O Efeito Cantillon, nomeado em homenagem ao economista Richard Cantillon, é uma teoria econômica que lança luz sobre as dinâmicas da distribuição de riqueza em uma economia. Essa teoria, que encontra raízes sólidas na tradição da economia austríaca, revela uma preocupação fundamental para aqueles que valorizam a propriedade privada e a economia de mercado. Como argumentado por Murray N. Rothbard, em sua obra Homem, Economia e Estado, a propriedade privada é o alicerce moral da economia de mercado, e qualquer ameaça a esse princípio fundamental deve ser examinada com cautela.

Segundo Rothbard, a propriedade privada é uma extensão natural do direito de autopropriedade, o direito inalienável que cada indivíduo tem sobre si mesmo. A partir desse direito, os indivíduos adquirem a propriedade através do trabalho e do uso pacífico dos recursos disponíveis. No entanto, o Efeito Cantillon questiona essa relação harmoniosa entre trabalho, propriedade e economia de mercado.

Quando uma entidade, como um banco central, inflaciona a oferta de dinheiro, os primeiros beneficiários desse novo dinheiro desfrutam de vantagens consideráveis. Eles têm o privilégio de adquirir ativos antes que os preços subam, capitalizando sobre a inflação antes que seus efeitos prejudiciais se propaguem por toda a economia. Esses primeiros beneficiários, frequentemente instituições financeiras, estão em uma posição privilegiada para acumular riqueza.

No entanto, à medida que o dinheiro inflacionado se espalha pela economia, os preços começam a subir, afetando diretamente aqueles que não tiveram acesso precoce a esse dinheiro recém-criado. A propriedade privada e o poder de compra desses indivíduos são erodidos, comprometendo a base moral da economia de mercado.

O cerne do argumento reside na noção de justiça. A economia de mercado, que valoriza a propriedade privada e as trocas voluntárias, pressupõe uma distribuição justa dos benefícios e custos das transações econômicas. O Efeito Cantillon, porém, subverte essa justiça, criando distorções e desigualdades que ameaçam o cerne da economia de mercado. Aqueles que possuem o poder de criar dinheiro de forma privilegiada estão em posição de distorcer as trocas voluntárias em seu próprio benefício, prejudicando o direito à propriedade privada daqueles que não possuem tal privilégio.

Em síntese, o Efeito Cantillon representa uma ameaça à propriedade privada ao minar a justiça e a moralidade fundamentais da economia de mercado. A influência da inflação e da manipulação monetária sobre a distribuição de riqueza desafia a igualdade e a equidade subjacentes ao conceito de propriedade privada. À luz da tradição liberal e da economia austríaca, é crucial reconhecer e confrontar essa ameaça, pois a preservação da propriedade privada é essencial para a manutenção de uma sociedade baseada em princípios de justiça, liberdade e prosperidade para todos.

*Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.