Reflexão primeiro, solução depois
JOSÉ L. CARVALHO*
Sempre que ocorrem eventos inusitados que escapam do cotidiano e que mobilizam a opinião pública, os legisladores procuram as tribunas, sejam nas casas legislativas, sejam na mídia, para propor legislação específica para tratar do problema. De um modo geral, esse comportamento ocorre em todo o mundo.
Recentemente registramos clamores em muitos países para o banimento dos programas de geração de energia nuclear em decorrência do desastre natural que catastroficamente castigou o Japão provocando morte, destruição e vazamentos de material radioativo das usinas atingidas. O horário eleitoral do PV, exibido ao longo da semana passada, explora o ocorrido no Japão para sugerir que o programa brasileiro de energia nuclear seja suspenso. O programa usa como exemplo o desastre natural que se abateu sobre a região serrana do Estado do Rio de Janeiro para criticar o projeto de lei do novo código florestal, atribuindo à catástrofe serrana o desmatamento, embora esse não seja o caso.
O País inteiro acompanhou em estado de choque o ocorrido em Realengo, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. As dramáticas e assustadoras imagens, mostradas pelas emissoras de TV no País e no mundo, geraram nos brasileiros e em particular nos cariocas um misto de impotência, revolta e indignação que parece exigir uma resposta imediata das autoridades.
Os legisladores rapidamente apresentam suas soluções, embora o evento de horror requeira uma reflexão para uma análise mais profunda antes de se buscar soluções imediatistas de modo a dar uma satisfação à opinião pública.
Sarney defende ‘tolerância zero’ na discussão sobre desarmamento
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu nesta sexta-feira a rediscussão da chamada lei do desarmamento e afirmou que o Brasil deveria ter tolerância zero em relação a armas. Ele acredita que é preciso reavaliar a situação, já que em 2005 a população decidiu, em plebiscito, manter a livre venda de armas no país. …
… Quando se permite que existam armas dentro da sociedade com absoluta liberdade, fatos dessa natureza são facilitados. Não é que desapareçam os fanáticos, os desequilibrados de toda espécie, mas, na realidade, temos a obrigação de tirar os instrumentos que eles podem utilizar – disse Sarney. …
A tragédia no Rio de Janeiro foi tema, novamente, da sessão desta sexta-feira do Senado. Ex-ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu a criação de uma Agência de Segurança Escolar.
Uma agência de segurança dedicada à escola, dentro e ao seu arredor. A gente tem que criar uma agência que se preocupe com isso. Não é a PM que é capaz de fazer isso. A PM é capaz de cooperar. E tem que ser dentro do Ministério da Educação, não tem que ser dentro de um ministério repressor. … Temos falado aqui, desde ontem, no assassinato de doze crianças, mas nos esquecemos das crianças assassinadas nos últimos anos individualmente, do professor assassinado por aluno. Nós nos esquecemos dos assassinatos individualizados e só despertamos quando eles são coletivizados – disse Cristovam.
O Sr. Presidente do Senado está equivocado. O psicopata portava armas adquiridas de maneira ilegal e a venda legal de armas no Brasil impõe uma série de exigências, tanto ao comprador quanto ao vendedor. O Senador Cristovam Buarque tangencia o problema da escola pública brasileira e também se equivoca na solução proposta. A Escola brasileira agoniza e a violência que nela emerge – não nesse caso particular – decorre de uma combinação de fatores que prosperam com sua burocratização, com a necessidade de produzir boas estatísticas e estar de conformidade com o politicamente correto. Somente com liberdade a Escola cumprirá seu papel e os pais serão responsáveis pela educação de seus filhos.
*VICE-PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL
N.E.: Leia no ILBlog: “Pais têm que ter voz na educação dos filhos”
Ref. imagens: Wikipedia