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Reforma Islâmica

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JOAQUIM NETO *

 

A rigor, religião é uma questão de interpretação dos chamados “livros sagrados”. Os judeus contemporâneos, por exemplo, já não apedrejam mulheres adúlteras, felizmente abandonaram a lei cerimonial (que proibia até tocar em mulher menstruada), e não praticam mais o preceito da lei mosaica que chamamos de “olho por olho”, que é recomendado pela Torá. Os católicos já não queimam hereges em praça pública. Os cristãos já não levam ao pé da letra as censuras do apóstolo Paulo aos judeus; católicos já não se deixam influenciar pelo antissemitismo de Eusébio, o *pai da História da Igreja*, que creditava os sofrimentos dos judeus sob o jugo de Calígula ao “crime que eles [judeus] ousaram cometer contra Cristo”; e os protestantes felizmente relegaram o deplorável livro “Sobre os Judeus e Suas Mentiras”, de Martinho Lutero, ao esquecimento. A Torá continua a mesma, e o Novo Testamento tampouco foi alterado. O que mudou foi a interpretação desses dois livros sagrados através do tempo.

 

O grande problema do islamismo é que, grosso modo, a interpretação do Corão não evoluiu para acompanhar o desenvolvimento intelectual dos nossos tempos. A maioria dos atos chocantes e macabros perpetrados por fundamentalistas islâmicos (e.g., apedrejamentos, degolas, decepamentos, poligamia, etc.) foram praticados pelos israelitas também. A grande diferença é que os judeus evoluíram e os muçulmanos ficaram presos ao Século VII.

Na condição de ateu e liberal não dou muita importância à letra, ou à intenção dos livros sagrados. Para mim o importante é a interpretação e a visão de mundo que se segue. Acredito que os muçulmanos modernos, que interpretam o Corão de maneira mais condizente com os princípios liberais, devem ser apoiados. É pouco provável que um muçulmano ortodoxo se converta à nova verdade imediatamente, ou mesmo depois de algum tempo –  e eu não espero isso. O importante é que esses homens e mulheres – os reformadores do Islamismo – estão plantando para o futuro. E há vários desses reformistas espalhados pela Europa, Estados Unidos, e até na Ásia. Só lamento o fato de não receberem apoio da direita, que tende a não fazer distinção entre muçulmanos pacíficos e terroristas. Com esse tipo de atitude os direitistas empurram os reformadores para os braços da esquerda, como sói acontecer com praticamente todo grupo minoritário.

O Sheik Hazam Yusuf, que considero o maior dos reformistas islâmicos dos Estados Unidos, se considera de esquerda apesar de ter uma visão intelectual que poderia passar como direitista. Assisti, recentemente, um dos seus sermões em que ele parece uma versão islâmica do Billy Graham. A única diferença é a simpatia pela causa palestina, ou melhor dizendo, a preocupação com o sofrimento dos palestinos comuns.

Outra que merece atenção é Irshad Manji, uma feminista que de fato luta pelo direito das mulheres muçulmanas. Poucas vezes vi pessoas com tanta coragem. Mas há vários outros, alguns dos quais se arriscam a ser assassinados pelos islamofascistas. E todos eles buscam abrigo e apoio entre os esquerdistas que ainda trazem vestígios dos ideais iluministas.

Seguem abaixo dois vídeos que merecem ser vistos por pessoas que se interessam pelo assunto. Não é recomendável para pessoas que só querem pescar alguma palavra, ou frase, que não se adapte ao ideário liberal. O primeiro é uma entrevista concedida pela Irshad Manji, e é curto. O outro é uma conferência onde aparecem o Hazam Yusuf e o Tariq Ramadan. Este é longo (Ramadan é loquaz, mas nem sempre coerente). Não concordo com tudo que eles dizem, mas são bem melhores que a alternativa.

https://www.youtube.com/watch?v=4T2ermnOigQ

 

https://www.youtube.com/watch?v=qY17d4ZhY8M

 

*Joaquim Neto é liberal e mora em Los Angeles (EUA)

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Reforma Islâmica

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    17/01/2015 em 10:33 am
    Permalink

    Sinceramente, penso que raríssimas pessoas efetivamente acreditam em deuses ou religiões.
    As religiões são adotadas pelo mesmo critério que se adota um TIME de FUTEBOL para torcer. Não fosse isso e seguiriam a bobagens de seus livros sagrados.

    As religiões são como símbolos a serem ostentados e, sim, nos momentos de sufoco tende-se a convencer-se da crença a fim de não sentir-se tão desamparado e sem esperança.
    Ou seja, as religiões são próteses para os sentimentos.

    Claro que há torcedores que matam e morrem por seus times. Se fanatizam porque o desprezo que sentem por si mesmos os força a se representarem nestes mitos agregantes para coletividades. Assim garantem-se irmanados e queridos numa comunidade. Sentem-se representados por um “algo maior” que suas reles personalidades individuais e querem aceitar que as glórias de integrantes da “comunidade” são glórias das quais pode gabar-se e quantos aos vicios de integrantes da “comunidade” estes são apenas dos indivíduos. Há um tanto de esquizofrênia em torcedores.

    Não é por acaso que símbolos e ídolos e totens, bem como mitos, são características de ideologias coletivistas. Precisam de imagens a cultuar, mesmo que apenas as criem em suas mentes. É esquisito ver alguém se prostar diante de uma imagem como se a falar com ela, quando o personagem a quem se dirige não está ali na imagem sólida.
    Refletir sobre ideias não é tão fácil como cultuar irmanado numa comunidade receptiva com base na afirmação de uma crença ou torcida.
    Veja-se as ideologias como possuem bandeiras, brasões e toda sorte de simbolos e celebridades heróicas a dar-lhes suporte. Esses símbolos concretizam a mitologia tornando-a palpavel.
    Claro que muitos perceberam essa funesta característica humana EMOCIONAL e aproveitaram para obter Poder.

    As PROIBIÇÕES e opressões tão comuns as ideologias não são casuais. Como bem notou George Orwell o Poder se mede IMPONDO CONTRARIEDADES aos SUBMISSOS. Quanto maiores as contrariedades que os submissos suportam, maior é o dominio que os líderes exercem sobre eles. Até o treinamento militar se vale de humilhar os subalternos para acostuma-los a obedecer sem sentirem-se desconfortáveis. Chama-se isso de ADESTRAMENTO.
    No caso militar não há como reagir e a repetição acaba tornando-se algo natural para o subalterno que obedecerá por CONDICIONAMENTO.

    Numa ideologia igualmente se vai adaptando os submissos às contrariedades, ao anti-natureza (Nietzsche), até que o seguidos perde completamente a noção de dignidade individual e obedece sem refletir. Claro que críticas e reflexões sobre a estupidez de uma ideologia, sempre desconexa por ser casuísta, são graves ameaças e quem quer o Poder percebe o quanto podem ser nocivas para a conquista da obediência cega. Vaio daí o repúdio às criticas e a resposta violenta contra elas, conforme INSUFLADO pelas lideranças ideológicas: criticar ideologia alheia é uma HERESIA ou mesmo uma blasfemia, uma ofensa inominável que deve ser repudiada pelo fiel e não por ele refletida.

    Claro que no caso cristão os excessos de crueldade contra os inconformados que peitaram o absurdo ideológico levou a cada vez mais antipatia pelos MEIOS, por mais sedutores que fossem os fins. Não tivesse tido tantas vítimas que ousaram enfrentar a demência ideológica e ainda atualmente estaríamos torturando, apedrejando e empalando adulteras, hereges e etc..
    Cedo ou tarde isso acontecerá com os islâmicos. Os maníacos será um contingente demasiado reduzido e quando os líderes perceberem que estãom perdendo fiéis eles imediatamente reduzirão suas proibições e deliberações sanguinárias: darão alguns anéis para manter os dedos.
    …isso se dá em todas as ideologias: após um periodo de gloriosa violência e anti-natureza, aliciadores, a mente começa a rejeitar tais aberrações que tanta injustiça e atrocidade causa e com isso abrandam os ímpetos das lideranças. Afinal, há um limite que se pode suportar num determinado tempo. A visão contínua dos excessos leva a reflexões inicialmente reprimidas e a tendência é as lideranças abrandarem suas proibições e recomendações dementes. Até as guerras foram atenuadas tal as desgraças que causam.

    Curiosamente os líderes combinam guerras onde, COMO NUM JOGO, se valem de regras e aceitam a derrota dentro das regras estabelecidas para tornar a guerra mais aceitável.
    É absurdo que se trate da guerra como se trata de um jogo. Afinal, nas guerras morrem soldados e civis inocentes e se esta existe por uma causa justa não se haveria de estabelecer regras para um jogo onde muitas vidas combatentes ou inocentes são dolorosamente debilitadas e eliminadas com grande sofrimento para grandes contingentes inocentes enquanto aqueles que CRIAM as GUERRAS permanecem em seus palácios e gabinetes usufruindo de todos os luxos e regalias, para que a população submissa arque com os custos e sacrificios até das próprias vidas para gaudio de “dedicados” governantes sempre ideológicos: ideologias são amontoados de idéias que alardeiam-se o caminho para um “objetivo supremo” e portanto um “FIM REDENTOR” que a tudo justifica e redime.

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