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A inteligência artificial e o cálculo econômico

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Muitos creem que estamos em face de uma verdadeira revolução, um divisor de águas tão importante quanto a invenção da eletricidade e capaz mesmo de fazer sombra à Revolução Industrial. Outros reconhecem seu impacto, mas não creem que será um fato assim tão disruptivo. Por fim, outros tantos veem na inteligência artificial a nossa condenação e creem que sucumbiremos nas garras da nossa própria criação. Quanto a mim, o que penso é que a verdade, se ao nosso alcance estiver, está distante das certezas absolutas, da pretensão de “especialistas” e daqueles que acreditam que têm a capacidade de prever o futuro. Contudo, o tema apresenta discussões não tão fáceis de ignorar. Seria impossível e pretensioso tentar em um único artigo endereçar todas as questões suscitadas, então focarei em apenas uma. Na verdade, escolhi essa justamente por não compor o repertório de preocupações e histerismos que temos visto por aí. Embora a economia surja como uma preocupação, sendo talvez o ponto principal, com a produção de um volume imenso de materiais sobre empregos que deixarão de existir, impactos à economia global etc., não vi até o momento, nem mesmo entre liberais, uma discussão sobre uma possível relação da inteligência artificial com o cálculo econômico. Isso é o que proponho aqui.

Primeiramente, antes de entrar na questão de fato, sou obrigado a comentar brevemente dois pontos: o risco existencial e a destruição dos empregos. Há diferentes versões sobre o risco existencial, mas, como o nome sugere, seria a hipótese mais drástica, na qual a inteligência artificial após um estágio no qual controlaria em absoluto a humanidade (realizando a profecia de diversos filmes de ficção científica), concluiria por fim que não necessita mais dos humanos e bye bye para nós. Não sou habituado a ver em filmes de ficção nada mais do que uma fonte de entretenimento e, naturalmente, o risco existencial não me convence.

Já a destruição de empregos passa por algo real e bastante óbvio: muitos empregos de fato serão extintos com a inteligência artificial. Nenhuma novidade aqui; o processo apelidado por Schumpeter de destruição criativa tem acompanhado toda e qualquer inovação, variando tão somente em escala. A despeito do pânico daqueles que se veem imediatamente afetados, o fim de determinadas atividades não tem a princípio potencial apocalíptico algum. Tal potencial existiria, contudo, e esse é o argumento, se estivéssemos a falar não da destruição de empregos, mas da destruição dos empregos em absoluto. Esse argumento, na prática, é outra versão do risco existencial. Se a inteligência artificial, e incluamos aqui os robôs, for capaz de realizar toda e qualquer atividade econômica, de modo que mais ninguém seja remunerado para nada, sucumbiríamos. A lógica demanda que quem rejeita o risco existencial (a despeito de outras possíveis reservas com a inteligência artificial) deve também rejeitar esta hipótese, que é tão somente mais uma de suas versões.

Alguém, afeito a uma lógica anacrônica de luta de classes poderia então dizer que isso não seria um risco existencial, mas que o grosso da humanidade restaria fadado à pobreza enquanto uma minoria de ricos controlaria a inteligência artificial. Tal argumento não se sustenta por diversas razões. Primeiro, um cenário no qual a IA suprima a necessidade de humanos, por óbvio, implica que ela terá autonomia suficiente e não poderá ser controlada por uma minoria, seja essa minoria rica ou não. Segundo, ignora-se uma das grandes verdades do capitalismo e também uma das lições didaticamente expostas por Mises em As Seis Lições: a produção em massa no capitalismo se dá para o consumo das próprias massas. A inteligência artificial, em último caso, serve a um propósito lucrativo. Peguemos o ChatGPT como exemplo: tanto sua versão gratuita quanto sua versão paga têm sido usadas por profissionais de diferentes segmentos, bem como outras soluções de inteligência artificial. Quem paga por um serviço de inteligência artificial o faz para tornar seu trabalho mais produtivo. No cenário catastrófico que alguns críticos da IA desenham, por óbvio, uma massa global de desempregados não será capaz de pagar por tais serviços e de sustentar a própria continuidade da inteligência artificial. Tampouco seria possível, em uma economia esfacelada, manter a continuidade da IA apenas com o capital de investidores e sem a produção de lucro. Ou a própria IA sucumbiria à destruição da economia ou escolheria se livrar dos humanos — desaguando novamente no risco existencial. A existência da IA como um artigo de luxo nas mãos de uns poucos ao custo de miséria em massa tampouco é realista: “As empresas dedicadas à fabricação de artigos de luxo, para uso apenas dos abastados, jamais têm condições de alcançar a magnitude das grandes empresas. E, hoje, os empregados das grandes fábricas são, eles próprios, os maiores consumidores dos produtos que nelas se fabricam (Mises)”. Por fim, a substituição de toda e qualquer atividade econômica pela inteligência artificial necessariamente precisaria estar a serviço da satisfação das necessidades humanas, sob risco de cairmos novamente no risco existencial. Peguemos a agricultura como exemplo. Ainda que a IA pudesse dar conta de toda a produção e a humanidade ficasse livre da atividade no campo, a produção de alimentos obviamente se destina aos humanos (salvo se o sistema digestivo dos robôs se desenvolver muito no futuro), de modo que ou continuaria sendo financiada por uma massa que seguiria tendo renda para tal ou perderia sua razão de ser (risco existencial).

Para quem crê no risco existencial, toda e qualquer preocupação intermediária torna-se secundária. Iniciei tratando desses dois pontos (que, na verdade, se convertem em um), para poder afastar o risco existencial do resto da discussão que proponho. Uma possível relação entre a inteligência artificial e o cálculo econômico pressupõe que sigamos existindo como humanidade, bem como a continuidade de uma economia humana. Vamos ao ponto.

Possivelmente a demonstração teórica mais famosa sobre a inevitabilidade do fracasso de economias socialistas, a discussão sobre o cálculo econômico, iniciada por Mises e desenvolvida também por Hayek, diz que, em uma economia centralmente planificada, seria impossível manter uma alocação de recursos eficiente e um sistema de preços que refletisse a necessidade de equilíbrio entre oferta e demanda. A burocracia estatal não poderia dispor de toda a informação necessária para essa alocação, bem como falharia ao ignorar a subjetividade e as escolhas individuais.

É fácil perceber como a inteligência artificial pode despontar como a resposta de socialistas modernos ao problema do cálculo econômico. Sei que já há marxistas que tratam disso, mas o rápido advento da IA pode dar fôlego ao seu argumento. Faz então sentido crer que a IA poderia trazer à realidade uma economia centralmente planificada funcional?

Presumir coisas sobre o potencial da inteligência artificial é andar em um terreno resvaladiço. As próprias mentes por trás da IA parecem divergir sobre seu alcance e seus riscos. É provável que não só não possamos contemplar a IA como um potencial acabado como sua própria evolução continue a nos suscitar mais e mais questões. Para fazer um paralelo, lembremos que, em que pese o quanto sabemos hoje sobre a inteligência humana, o cérebro não é algo completamente desvendado e guarda grandes mistérios.

Contudo, o erro aqui seria cometer o mesmo equívoco de muitos proponentes do risco existencial e desenvolver a análise pensando nas potencialidades da IA e ignorando uma parte bem importante da equação: o ser humano. A necessidade de considerar a IA não como uma força sobre-humana, mas como algo que deve ser pensando justamente em termos da sua relação com os humanos, é ainda mais gritantemente importante quando estamos falando de relações econômicas. Alguém tem conhecimento de algum mercado que não seja feito por e para humanos? Então, a primeira pergunta que devemos nos fazer é se a economia vislumbrada por nossos aspirantes a planejadores centrais é, em termos de alocação de recursos, similar em eficiência à economia de mercado como conhecemos hoje.

A suposição é de que a IA poderia agir como um alocador racional, possivelmente ainda mais eficiente que uma economia de mercado descentralizada. É fato, e a economia comportamental vem demonstrando isso de forma muito clara, que não somos os maximizadores racionais dos modelos econômicos ensinados em manuais de economia. Hoje já há ampla evidência em estudos de nomes como Daniel Kahneman, Amos Tverski, Richard Thaler, Cass Sunstein, entre outros, de que, no mundo real, as pessoas com frequência agem de forma oposta ao que seria esperado de maximizadores racionais. Thaler e Sunstein, inclusive, são defensores do que chamam de nudge, ou parternalismo libertário, advogando a adoção de certos incentivos, até mesmo por parte do governo, para contornar nossos vieses e heurísticas.

Se não agimos sempre de forma “racional”, como preconizam modelos econômicos que supõem uma alocação totalmente eficiente dos recursos, podemos pensar que a IA seria capaz não apenas de substituir a alocação por meio da livre interação entre agentes como temos hoje (em tese), como de torná-la muito mais eficaz, trazendo à realidade a maximização da utilidade sem “falhas” humanas. Contudo, há um problema com essa visão; em uma economia ainda feita para humanos, a IA não seria capaz de substitui-los por completo em seu processo de tomada de decisão, não sendo capaz de suprir a racionalidade humana mesmo quando ela estivesse comprometida por seus diferentes vieses. A única forma de enfrentar esse impasse seria livrando-se dos humanos ou tornando-os apáticos e meros receptores dos recursos da cota que lhes caberia da alocação global, sem que tivessem qualquer participação no processo econômico, que necessariamente dependeria de máquinas. No primeiro caso, caímos novamente no risco existencial; no segundo, temos um cenário ainda mais irrealista, no qual a IA decidiria nutrir os humanos, como verdadeiros bebês, sem que deles dependessem e sem nada ganhar da barganha.

Outro ponto fundamental é que essa “racionalidade artificial” precisaria depender também de uma capacidade de fazer previsões própria da ficção, das prestidigitações do mercado financeiro e da picaretagem. Invoco novamente aqui as evidências da economia e da psicologia comportamental para dizer que, via de regra, e em especial quando estamos falando de ciências sociais, simplesmente não temos capacidade de prever o futuro e não importa quantos “especialistas” vão na televisão dizer o contrário. Então, podemos imaginar a seguinte réplica: “Mas esta limitação da capacidade de prever é essencialmente humana e faz sentido pensar que a IA seria capaz de superar isso”. De fato, é tentador pensar que a IA, tendo acesso a um nível de informação impensável para o âmbito individual, seria capaz de antever situações, desafios, crises etc. Admitamos, sem delongas, que a inteligência artificial terá uma capacidade preditiva superior ao que a inteligência humana nos permite. Essa superioridade, no entanto, é obviamente relativa; em outras palavras, não necessariamente significaria uma grande capacidade preditiva por parte da IA, mas uma capacidade muito reduzida nos humanos, dando-lhe maior vantagem comparativa.

Se sairmos do campo relativo e adentrarmos o absoluto, chegamos à seguinte pergunta: a inteligência artificial seria capaz de prever todas as variáveis e se preparar para todos os cenários possíveis? Uma resposta favorável a essa pergunta seria tentadora para aqueles economistas que veem na racionalidade dos modelos uma aproximação fidedigna da realidade e aos aspirantes a planejadores centrais que gostariam de trazer isso à realidade, ainda que com uma roupagem socialista. Contudo, o acaso, ou o inesperado, contradiz a viabilidade de uma racionalidade matemática e absoluta, ainda que fosse possível controlar os agentes econômicos e suas interações. Aos acontecimentos inesperados com um grande potencial de impacto, o pensador líbano-americano Nassin Taleb dá o nome de “cisne negro”, título de seu mais famoso best-seller. Nesse livro, Taleb defende que acontecimentos inesperados e, portanto, imprevisíveis, ainda que raros, têm o potencial de causar mudanças significativas no mundo, na economia, na história etc. Um exemplo de cisne negro seria o atentado de 11 de setembro, ou o sucesso de uma empresa como o Google. Tais eventos têm uma influência muito maior do que lhes damos crédito e, é claro, vão na contramão de modelos onde todas as variáveis são conhecidas. Nada sugere que a IA se sairia melhor do que os humanos em prever cisnes negros. Ainda que presumíssemos um controle sobre os agentes tamanho a ponto de poder sempre prever suas ações — o que é presumir algo nada realista —, não é pela ação humana consciente e deliberada que necessariamente surgem tais eventos. Temos uma tendência a acreditar que o sucesso de uma grande empresa, por exemplo, pode sempre ser explicado por meio de causa e efeito, sendo o sucesso o efeito e a causa as ações empreendidas e devidamente planejadas por seu corpo administrativo ou pelo CEO, não admitindo-se fatores exógenos. A realidade é que, em que pese o mérito daqueles envolvidos, há fatores alheios ao seu controle que podem configurar aquilo que chamamos de “sorte” (ou azar, se estivermos tratando de fracasso e de efeitos negativos).

Uma tentativa de usar a IA para tentar prever cisnes negros necessariamente deveria funcionar em escala global, assumindo uma economia globalizada, porém, isso cria dificuldades adicionais para o “cálculo econômico artificial”. Se assumimos uma economia globalizada, seria necessário que a IA pudesse não apenas prever, mas agir sobre os agentes em escala global, o que demandaria um governo também global operando de forma centralmente planificada. Não sendo assim, um país que praticasse um socialismo amparado na IA, mas mantivesse comércio com o resto do mundo, ainda estaria sujeito a fatores externos inesperados, comprometendo sua “alocação artificial”. Já um país que tivesse a pretensão de praticar um socialismo autossuficiente, isolando-se do resto do mundo, fracassaria, haja vista o fato de que nem a inteligência artificial mais desenvolvida que se possa imaginar seria capaz de gerar, em um dado território, as condições necessárias, incluindo climáticas e agrícolas, para uma economia que não tivesse qualquer tipo de participação externa, seja em insumos ou produtos finais.

Ainda que pudéssemos superar todas as dificuldades supracitadas e chegar ao cálculo econômico por meio da inteligência artificial — tarefa que até o momento parece impossível —, o socialismo continuaria não podendo prescindir de seu autoritarismo, sendo este talvez até mesmo fortificado para cumprir a artificialidade proposta. Imaginemos, por exemplo, que a IA tenha concluído que, em uma determinada economia, será necessária uma quantidade não superior e não inferior a 30 mil engenheiros ao fim dos próximos 5 anos. Para cumprir a alocação necessária às necessidades dessa economia, tal número deve ser produzido a qualquer custo. Agora imaginemos que o número de estudantes interessados em se tornar engenheiros seja de 40 mil no início do período, superando em 10 mil a alocação eficiente de profissionais desse ramo. Em uma economia de mercado livre, todos aqueles interessados em perseguir determinada carreira estarão livres para tentar fazê-lo, mas esta não é uma economia (ou sociedade) livre e tal permissividade não deve existir. Necessariamente, os 10 mil aspirantes a engenheiros excedentes estariam impedidos de seguir sua vontade. Agora imaginemos o contrário: que o número de interessados seja somente de 20 mil, gerando um déficit de 10 mil engenheiros ao fim dos 5 anos. Tal situação também seria inadmissível em tal economia e os 10 mil engenheiros restantes deveriam ser produzidos a todo custo, talvez eliminando excedentes em outras profissões e obrigando o número equivalente ao número faltante a estudar engenharia. Nem é preciso dizer o quanto esse cenário seria odiento. Poderíamos pensar em dificuldades adicionais nesse exemplo: o que garante que a necessidade será a mesma após o término dos 5 anos? Como lidar com as diferenças de talentos individuais e os diferentes resultados que produziriam? O que fazer diante de reprovações que pudessem atrasar o término dos estudos e o ingresso da quantidade de profissionais necessários na data prevista? E se o cenário mudar durante os anos seguinte e se concluir que a quantidade deveria ser alterada? Como garantir que os melhores estudantes sejam ranqueados a alocados para as profissões que tenham mais aptidões? E se o número de aptos nunca coincidir com a demanda? Certamente, muitas outras dificuldades poderiam ser elencadas, mas o que interessa neste ponto é o autoritarismo indissociável do que se pretende.

Chegamos a uma notória contradição. Em tese, uma economia racionalmente eficiente seria capaz, seguindo os modelos, de maximizar a utilidade dos agentes. Contudo, uma economia centralmente planificada amparada na IA, diante do fato de que os humanos não são sempre alocadores racionais e que são diferentes, desejando coisas muito diferentes entre si, por óbvio deveria contrariar as vontades individuais, violando a maximização pretendida.

No fim, a falha da inteligência artificial em produzir uma economia socialista funcional que não desague em uma forma violenta de autoritarismo é a mesma falha de sempre do socialismo, mas com um colorido tecnológico, o que diz mais sobre a própria natureza inescapável do comunismo/socialismo do que sobre a tecnologia em questão. De um jeito ou de outro, impedir ou controlar a livre interação entre indivíduos e agentes econômicos produz o mesmo resultado maléfico: a morte da cooperação, ao menos em sua forma voluntária.

Herbert Spencer escreveu que a “vida social deve ser conduzida por cooperação voluntária ou compulsória”, equivalendo respectivamente ao que Henry Maine qualificava como sistema de contrato versus sistema de status. Mesmo que todas as dificuldades práticas até então vistas para o sucesso do cálculo econômico por meio da inteligência artificial pudessem ser transpostas, nenhuma forma de cooperação voluntária seguiria sendo possível, o que, se não realizasse as previsões de obras distópicas, nos tornando escravos das máquinas, nos tornaria escravos do Estado, como de praxe sob o socialismo —exceto para aqueles cujo status lhes colocaria no outro lado da coerção.

Porém, mesmo essa consequência típica do socialismo provavelmente não seria alcançada se a IA realmente se tornasse o tomador preferencial de decisões. Se os dirigentes estatais seguissem as “recomendações artificiais”, abririam mão de sua própria capacidade de decidir, conformando-se como meros “capangas”, ou o poder muscular e não intelectual. Aqui, alguns humanos exercem o papel que as próprias máquinas exerceriam nas distopias do gênero, e qualquer manifestação de descontentamento poderia precipitar sua substituição pelas máquinas (risco existencial). Ou, a IA, ainda que oficialmente aceita, seria solenemente ignorada pela burocracia, com duas possíveis consequências: a) típica burocracia socialista com todas as suas vicissitudes, b) risco existencial.

O caminho percorrido até aqui nos permite concluir que, em caráter intermediário, ou funcionando como uma mera ferramenta nas mãos de burocratas, a inteligência artificial seria um detalhe a mais e até menos significativo no típico autoritarismo socialista. Já levada às últimas consequências e assumindo todas as premissas de quem crê que ela poderia ser um alocador de recursos global, desaguamos, não importa para que lado vamos, no risco existencial.

Aqueles que, como eu, rejeitam a tese do risco existencial, necessariamente devem também rejeitar cenários que inevitavelmente conduzem a ele. Já para os que sinceramente creem que a IA é o nosso fim, todas as preocupações intermediárias, incluindo discussões como esta que proponho aqui, tornam-se irrelevantes, considerando que a aniquilação da humanidade ganha primazia.

Ou a IA serve às necessidades humanas, incluindo econômicas, sendo um ativo a mais na cooperação voluntária entre os agentes, ou ela adquire faceta anti-humana típica das ficções científicas, o que tornaria a perseguição do cálculo econômico inútil, já que os humanos seriam aniquilados ou reduzidos a escravos.

Quando nos desvencilhamos do pecado de teses apocalípticas e passamos a considerar o elemento humano, vemos que sem ele não é possível e sequer tem sentido pensar em engenharias sociais amparadas na IA. Claro que, como já adverti, ela pode provocar mudanças significativas na economia, mas isso passa longe de admitir um risco existencial ou de crer que a solução para uma das maiores fragilidades do socialismo — a impossibilidade do cálculo econômico em uma economia centralmente planificada — se avizinha.

Contudo, isso não significa que não há um risco aqui. Mesmo que a IA não seja capaz de realizar o cálculo econômico, isso não significa que burocratas de diferentes colorações não podem vir a tentar, e são essas tentativas que nos devem manter alertas. Lógico que não precisamos pensar tão somente no uso disso em economias francamente socialistas. Basta que imaginemos um eventual uso descabido da IA por desenvolvimentistas, sempre afoitos em alocar recursos de forma centralizada e estatizada. No fim, os maiores riscos não parecem ser novos, com a IA potencialmente servindo como uma nova desculpa para repetir erros clássicos.

Fonte:

As Seis Lições — Ludwig Von Mises (Tradução de Maria Luiza Borges).

Tha Black Swan — Nassin Taleb

The Man Versus The State — Herbert Spencer

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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