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Por que MBL e similares não estão nas ruas exigindo a saída de Temer?

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Este questionamento é o preferido de 9 entre 10 setores da esquerda nacional na atualidade. Ora, se as organizações de ativismo político que insuflaram o processo que culminou no impeachment de Dilma Rousseff o fizeram porque pretendiam erradicar a corrupção da administração pública, porque não seguem eles em sua empreitada contra Michel Temer desta feita, diante das revelações feitas pelos irmãos “esley”? – indagam em tom debochado e presunçoso, como quem pegou na contradição o adversário.

Pior: nesta brincadeira, eles logram deixar com a pulga atrás da orelha até mesmo pessoas que sequer nutrem qualquer simpatia por tais alas amortadeladas da sociedade, em virtude da aparente incoerência revelada pela indagação, conseguindo faze-las acreditar, destarte, que a ex-presidenta teria sido mesmo, quem sabe, vítima de uma comunhão de interesses espúrios entre os movimentos “coxinhas” e políticos “de direita”.

Mas o que essa galera de boné do MST ignora (ou finge que não sabe) é que a conjuntura é totalmente diversa daquela que motivou milhões de pessoas a apinharem as ruas do Brasil em 2015 e 2016. E não há como desprezar, em um debate honesto, que o principal ingrediente das campanhas reivindicatórias é o descontentamento das massas, o qual pode ser tão somente canalizado (e nunca criado) por entidades como MBL, Vem pra rua e congêneres.

Senão vejamos:

1) O caos econômico como “efeito colateral” para a reeleição de Dilma: 

Tão logo dona Vana assegurou mais quatro anos de mandato (em tese), o “dique” que continha a iminente recessão combinada com inflação e juros altos  – a incompreensível (para os keynesianos) estagflação – teve que ser levantado. O resultado foi uma avalanche de deterioração dos índices econômicos e sociais em uma velocidade jamais vista.

A intervenção promovida pelo PT na economia para camuflar o real estado de nossas contas públicas cobrou seu preço, na forma de desarranjos que precisaram ser corrigidos assim que o TSE confirmou a vitória do 13 na corrida presidencial.

Leandro Roque, do Instituto Mises Brasil, palestrou sobre o tema e demonstrou, passo a passo, como a vida do brasileiro foi duramente atingida pela manobra eleitoreira – além de deixar claro o quão bem configurados restaram os crimes de responsabilidade que motivaram o pedido de impedimento.

O resultado foi que nosso povo passou a ver com profundo desgosto o governo que lhes fez cair no conto do vigário desenvolvimentista. Este sentimento rapidamente transformou-se em disposição para vestir verde e amarelo, dirigir-se às principais praças e avenidas e pedir a saída daqueles que lhes ludibriaram visando obter seu apoio diante da urna –  por meio do famigerado “estelionato eleitoral”.

Michel Temer, a seu turno, antes mesmo de assumir a chefia do Executivo Federal, propôs a adoção de providências visando reverter a tendência de degradação dos indicadores econômicos, por meio de sua conhecida “Ponte para o Futuro” – carta de intenções do PMDB que, apesar de alguns problemas conceituais (como ainda focar no Estado e não nos agentes privados a condução da economia e a recuperação dos setores produtivos), representava um significativo alento ao propor limites orçamentários (os quais, em certa medida, seriam estendidos aos estados) e reformas estruturantes diversas.

Como resultado das ações deste programa, inflação e juros vinham em queda vertiginosa, o desemprego começava a dar sinais de arrefecimento e a previsão do PIB de 2017 era acalentadora. Some-se a isso a liberação de saque de contas inativas do FGTS e temos que o panorama financeiro que se desenhava no horizonte, após a troca de comando em Brasília, passou a parecer menos feio.

E como sabemos que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso, é natural que a ira dos brasileiros contra o vice de Dilma tenha se tornado menor em comparação com a titular da chapa.

“Mas e o Cunha?”. Bom, esta pergunta viria a ser respondida com veemência logo na sequência, e também serviria para acalmar os ânimos daqueles que protagonizaram as maiores manifestações de nossa história.

2) A Lava Jato não apenas continuou a pleno valor, como atingiu PSDB e PMDB: 

Ficou demonstrado por conversas interceptadas durante investigações (e seria ingênuo imaginar algo diferente) que o desejo unânime da classe política, independente da filiação partidária, sempre foi enterrar a Lava Jato. Mas o fato é que as investidas contra a operação que conta com o apoio quase maciço de nossa população sempre deram n’água, e ela, ao contrário do que previam alguns, seguiu sua sina de encarcerar figuras de alto relevo do capitalismo de compadrio, recuperar dinheiro dos pagadores de impostos e sinalizar para um futuro sonhado com menos corrupção.

Mas Sérgio Moro e os demais magistrados e autoridades encarregados da nobre missão de saneamento institucional foram além: ao mandar para trás das grades personalidades como Sérgio Cabral e (principalmente) Eduardo Cunha, deixaram claro que não havia motivações ideológicas como fio condutor da operação.

Agora que esta aproxima-se de engaiolar também caciques do PSDB e até mesmo o Presidente da República entra no radar, fica mais difícil ainda de questionar a isonomia de seus membros e sua capacidade de resistir, ombreados com a sociedade, ao empuxo daqueles desacostumados com o fiel cumprimento da lei.

Os últimos eventos armagedônicos, aliás, ajudam a entender (ao contrário do que se poderia imaginar) ainda melhor porque a Avenida Paulista não está tomada de ponta a ponta nos dias de hoje.

3) Existe forte expectativa de que Temer seja apeado do cargo em breve:

Façamos uma comparação histórica entre dois episódios que guardam bastante semelhança entre si: o áudio do “Bessias” e o “entrapment” armado por Joesley Batista em que caiu Michel Temer.

No primeiro caso, havia fortíssimos indícios de que Dilma havia nomeado Lula como Ministro-chefe da Casa Civil para evitar sua prisão, que já havia sido requerida pelo promotor Cássio Conserino – quadro que se agravou com o envio do processo para Curitiba. Tanto foi assim que o STF, no arrazoado em que anula a posse do petista no cargo, alega que o desvio de finalidade do ato administrativo restou evidente.

E o que fez o Procurador-geral da República diante do fato? Nada vezes nada. Assistiu passivamente a mandatária máxima da nação tentando interferir na independência entre os Poderes.

No segundo caso, muito embora o trecho do diálogo entre Temer e Joesley seja inconclusivo para fins de caracterização do crime de obstrução da Justiça (como até mesmo a Folha de São Paulo precisou admitir a posteriori), a conversa totalmente inapropriada somada com as demais informações fornecidas por delatores torna muito verossímil a suspeita de envolvimento daquele com os esquemas desonestos descortinados.

E o que fez o Procurador-geral da República diante do fato? Ora, fez o certo: solicitou à Suprema Corte abertura de inquérito contra o Presidente. Caso ele entenda, ainda, que há evidências consistentes o suficiente, poderá denunciá-lo ao mesmo tribunal, ocasião em que, caso seja aceita a denúncia, Temer ficará afastado por até seis meses para responder ao processo. Em sendo condenado, perderá o cargo automaticamente.

Ou seja, as instituições, no momento presente, estão cumprindo seu papel – melhor do que de costume, como pôde-se observar. Os termos demasiadamente benéficos aos criminosos constantes do acordo de delação premiada em questão não retiram, em absoluto, a gravidade do que foi desnudado.

Acrescente-se ainda neste caldo que o TSE, em julgado recente, afastou de imediato o governador do Amazonas José Melo (o qual precisará recorrer da decisão já fora do posto) em ação de cassação eleitoral, e tal precedente deve vir a balizar o iminente julgamento da chapa Dilma/Temer, gerando perspectiva, portanto, de que o patrocínio da Odebrecht à campanha vencedora em 2014 (com dinheiro do BNDES) não passará impune.

4) E quanto à possibilidade de impeachment?

Aqui cabe também comparar a (curta) jornada de Dilma em seu segundo mandato com a nada mole vida atual de Temer.

Naquela ocasião, era necessário exercer forte pressão sobre Eduardo Cunha, o qual engavetou dezenas de pedidos de afastamento de Dilma e chegou a afirmar, em entrevista logo após assumir a presidência da Câmara, que “arquivaria de ofício” todos os documentos do tipo que lhe fossem apresentados.

Este só “mudou de ideia” quando se viu ameaçado por um processo na comissão de ética por ter mentido sobre suas contas na Suíça (camufladas sobre o manto de trust). Traído pelos Deputados do PT que poderiam salvá-lo da cassação – os quais não toparam queimar seu filme em prol de Dilma -, resolveu dar início ao processo de impeachment, aproveitando, no caso, o clamor que vinha das ruas – fomentado pelo descrito no item 1.

Rodrigo Maia, a seu turno, também já adiantou que não dará seguimento a pedido de impeachment algum, e somente o imponderável (de novo) poderá convencê-lo do contrário. De qualquer forma, será que vale a pena mesmo esperar mais seis meses (seguindo o rito estabelecido pelo STF em 2016), com o país em compasso de espera, para somente então convocar eleições indiretas – reduzindo a pouco menos de um ano o mandato do presidente tampão? Há controvérsias.

5) Então que peçam a renúncia de Temer, ora bolas:

O MBL (Movimento Brasil Livre) até pretendia fazê-lo (como pediu para Dilma igualmente, sem sucesso), mas decidiu recuar na posição de pedir a renúncia de Temer, afirmou seu coordenador Kim Kataguiri. “Há motivo de sobra para investigar Temer nos áudios, mas eles são inconclusivos”, afirmou. “Vamos suspender a posição pró-renúncia até que surjam novas informações.” Difícil discordar da prudência do rapaz.

Já o Vem Pra Rua suspendeu a convocação que havia feito para atos com a mesma motivação alegando motivos de segurança. O movimento promete nova data de manifestação, ainda não marcada.

Ou seja, a renúncia de Temer (ou sua saída por qualquer outro método mais viável), combinada com a escolha de um nome que possa dar continuidade na aprovação de alterações legislativas que permitam sanear as contas públicas e incrementar a produtividade nacional, é reconhecida por estes grupos como a solução menos traumática para o impasse que vivemos. E eles, tudo leva a crer, darão sua contribuição tão logo seja possível, desejável ou mesmo necessário.

Conclusão: Engana-se quem imagina que liberais e conservadores estão contentes em fazer sucessivas concessões à Esquerda “limpinha” e não  truculenta – também conhecida como social-democracia – pensando em progredir passo a passo, sem comprometer os avanços no longo prazo. Mesmo ciente de que a política é a arte do possível, há horas em que aturar esta Esquerda “moderada” no poder (da qual também faz parte o PMDB), na falta de opções mais condizentes com sua própria visão de mundo, cansa, e muito.

Esta situação perpetua-se há demasiado tempo, como demonstra Olavo de Carvalho em artigo de 2006:

A “extrema esquerda”, apresentada como “o” inimigo, não era na verdade o alvo visado, mas apenas a mão esquerda do plano. O verdadeiro alvo era o livre mercado, que deveria perecer sob o duplo ataque de seus inimigos e de seus “defensores” os quais, usando o espantalho da revolução comunista, o induziam a fazer concessões cada vez maiores ao socialismo alegadamente profilático da esquerda “boazinha”.

Ou seja, não pense aquele pessoal com o boné do MST que a Direita (de verdade) está satisfeita com esta palhaçada que se tornou o noticiário político. Ela quer ver bandidos na cadeia (todos, sem exceção) e que o país possa seguir seu rumo apesar de tudo, nem que seja aos trancos e barrancos.

E você, companheiro? Quer ver Lula na cadeia? Vai apoiar “Diretas Já” em Cuba e na Venezuela? Perguntas retóricas, fique tranquilo…

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Ricardo Bordin

Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os empreendedores. Formado na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) como Profissional do Tráfego Aéreo e Bacharel em Letras Português/Inglês pela UFPR.

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