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Moro, Lewandowski e o país dos insanos

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Certas coisas são absolutamente normais em nossa republiqueta. Em uma democracia liberal que mereça tal denominação, provocariam espanto e indignação totais. Porém, vivemos no Brasil. Se as pessoas não se revoltam quando a Suprema Corte – aquela cuja atribuição é zelar pela Constituição – mantém um inquérito ilegal a perseguir seus críticos, o resto é fichinha.

A escolha de Ricardo Lewandowski pelo presidente Lula para chefiar o ministério da Justiça é uma dessas coisas. Um ex-ministro do STF como subordinado do governo de ocasião é coisa típica de uma República das bananas. O caso envolve muitas nuances e vou esmiuçar cada uma delas – até mesmo a comparação envolvendo o senador Sérgio Moro (UNIÃO-PR).

Bom, vamos lá. Ao aceitar tal convite, o ex-ministro Lewandowski coloca em xeque toda a credibilidade da sua atuação enquanto magistrado do STF. Ele proferiu votos em decisões envolvendo o próprio presidente Lula: o pedido de habeas corpus preventivo em 2018, a prisão após condenação em segunda instância – Lula foi solto após o Supremo rever seu entendimento – em 2019, a declaração de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro em 2021 e a anulação das condenações do petista no mesmo ano. Lewandowski votou favorável ao seu agora chefe em todos esses casos. Em momento algum houve qualquer divergência com o líder supremo das esquerdas. Que coincidência, não?

Ah, eu nem contei com outros fatos que deixaram cristalina a predileção ideológica – e partidária – do ex-ministro. Quem não se lembra dos entreveros entre Ricardo Lewandowski e o também ex-ministro Joaquim Barbosa no julgamento do Mensalão? A postura de Lewandowski em nada deixava a desejar aos advogados dos réus. Utilizando os argumentos mais inacreditáveis possíveis, ele tentou aliviar a barra de corruptos petistas como José Dirceu e José Genoíno. Tal fato indignou Joaquim Barbosa, tido na época como um carrasco do PT. Além disso, houve a sessão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, na qual Lewandowski ignorou o artigo 52 da Constituição e “deu uma colher de chá” para ela: fatiou a votação em duas partes, resultando na preservação dos direitos políticos de Dilma – o art. 52 é claro ao falar na sua inabilitação por oito anos.

Tudo isso para Lewandowski virar funcionário de Lula após a sua aposentadoria como ministro do STF. Quem desconfiar da sua atuação pretérita como magistrado será incluído em algum dos inquéritos do fim do mundo? Eis uma pergunta sincera, pois neste país as coisas mudam ou deixam de valer conforme a conveniência e a vontade dos donos do poder.

Pois bem, todos lembram o escarcéu feito pelas esquerdas quando o então juiz Sérgio Moro aceitou ser ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro. Tal movimento foi anunciado após a eleição presidencial de 2018. Seria a prova, na visão dos acólitos lulistas, de que Moro era suspeito para julgar – e condenar – Lula, pois aceitou um cargo na gestão do principal adversário do petista. Além disso, tirou-o da corrida eleitoral e possibilitou a vitória de Bolsonaro – quem viveu bem o contexto político daquela época sabe que tal alegação é totalmente absurda.

Essas mesmas pessoas agora se calam com a ida de Lewandowski para a mesmíssima pasta. Ou mesmo saúdam a escolha do presidente Lula! É uma graça. Moro era símbolo da Lava Jato, operação demonizada pelos garantistas de ocasião. Digo isso porque eles inflaram o pleito e gritaram aos quatro cantos do planeta Brasil que os integrantes da força-tarefa violavam direitos e garantias fundamentais, além de escorraçar o devido processo legal; mas o STF não fez precisamente isso com os inquéritos intermináveis com propósito claríssimo de criminalizar uma corrente política e uma opinião ideológica? Aí os heróis que não suportam injustiças aplaudiram os togados responsáveis por essa parafernália institucional. Quanta coerência…

Em tempo: isto aqui não é uma defesa de Sérgio Moro. Ele está sofrendo uma perseguição do establishment que já era pedra cantada – o capítulo mais recente é a sua provável cassação pelas autoridades eleitorais. Porém, tal expurgo não o torna um herói. Seus métodos utilizados na Lava Jato abriram a caixa de pandora para outros togados mais desavergonhados tocarem fogo no país. Tanto é que Moro apoiou o STF em inúmeras ocasiões quando a estabilidade da nossa República – ainda temos uma? – foi ameaçada pela caneta de algum ministro.

Nada disso será notado na grande mídia. Uma parte já virou assessoria de imprensa do governo desde a sua posse, e a que não virou ainda parece mais preocupada em normalizar o absurdo que é apresentar a realidade dos fatos – modus operandi conhecido por jornalismo, em extinção por aqui. No país dos insanos, é absolutamente normal mudar de convicções, partido ou mesmo a própria personalidade por interesses rasteiros. Perto disso, o que é um ex-ministro da Suprema Corte ter livrado a barra do atual presidente em ações pretéritas e logo depois virar seu funcionário? Tenho pena de quem tem a necessidade de defender isso. Graças ao meu bom Deus, não é o meu caso.

Referências:

1.https://g1.globo.com/politica/noticia/stf-julgamento-habeas-corpus-lula-4-de-abril.ghtml

2.https://www.poder360.com.br/justica/stf-proibe-prisao-apos-condenacao-em-2a-instancia-e-beneficia-lula/

3.https://www.conjur.com.br/2021-jun-23/moro-suspeito-julgar-lula-decide-stf-votos/

4.https://www.cnnbrasil.com.br/politica/maioria-do-stf-decide-por-anular-condenacoes-de-lula-na-lava-jato/

5.https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10634428/artigo-52-da-constituicao-federal-de-1988

6.https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2023/07/u201cnao-e-esse-o-caminho-u201d-diz-moro-sobre-ataque-a-alexandre-de.html

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Carlos Junior

Carlos Junior

É jornalista. Colunista dos portais "Renova Mídia" e a "A Tocha". Estudioso profundo da história, da política e da formação nacional do Brasil, também escreve sobre política americana.

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