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Sem Fronteiras para o engodo – A Universidade de Chicago

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A Globo News apresentou um programa, Sem Fronteiras, sobre a Universidade de Chicago. Todavia, o que se viu foi um espetáculo de reducionismos em prol da falsificação da verdade. Três pontos me chamaram a atenção: (i) dizer que, sobre a crise de 1929, Milton Friedman questionou apenas a demora de ação do FED (Banco Central Americano); (ii) que os estudantes de economia do Chile foram para Chicago após o Governo Pinochet; e (iii) que a crise de 2008 foi a prova de que o pensamento da escola de Chicago estava errado.

Vamos ao primeiro ponto. No programa Open Mind, do apresentador Richard Haffner, de 1975, ao ser indagado sobre a crise de 1929, Milton Friedman foi categórico em afirmar que ela foi causada pelo próprio governo, que reduziu a quantidade de dinheiro disponível para um terço em quatro anos, conduzindo país para uma depressão econômica. Confiram-se as palavras de Friedman:

“There is no doubt that in the Great Depression of the ’30’s many people were not able to take care of themselves. Lots of them. But that wasn’t because they hadn’t been prudent, hadn’t saved, because there was a real problem providing for old age. That was because of the catastrophe called the Great Depression which was itself produced by government mismanagement. The Great Depression didn’t arise out of any natural flaw in the system. It arose because some wise men sitting around in Washington and down here on Wall Street in New York decided to follow policies which reduced the quantity of money by a third over four years, which drove this country into an utterly unnecessary depression. Now, given the conditions you were in ’33, given that the mistake had been made, I have no doubt that major social action was called for. And I really have no criticism to make of the emergency action which was undertaken at that time in the form of WPA, PWA direct relief. I think you had to do it at that time, given the state you were in.”

Vê-se, assim, que o programa Sem Fronteiras não teve o pejo de apresentar um evidente falseamento do pensamento de Milton Friedman. Aparentemente, o jornalista Luiz Fernando Silva Pinto quis vender a ideia de que até Friedman era favorável à intervenção Estatal na economia. A tentativa de deturpar, contudo, foi desmascarada pela fala acima transcrita.

Dito isso, vamos ao segundo ponto, a alegação de que os Chilenos foram para Chicago após a Ditadura de Pinochet. De 1957 até a década de 1970, a PUC do Chile realizou um programa com a University of Chicago. Estudantes de economia da universidade chilena conseguiam bolsas para estudar na universidade americana.

Cerca de 100 alunos participaram do programa, fazendo sua pós-graduação na University of Chicago. Eles voltavam para o Chile e muitos se tornavam professores da PUC, passando adiante o que aprenderam nos Estados Unidos. Com isso, diversas gerações de economistas chilenos – que ficaram conhecidos como Chicago Boys – beberam nas águas do liberalismo. É bom sublinhar que até hoje as duas universidades mantêm uma parceria.

A história é longa e, assim como o Brasil, o Chile passou por uma ditadura militar. O General Augusto Pinochet comandou o país, em um regime totalitário, de 1973 até 1990. Logo, 16 anos antes da ditadura chilena.

Qual era a grande vantagem de estudar em Chicago, avaramente escondida pelo Sem Fronteiras? A dialética em um ambiente de livre pensamento é um instrumento sensacional para testarmos nossas ideias, conceitos e convicções. Só assim, no teste do debate, é que conseguimos evoluir, e, se for o caso, mudar. Talvez esse tenha sido o legado mais importante que a University of Chicago tenha transferido para a PUC do Chile. Milton Friedman promovia constantes debates na universidade americana, muitos deles foram gravados e televisionados – é possível, inclusive, encontrá-los na internet com grande facilidade.

Desfeita mais essa aleivosia, partimos para o meu último ponto, a alegação de que a crise de subprime dos EUA foi causada pelo pensamento da Escola de Chicago. A reportagem de Luiz Fernando Silva Pinto dá a entender que os EUA foram totalmente desregulamentados em razão da Escola de Chicago. Não é bem assim. Uma das maiores normas de regulamentação dos mercados, o Sarbanes-Oxley Act de 2002 (“SOX”), criou uma série infindável de obrigações para quem quer que atuasse no mercado financeiro. As empresas passaram a ter departamentos inteiros para atender aos requisitos de transparência da lei. Eu pergunto, então: isso é livre mercado desregulamentado? Mais: SOX impediu o ocorrido? As respostas, por óbvio, são negativas.

Outro fator curioso: duas empresas de controle estatal, a Fannie Mae e a Freddie Mac foram usadas no governo Clinton para, por meio de linhas de crédito fáceis, anabolizar o mercado imobiliário. Essa bolha, portanto, tem digitais da atuação do Estado para impulsionar a economia. Não foi uma suposta desregulamentação que causou a crise de 2008, mas sim um desenvolvimentismo Estatal. Ou seja, caímos em algo semelhante ao primeiro ponto levantado neste artigo.

Enfim, é uma pena que o Programa tenha sido feito para falsear a história da Universidade de Chicago ao invés de mostrar suas virtudes. Para terminar, é importante destacar que Milton Friedman foi considerado o maior economista do século XX por ninguém menos que o neokeynesiano Gregory Mankiw, titular de economia da Universidade de Harvard. Aliás, o fato de Chicago ter perdido posições no ranking da US News não demonstra, como quis o jornalista, que as ideias estavam erradas. Esse fato é resultado da vitória que transformou o pensamento dos chicagoans em lugar comum, sendo adotado em Harvard, Yale, Upenn, Columbia e outras tantas. É realmente lastimável que o programa tenha sido permeado de engodos para condenar a Escola de Chicago, no intuito de, por via transversa, alfinetar o Ministro Paulo Guedes que estudou lá.

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

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