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Sem Kombi ou “hot dog” para os pobres

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BERNARDO SANTORO*

kombiEu odeio novelas. E eu odeio particularmente as novelas das nove da noite por um motivo específico: sou obrigado, pela minha esposa, a vê-las. Eu sempre brinco que liberais casados só são livres até a página dois. Pessoas casadas precisam fazer trade-offs até dentro de casa. Esse é um dos meus, onde eu posso ver o programa político ou esportivo a hora que quiser, à exceção de 21:20 às 22:30. Nesse momento, está passando uma novela chamada “Amor à Vida”. Eu sempre tento enxergar as vicissitudes da vida como uma oportunidade ao invés de um fardo. Nesse caso há a oportunidade de me inserir um pouco na cultura popular, ainda que eu esteja mais ligado na internet que na TV quando o programa começa.

Bem, uma das personagens principais, Márcia,  é uma vendedora pobre e suburbana de cachorros-quentes, que os vende, com uma Kombi, no centro de São Paulo, e de onde retira seu sustento, da sua filha e neta, e atualmente até de um protegido.

A maior qualidade moral do livre-mercado é justamente poder proporcionar a pessoas com pouca ou nenhuma qualificação a possibilidade de interagir economicamente com outras pessoas e, dentro das suas parcas habilidades, lucrar e se sustentar provendo serviços que outras pessoas não querem fazer. É o fenômeno da especialização, que é bom tanto para a pessoa muito produtiva, que pode delegar tarefas menos importantes para outras pessoas, quanto para os menos produtivos, que em outra realidade social viveria em condições péssimas, mas nessa conseguem sobreviver com alguma dignidade.

Quanto mais barreiras são postas pelo governo e quanto mais alto se torna o custo de transação dessas trocas voluntárias, mais pobres são excluídos do processo de mercado, justamente por não conseguir arcar com os custos, caindo na informalidade (onde serão continuamente extorquidos por agentes estatais ou máfias privadas) ou na mendicância.

O governo acaba de criar mais uma barreira para os pobres, acabando com a produção das Kombis, veículos grandes, duráveis, resistentes e multifuncionais, que já serviram como transporte de crianças e adultos e até como restaurantes e lanchonetes portáteis, como é o caso da novela. Eu mesmo, durante minha infância, ia de Kombi com o “Tio Carlos” para o colégio. De acordo com o governo, Kombis não são seguras por não terem freios ABS e airbag.

Quando o governo cria esse tipo de barreira, que inibe o acesso de pobres a bens de consumo, ainda que de menor qualidade que outros similares (como a Van), impede que os mais humildes entrem no mercado de trabalho, e com isso os impede de subirem a escada da prosperidade. Toda escada começa com degraus inferiores, mas se o governo as quebra, como chegar aos degraus superiores?

No Brasil moderno, as Márcias da vida não terão mais acesso a Kombis e ao empreendedorismo, só ao bolsa-família.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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Um comentário em “Sem Kombi ou “hot dog” para os pobres

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    19/12/2013 em 2:12 pm
    Permalink

    Acredito que uma coisa importante que também deve ser lembrado, é que até a venda de comida de rua, o governo está regulamentando e dificultando assim a entrada de novos concorrentes, segundo a folha de são paulo:
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    A Câmara aprovou na noite desta quarta-feira (27), em segunda votação, o projeto que regulamenta a venda de comida nas ruas da cidade.

    Com isso, salgadinhos, hambúrgueres, acarajés, tapiocas e churros, por exemplo, poderão ser vendidos desde que aprovados por comissões que serão criadas em cada uma das subprefeituras.

    Com este projeto, os vendedores de comida de rua, terão que ter o (TPU) termo de permissão de rua, que são válidos por um ano, e renováveis por mais um. Porem para renovar eles terão que pagar pela ocupação do espaço. O preço ainda será definido com base na Planta Genérica de Valores (PGV) –que define o cálculo de IPTU na cidade.

    Mesmo quando o comércio for aprovado pela Comissão de Comida de Rua, caberá ao subprefeito liberar ou não as licenças. Cada comerciante terá direito a um único TPU.
    http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/11/1377618-camara-de-sao-paulo-aprova-projeto-que-permite-venda-de-comida-de-rua.shtml

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