Tudo errado

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NEY CARVALHO *

A diretora da ANP, Magda Chambriard, fez declaração patética na abertura da última feira Rio, Oil & Gás, que vai comemorar um ano em setembro próximo: apenas 5% de nossas bacias sedimentares estão tendo petróleo explorado. Matéria publicada em O Globo enfatizava que somente 7% das áreas com chances de existência de petróleo foram devidamente analisadas São números esmagadores.

O escritor Monteiro Lobato, pioneiro da indústria no Brasil editou, em 1936, o livro O Escândalo do Petróleo. Nele acusava a política da ditadura de Getúlio Vargas de se pautar pelo lema “não tirar petróleo, nem deixar que o tirem”. Eram os anos do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. Em 1938 foi criado o CNP – Conselho Nacional de Petróleo, órgão seminal da regulação do assunto no país. A partir de 1953, o domínio do tema, sob a forma de monopólio, passou à Petrobrás. Com a extinção daquele privilégio, em 1997, foi criada a ANP – Agência Nacional do Petróleo, para reger a matéria. Pelo visto nada mudou. O mantra continua sendo “não tirar petróleo, nem deixar que o tirem”.

Passaram-se 74 anos desde que, em 1939, jorrou óleo pela primeira vez em Lobato na Bahia. E nesses três quartos de século só conseguimos viabilizar 5% de nosso potencial. Fica nítido que algo está profundamente errado nas políticas adotadas pelo país para descobrir e aproveitar seus hidrocarbonetos.

Sob a égide do CNP, entre a descoberta de 1939 e 1953, quando foi criada a Petrobrás, não passaram de 200 os poços perfurados no Brasil. Para se avaliar a indigência deste processo é necessário, uma vez mais, recorrer a Monteiro Lobato. Na obra citada, o autor menciona que nos Estados Unidos em idêntico lapso de 13 anos, ainda entre 1914 e 1927, foram abertos mais de 370.000 poços de petróleo. Para achar o ouro negro é preciso pesquisar e perfurar em profusão.  Esta a razão lógica deles encontrarem petróleo em abundância e nós não termos, ainda, a ambicionada autossuficiência.

Desde os anos 30 a política brasileira de petróleo se baseia em três ismos: nacionalismo, ufanismo e estatismo. O primeiro impediu, de 1934 a 1997, a participação de capital estrangeiro em atividades da cadeia do petróleo. O segundo produziu, apenas, fotografias de presidentes da República com as mãos sujas de óleo, ou envergando macacões em cores cítricas. E o terceiro é responsável pela gestão nefasta que nos levou a explorar, somente, 5% de nosso potencial.

Tudo sempre esteve errado, e assim permanece.

* ESCRITOR

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