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Sobre armas, crimes e estatísticas

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JOÃO LUIZ MAUAD *

Mais um pavoroso massacre nos Estados Unidos, perpetrado por um psicopata contra população absolutamente desarmada e já começaram as campanhas, lá e cá, pedindo maior controle da venda de armas e até mesmo a proibição total.

Se alguém pudesse garantir que a proibição realmente evitaria novos massacres, a campanha até faria algum sentido.  O problema é que a experiência, em outros países, demonstra que isso não ocorrerá.  Ao contrário, desarmar a população ordeira só dará mais vantagem aos assassinos.  No caso em tela, por exemplo, duvido que, se houvesse alguém mais armado no prédio, o massacre teria sido tão grande.  Quando você não tem oponente, tem todo o tempo do mundo para recarregar suas armas.  A maior vantagem do assassino é a certeza de que não terá adversários em seu caminho.

É ingênuo achar que se vai acabar com esse tipo de crime dificultando mais ainda a aquisição de armas (também é tolice pensar que não existem controles rígidos por lá).  Ademais, será que algum desses pacifistas já parou para pensar no percentual ínfimo de armas compradas legalmente e utilizadas nesse tipo de chacina?  É justo punir a imensa maioria de adquirentes ordeiros e de boa fé, por conta de uma minoria insignificante de psicopatas?

A propósito, segue abaixo artigo que publiquei no Globo sobre o tema, em dezembro do ano passado.

Sejamos pragmáticos

João Luiz Mauad, O Globo

Tão logo surgiram as primeiras notícias do mais recente massacre de crianças nos Estados Unidos, começaram as pressões para a revisão da lei de controle de armas.

O presidente Obama, por exemplo, em discurso emocionado, disse que algo precisava ser feito com urgência para evitar futuros episódios semelhantes e conclamou o Congresso a discutir a questão “sem ideologias”. Portanto, sejamos pragmáticos.

Quem quer que pretenda analisar os fatos e as possíveis soluções de forma racional e objetiva precisa, antes de mais nada, colocá-los em perspectiva.

Muito embora massacres como aquele sejam cruéis e chocantes, é necessário relativizá-los para saber até que ponto uma ação política restritiva das liberdades individuais, francamente conflitante com alguns princípios constitucionais fundamentais da nação americana, seria realmente necessária, urgente e efetiva.

Vejamos então alguns dados empíricos relevantes. No livro “Risco: a ciência e a política do medo”, o jornalista canadense Dan Gardner calculou que a probabilidade de um estudante americano ser assassinado na escola era praticamente irrisória — menos de 1 em 1,5 milhão.

Muitos sequer imaginam, mas nos últimos 30 anos morreram, em média, três vezes mais pessoas atingidas por raios nos EUA do que vítimas de atiradores possessos — 51 a 18 por ano.

Diante desses números, a pergunta lógica é: vale a pena fazer alguma coisa para tentar reduzir ainda mais as chances desses massacres, tendo em vista os eventuais efeitos colaterais indesejáveis dessas medidas? Em outras palavras, será que o tratamento não seria pior que a doença?

Calcula-se que existam na América 310 milhões de armas não militares nas mãos dos cidadãos (mais de uma arma por cabeça), enquanto o índice de homicídios praticados por tais armas é de cerca de 4 para cada 100.000 pessoas, com tendência fortemente declinante nas últimas décadas.

Não se sabe quantos crimes são evitados, todos os dias, por conta do farto arsenal mantido pela população ordeira, mas a lógica nos induz a pensar que tirar do cidadão a prerrogativa de legítima defesa só dará mais vantagem e confiança aos bandidos. Senão, vejamos:

No Brasil, o acesso a uma arma, pelo menos legalmente, é muito difícil, quase impossível. Apesar disso, o índice de homicídios por armas de fogo está na casa dos 20 para cada 100.000 habitantes ou 5 vezes o padrão americano.

Chacinas por aqui também não faltam, vide São Paulo nos últimos meses. A experiência brasileira demonstra, portanto, que dificultar a aquisição legal de armas não é sinônimo de segurança, muito pelo contrário.

Sejamos pragmáticos: alterar a constituição de um país, em vigor de forma eficaz há mais de 2 séculos, por conta de alguns casos isolados, ainda que chocantes, não é uma decisão sensata.

Políticas públicas não devem ser ditadas no calor das emoções, simplesmente para apaziguar os ânimos mais exaltados, até porque boa parte das pessoas não conhece as estatísticas ou vislumbra os possíveis efeitos colaterais de certas políticas.

O clamor público, quase sempre irracional ou manipulado ideologicamente, nunca foi bom conselheiro.

* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

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