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Uma alternativa aos caminhos populistas (parte 1)

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Quatro anos depois da primeira condenação e após uma confirmação de condenação na terceira instância (Triplex do Guarujá) e outra na segunda (Sítio de Atibaia), Edson Fachin decidiu anular as condenações de Lula – não se trata de absolvição –, alegando que Moro não era o juiz natural, devendo os processos correrem no Distrito Federal. Como todos sabem, a decisão retira a inelegibilidade de Lula e permite que ele concorra no pleito de 2022. Politicamente, o que se anuncia é um recrudescimento do clima de polarização e uma possível reedição do segundo turno de 2018, com Lula no lugar de Haddad.

O bolsonarismo e o petismo são duas faces da mesma moeda populista e hostil ao liberalismo político, portanto, dois males que devem ser combatidos implacavelmente, como venho defendendo. Nesse sentido, a candidatura de Lula pode acirrar os ânimos de uma militância que é tão fanática e apaixonada como a bolsonarista e o risco é que a parcela da população que rejeita a ambos seja devorada em meio à guerra ideológica que se seguirá, sucumbindo à polarização e incapaz de fazer uma alternativa palatável ganhar consistência, qualificando o debate público. É hora de deixar o personalismo de lado e saber ler o cenário que se desenha, de deixar de lado a política da “lacração” e se aglutinar em uma reação coesa ao radicalismo de esquerda e de direita, de pensar o que é melhor para o país e não para projetos particulares e/ou partidários de poder. Quem alimenta desde já a polarização, que não reclame do resultado dela em 2022. Não adianta apoiar Bolsonaro ou Lula desde a primeira hora e depois se queixar de que Fulano ou Beltrano foi eleito por culpa de quem votou branco ou nulo.

O bolsonarismo e o petismo são duas forças que se retroalimentam. Bolsonaro foi alçado ao poder pelo antipetismo, e é importante dizer que, ao contrário do que prescreve a arrogância petista, por um antipetismo justificado, com razão de ser; não só fruto da roubalheira, mas acredito que, principalmente, da recessão econômica que lançou milhões ao desemprego e trouxe novamente o fantasma da inflação, bem como pelos afagos constantes – que o partido ainda mantém – a ditaduras “amigas”. Agora o PT conta com o antibolsonarismo para retornar ao poder e, da mesma forma, é um antibolsonarismo justificado, primeiramente pelos acenos autoritários, não só da militância bolsonarista, mas pelo próprio governo, o que incluiu até ameaça de golpe, e pela postura indefensável do governo diante da pandemia, o que não se resume apenas ao descaso e insensibilidade do presidente, que chega a chamar de “mi mi mi” a dor das mais de 260 mil famílias enlutadas, mas envolve a incompetência que obstou o início da vacinação no país.

De agora em diante, cada vez mais os petistas tentarão convencer o eleitor de que Lula é uma opção moderada e democrática e a única alternativa para derrotar Bolsonaro – e que quem não votar nele contra o “bronco” é “fascista”, como muitas vezes já chamaram os 57 milhões de brasileiros que rejeitaram o PT em 2018. Do outro lado, cada vez mais os bolsonaristas tentarão convencer o eleitor de que Bolsonaro é a única forma de manter o PT fora do poder e impedir que o Brasil vire uma Venezuela, e que, se você não votar em Bolsonaro contra Lula, você é comunista. Que não nos enganemos com esses discursos fajutos que fingem sobriedade e patriotismo, não tomemos tais lorotas como um antídoto contra a polarização, com uma promessa vaga de “depois a gente se livra deles”, pois, aí sim, nunca nos livraremos deles.

A diferença entre estes dois extremos não é de conteúdo e sim de forma. Como já falei em outro artigo, o radicalismo de esquerda é o lobo em pele de cordeiro. Quando Bolsonaro “rasga seda” para a ditadura militar, não faltam, com razão, artigos e editorais criticando-o por isso. Quando o PT faz o mesmo, por meio de suas patéticas notas, com uma ditadura como a chinesa, que mantém campos de concentração para minorias étnicas – fato ardilosamente ignorado por progressistas radicais -, a reação, em termos de opinião pública, é muito menos enérgica. A Venezuela já era uma ditadura quando, em 2013, Lula gravou um vídeo de apoio para a campanha de Maduro. Imaginem a reação se Bolsonaro gravasse um vídeo de apoio a algum herdeiro de uma ditadura de direita… Quando se tem o repúdio a qualquer forma de autoritarismo como um princípio, não pode restar dúvida de que tanto o petismo quanto o bolsonarismo se apresentam como inimigos da liberdade. Alguém pode arguir que o PT não implantou uma ditadura enquanto governou; ora, Bolsonaro também não. Quem pensa que são necessários um marco zero e os tanques nas ruas para destruir ou ao menos corromper uma democracia se esquece de exemplos como a própria Venezuela. Esse é sempre o risco do caminho populista, risco hoje representado por Bolsonaro e por Lula.

Há ainda os que tentam reduzir os males do PT à corrupção, alguns inclusive dizendo acreditar na culpa de Lula, mas vendo isso como algo tragável e como um mal menor em comparação ao que seria um retrocesso maior, representado pelo bolsonarismo. É evidente que o PT tirou grande proveito da corrupção, embora não a tenha inaugurado no país, mas, ainda que esse não fosse o caso e o partido nunca tivesse protagonizado nenhum escândalo do tipo, a minha posição em relação ao partido seria a mesma que sustento aqui. A corrupção não foi o único defeito do partido – e me arrisco a dizer que sequer foi o maior. Não, minha rejeição ao PT é antes de tudo uma rejeição ao fato de ter principiado o tipo de retrocesso institucional que depois seria aprimorado por Bolsonaro.

(Continua…)

Fontes:  

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50543654

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/taticas-da-china-para-aniquilar-uma-minoria/

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55932384

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/america-latina/lula-grava-video-para-campanha-de-nicolas-maduro-na-venezuela,352cf5aaa68cd310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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