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Sobre “O padrão Bitcoin: a alternativa descentralizada ao Banco Central”

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A trajetória da humanidade está intrinsicamente ligada às diferentes formas de transações entre indivíduos, quer seja por meio de escambo de bens de consumo, utilização de ligas metálicas com certo grau de escassez ou, nas últimas décadas, dinheiro em forma de papelmoeda para facilitar as trocas comerciais na sociedade. Ocorre que, a partir da evolução dos meios de comunicação e, principalmente, dos protocolos de internet e do aumento da capacidade de banda larga, a criação de moedas digitais passou a ser uma realidade. Contudo, qual o verdadeiro sentido da existência de criptoativos, tais como o Bitcoin?

O autor do livro “O padrão Bitcoin: a alternativa descentralizada ao Banco Central”, Saifedean Ammous, explica que o Bitcoin pode ser mais bem entendido como um software distribuído que permite a transferência de valor usando uma moeda protegida contra uma inflação inesperada sem depender de terceiros de confiança. Essa definição passa a ser bastante relevante à medida que consideramos as diferentes fases do dinheiro ao longo da história.

Nesse sentido, vale relembrar que, o dinheiro primitivo possuía diferentes formas: utilizavam-se, geralmente, mercadorias que tivessem alguma finalidade comum para a comunidade, tais como sal, gado, pedras preciosas, e até álcool e cigarros em determinadas condições. Com a evolução, para intermediar transações sem a troca de um produto por outro, houve a necessidade de se utilizaremobjetos de fácil transporte e que tivessem valor intrínseco ou confiança em seu valor por todos os que a utilizassem.

Desse modo, pode-se inferir que um bem que assume o papel de um meio de troca amplamente aceito é chamado de dinheiro. Ser um meio de troca é a função por excelência que define o dinheiro – em outras palavras, é um bem comprado não para ser consumido (um bem de consumo), nem para ser empregado na produção de outros bens (um investimento, ou bem de capital), mas primordialmente para ser trocado por outros bens.

A vendabilidade relativa dos bens pode ser medida em termos de quão bem eles resolvem as três facetas do problema da falta de coincidência de desejos: sua vendabilidade entre escalas, por meio do espaço e do tempo.

Entretanto, é preciso ponderar sobre a oferta de determinada moeda para se chegar na força que ela possui. Analisa-se, portanto, o estoque, que é a oferta existente, consistindo em tudo que já foi produzido no passado, menos tudo que já foi consumido ou destruído e o fluxo, que é a produção extra que será feita no próximo período temporal.

A relativa dificuldade de produzir novas unidades monetárias determina a força da moeda: dinheiro cuja oferta é difícil de aumentar é conhecido como moeda forte, enquanto moeda fraca é a moeda cuja oferta é passível de grande aumento. Aqueles capazes de poupar sua riqueza em uma boa reserva de valor são mais propensos a planejar para o futuro do que aqueles que têm reservas de valor ruins.

Nada disso seria possível sem que o dinheiro desempenhasse os papéis de meio de troca para permitir especialização; reserva de valor para criar uma orientação de futuro e incentivar os indivíduos a direcionar recursos para investimento ao invés de consumo; e unidade de conta para permitir o cálculo econômico de lucros e perdas.

Um dinheiro que é fácil de produzir não é dinheiro, e o dinheiro fraco não torna a sociedade mais rica; pelo contrário, torna-a mais pobre, colocando toda sua riqueza adquirida a duras penas em troca de algo fácil de produzir.

Para que algo funcione como uma boa reserva de valor, faz-se necessário superar essa armadilha: precisa se valorizar quando as pessoas a exigem como reserva de valor, mas seus produtores precisam ser impedidos de inflar a oferta de maneira significativa o suficiente para reduzir o preço.

A história mostra que não é possível se isolar das consequências de outras pessoas que guardam dinheiro mais forte que o seu. O mundo desabou no ano catastrófico de 1914, que não foi apenas o ano da eclosão da Primeira Guerra Mundial, mas o ano em que as principais economias do mundo saíram do padrão-ouro e o substituíram por dinheiro governamental nocivo. Somente a Suíça e a Suécia, que permaneceram neutras durante a Primeira Guerra Mundial, permaneceriam no padrão-ouro até a década de 1930. A era do dinheiro controlado pelo governo começaria globalmente depois disso, com consequências desastrosas incontroladas.

A revolução global das telecomunicações, começando com a produção do primeiro computador totalmente programável nos anos 50, invadiu um número crescente de aspectos materiais da vida, fornecendo soluções de engenharia para problemas antigos. Enquanto os bancos e startups utilizavam cada vez mais computadores e redes para pagamentos e manutenção de registros, as inovações bem-sucedidas não forneciam uma nova forma de dinheiro, e as inovações que tentavam realizar essa façanha falharam.

Nesse sentido, o Bitcoin representa a primeira solução verdadeiramente digital para o problema do dinheiro, e nele encontramos um artifício em potencial para os problemas de vendabilidade, solidez e soberania. É a mais nova tecnologia para servir a função de dinheiro – uma invenção que alavanca as possibilidades tecnológicas da era digital para resolver um problema que persistiu por toda a existência da humanidade, como mover valor através do tempo e do espaço.

Primeiro porque pode ser utilizado como reserva de valor. Isso lança alguma luz sobre uma faceta surpreendente do feito técnico que é o Bitcoin. Pela primeira vez, a humanidade tem ao seu dispor uma mercadoria cuja oferta é estritamente limitada.

Segundo, porque estabelece um novo paradigma sobre soberania individual. Como a primeira forma de dinheiro digital, a mais importante proposta de valor do Bitcoin é dar a qualquer pessoa no mundo acesso a uma base soberana de dinheiro.

Terceiro, porque oferece a possibilidade de liquidação internacional e online, descorrelacionando a utilização do dinheiro ou seu valor de quaisquer governos ou políticas monetárias desastrosas.

E, por último, atende à função de unidade de conta global, permitindo realizar cálculos econômicos precisos.

A surpreendente conquista técnica do Bitcoin é que ele reduz significativamente o custo e a duração da liquidação internacional e, mais importante, reduz drasticamente o custo de configuração para realizar a liberação internacional. A ampliação de sua aceitação a níveis globais passa pela compreensão dos benefícios de se retirar o monopólio da criação de dinheiro pelos bancos centrais, descentralizando seus poderes, transferindo-os diretamente para cada indivíduo e sua capacidade produtiva. Dessa forma,o Bitcoin (assim como outros criptoativos) resgata a essência do dinheiro e, por conseguinte, suas funções essenciais, sendo, assim, fundamentalmente, a melhor alternativa para uma sociedade mais livre.

*Bruno Rigamonti Gomes é Associado II do Instituto Líderes do Amanhã. 

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