores de Brasília respondem a processo por irregularidades com bolsas de estudo no exterior. Um deles deve mais de R$ 600 mil ao órgão. Eles fazem parte de um grupo de 168 pessoas que foram custeadas pelo governo e não prestaram conta.
Essas bolsas de estudo são concedidas pelo governo federal, através do CNPq, com o intuito de formar doutores no exterior e trazê-los de volta ao Brasil agregando o conhecimento adquirido pelos alunos em universidades de ponta às nossas capengas universidades daqui.
Esse raciocínio só não leva em conta que, após conhecer o mundo intelectual das grandes universidades americanas, com grande apoio à pesquisa e verdadeira parceria com empresas e fundos de investimento, a vontade que um cientista tem de voltar para o Brasil é praticamente nenhuma.
O ensino estrangeiro é baseado na “lógica neoliberal de mercado”, como dizem os professores daqui, ou seja, está focado no mercado de trabalho e na satisfação de necessidades práticas da sociedade. Há uma profunda parceria entre universidades e o mercado, e as universidades de ponta são privadas, sempre apostando no progresso pela competição e excelência, e o foco está sempre nas ciências exatas e biológicas.
Já o ensino brasileiro é baseado na “criação de consciência social”, que é a doutrinação socialista para fins políticos, onde se ensina que o estado deve fornecer todo o tipo de “direito”, sem se preocupar com o custo que isso traz. As universidades de ponta são públicas, a burocracia e a política interna das universidades públicas impedem uma parceria mais profunda entre elas e o mercado, aposta-se na estabilidade do emprego do professor como base da independência acadêmica, e o foco está nas ciências humanas.
Dado esse horrendo panorama, os bolsistas da CNPq que realmente brilham no exterior acabam ficando por lá e conseguindo ótimos empregos. Os que foram lá menos para estudar e mais para farrear e fazer turismo com dinheiro público, acabam voltando sem muito a acrescentar.
Os resultados práticos desse programa parecem pequenos perto do investimento aplicado, e mesmo o ganho adquirido parece ter maior repercussão no campo privado, ou seja, do aluno que adquiriu o conhecimento, do que no campo público, com esse conhecimento sendo repartido para todos.
Por fim, fica a impressão que é apenas mais um típico programa governamental onde se concentram os benefícios em um grupo politicamente organizado (acadêmicos, via sindicato de professores e UNE) e se repartem os custos para toda a sociedade. Uma pena, de fato.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL