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Torcidas politicamente corretas? A censura aos gritos das arquibancadas

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Abro o site da Folha de São Paulo e me deparo com uma matéria chamada “Voz das Arquibancadas”. Abaixo, um subtítulo diz: Gritos de intolerância”. Entre os vários pontos ressaltados está o fato de que as torcidas usam termos como “bicha” para xingarem os adversários. Mesmo quando o canto é de comemoração”, assinala o jornal, “há xingamentos motivados por orientação sexual ou gênero.”

Sou um dos muitos que não vê problema na orientação sexual de ninguém, mas a censura que está sendo debatida nos círculos acadêmicos – que novidade! – é de uma absurdidade completa. Não porque sou indiferente ao preconceito que os homossexuais, travestis etc., sofrem, mas porque tentar politizar os gritos das arquibancadas é impossível e a tentativa de censurá-los, uma estupidez. Conter a violência física nos estádios é possível com policiamento, planejamento de segurança, e por aí vai. Mas como censurar os gritos? Instalarão microfones para detectar mais detalhadamente os gritos da torcida? Colocarão agentes infiltrados em meio às torcidas para censurar os torcedores e prendê-los?

Não é preciso ser inteligente para saber que gritos em estádios de futebol não são, nunca foram e nunca serão educados. O ideal seria que chamar o outro de homossexual não fosse pejorativo, mas o ideal é o ideal, e as torcidas não estão nem aí para o papinho politicamente correto. De mais a mais, a coisa mais estapafúrdia do mundo é querer uma torcida politicamente correta.

A matéria da Folha acentua que “O grito de ‘Ô, bicha’ cantado contra goleiros já rendeu duas punições à CBF por ser berrado das arquibancadas em jogos oficiais da seleção brasileira. Em outros lugares, como no Reino Unido, estuda-se até expulsar torcedores homofóbicos dos estádios.” Isso não vai funcionar. Aliás, será que isso realmente configura “homofobia”? Quem, entre nós, heterossexuais, nunca chamou, em tom de brincadeira, um amigo de “bicha” mesmo tendo amigos homossexuais? Não sejamos hipócritas.

Não dá para esperar que uma massa de humanos apaixonados cante para o adversário algo como “Somos todos irmãos, somos todos amigos!” Ou, pior ainda, que repitam o slogan da SporTV cantando: “Somos todos Campeões” – a propósito, este slogan reflete muito bem a nossa era contemporânea, a era do ressentimento. Somos todos campeões coisa nenhuma!

O GGB (Grupo Gay da Bahia), “que faz um levantamento anual com todos os episódios de violência contra homossexuais pelo país, nunca registrou, nos seus relatórios, a ocorrência de assassinato contra LGBTs ligada ao esporte.” Por isso volto a chamar atenção para o que escrevi acima: não é porque vários homens brinquem com isso – tudo bem que deve existir prudência – que estes vão, necessariamente, agredir ou matar um homossexual. É evidente que o torcedor está mais preocupado com o time para o qual o adversário torce do que com sua orientação sexual.

Não é nenhuma novidade que as torcidas repitam “xingamentos homofóbicos e incitação à violência”. É certo que o estádio de futebol – sem falar nas torcidas organizadas, que se transformaram em facções criminosas – é onde a paixão de alguns se exprimem da maneira mais grosseira possível. Isso pode não ser bonitinho, mas é isso que geralmente acontece quando uma massa de apaixonados se organiza – esperar racionalidade e ponderação de uma multidão que tem como objetivo derrotar um adversário é, a meu ver, bastante ingênuo. Além do mais, nada disso será resolvido pela patrulha da “galerinha do bem”, que logo dirá que todos os jogos devem terminar empatados para que ninguém seja oprimido pela derrota.

Ou esse pessoal “do bem” é muito mal informado ou é realmente muito inocente. Parece não conhecer como funcionam as torcidas. Elas xingam até os próprios jogadores quando estes não têm o desempenho esperado. Quanto mais buscarem censurá-las, pior fica. A contenção da violência física pode até funcionar, o que beneficia a sociedade como um todo, mas censurar seus gritos, por mais sórdidos que possam ser, não vai funcionar.

Entretanto, existem outras formas de falar mal do adversário, claro. Uma delas, por exemplo – esta sim realmente ofensiva – seria chamar os outros torcedores de ressentidos e politicamente corretos. Existe algo mais desmoralizante do que isso?

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Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher é estudante de História na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Tem interesse por História das Ideias, Filosofia, Literatura e tradição dos livros clássicos.

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