Procurador só de primeira classe
BERNARDO SANTORO*

Patrimonialismo é um conceito muito difundido na prática pública brasileira e pouco discutida. Seria a confusão entre os bens públicos e privados feitos pelo governante, de forma que ele usa o bem público como se dele fosse e gasta sem nenhum pudor ou consideração pela população que efetivamente banca os custos do uso do bem.
Um claro episódio de patrimonialismo ocorreu nesta semana, no primeiro dia após a posse do novo Procurador Geral da República, chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot. Ele garantiu a seus colegas de carreira o direito de viajar ao exterior em classe executiva, espaço com mais conforto aos passageiros nas aeronaves, diferenciando os procuradores dos demais servidores do órgão, que viajarão de classe econômica.
A frase mais engraçada foi do Sub-Procurador Brasilino Santos, ao comparar a situação de um procurador com a de um ministro de estado: “ou é Procurador da República ou é descamisado. Tem que separar as coisas”.
Será que o problema não está no fato de ministros de estado também usarem e abusarem do dinheiro público? Qual o problema dessa gente andar de classe econômica? Isso não é demérito nenhum. Praticamente todas as pessoas no Brasil andam de classe econômica. E governantes estrangeiros realmente conscienciosos do custo da máquina pública dão exemplo de corte de gastos, especialmente numa época econômica tão ruim.
Essa frase do sub-Procurador me lembra até a velha frase “calça de veludo ou bundinha de fora”.

E fica a questão: se o Ministério Público Federal, que era o depositário da confiança pública para fiscalizar e manter a ordem no governo, trata o dinheiro público dessa maneira, que moral terá para investigar abusos patrimonialistas dos poderes executivo, legislativo e judiciário?

No final das contas, o excesso de dinheiro público contamina a todos e não salva ninguém.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL